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A monstruosidade

Os atentados em Paris não são um ato de guerra. São uma monstruosidade. Atacar populações civis não é guerra, é cobardia e é abominável.

As vítimas são sempre todos. Os muçulmanos de Paris ou quem não tem religião. Quem assiste ao jogo de futebol ou quem o ignora. Quem gosta de Hollande e quem o detesta. Quem sabe onde é a Síria e quem nunca olhou para um mapa. Quem acolhe os refugiados do Afeganistão e quem tem medo deles. Todos.

Mas, se as vítimas são todos, então esta ato não é guerra, é fuga.

Sei que o mesmo se pode dizer de outros bombardeamentos de populações civis. Tem sido assim no Iraque como na Síria. Foi assim na Líbia e no Afeganistão. Não é o facto de não haver câmaras de televisão que contem os mortos ou mostrem o sofrimento que diminui a monstruosidade. Sei que o mesmo se deve dizer dos ataques de Erdogan contra as cidades curdas. A monstruosidade.

É precisamente a reivindicação da humanidade contra a monstruosidade que exige, por isso, a inteligência da resposta. Em nome da sociedade e da democracia, o combate ao terror deve erradicar as suas cumplicidades, os seus negócios, as suas armas, os seus fanatismos, as suas bases e as suas ligações, os seus mandantes e os seus agentes. A cultura do ódio é o contrário da inteligência e exigência da humanidade. Basta de criar guerras para justificar as guerras.

A guerra infinita nunca vence. Também nunca perde. Exceto para as vítimas. Todos, agora, contra a monstruosidade.

Artigo publicado em blogues.publico.pt a 14 de novembro de 2015

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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