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A culpa é nossa

O povo da Palestina comete o enorme crime de existir e ainda tem a lata de resistir.

Uma sensação de mal-estar que me acompanha desde há muito começa agora a fazer-se mais clara e evidente. A culpa, companheir@s, a culpa.

Sou culpado de muita coisa… Voltei a lembrar isso quando me senti identificado com centenas de activistas pelos direitos humanos que foram brutalmente atacad@s por forças de elite do exército israelita. Se o delito é a solidariedade, a coragem e a dignidade, sejamos culpad@s, pois.

Mas mais culpado é o povo da Palestina que comete a atroz infâmia do desejo de liberdade! Quem lhes manda? Quererem ser livres e romper aquele cerco que lhes aperta a alma a cada dia que passa? Quem lhes manda terem fome e não terem nada para comer? Quem manda àquelas crianças quererem brinquedos que vinham na ajuda humanitária? O povo da Palestina comete o enorme crime de existir e ainda tem a lata de resistir.

Israel tem bons planos para eles, como ficou evidente na “Operação Chumbo Fundido”: transformar a Faixa de Gaza num enorme campo de concentração. Não esqueçamos, o povo da Palestina é culpado. Já anteriormente, em 2001, Ariel Sharon e Meir Dagan iniciaram esse castigo. Meir Dagan, agora chefe da inteligência israelita continua a administrar justiça e dor neste povo. E envolveu-se neste ataque à Frota da Liberdade, que já de si tem um nome difícil de suportar para este justiceiro.

Para reforçar este delito, foram-nos apresentadas provas: porta-chaves, uma faca para escamar peixe (ter isto num barco é imperdoável) e até crianças, imagine-se! Sabemos bem do que são capazes esses fedelhos. Então toca a meter tod@s @s activistas em centros de detenção em Israel, 682, de 42 nacionalidades diferentes – solidariedade e internacionalista, onde é que já se viu? – para lhes apreender as boas intenções e o altruísmo. Depois de receberem uma lição, estão agora a ser libertad@s, em diferentes lugares.

Mas peço desculpa por aquilo que sou: irremediavelmente teimoso e incapaz de aprender quando me dão um raspanete, ou uns sopapos. Sei que o vosso plano é mais importante que os meus caprichos.

Sei qual é o vosso plano. Isolar o povo da Palestina. Isso é evidente desde há muitos anos. Dominar a região e tentarem calar os vizinhos. Talvez por isso as últimas manobras militares com a Grécia e, ao que parece, com a NATO. Talvez por isso a cumplicidade de Obama, que critica com meio dente e com outro meio esconde muita coisa. De Obama entenda-se, da sua administração falamos, como ficou claro pela visita e o encontro ao mais alto nível do chefe do gabinete da Casa Branca, Rahm Emmanuel com Benjamin Nethanyau.

Então peço desculpa se o meu lado humano me obriga a ser provocativo, como o fizeram @s activistas que vos fizeram essa infame cilada e puseram Israel em maus lençóis na cama da diplomacia.

Sou culpado de muita coisa. Sou culpado por me indignar com as desculpas cínicas de imensos dirigentes como Bernard Kouchner, entre outros. Somos culpad@s por denunciar a entrada de Israel na OCDE e abrir-lhes as portas da impunidade, que verdade seja dita, estão abertas há muito tempo.

Sou culpado por isto, por ter estado na manifestação de sábado passado contra o PEC e querer estragar os planos a Sócrates e ao patronato.

Sou culpado por não me calar e denunciar a violência policial indiscriminada contra manifestantes e mais culpado sou por achar que @s polícias são também trabalhadores/as com direito a terem direitos.

Sou culpado por achar os homens se podem casar com homens e mulheres com mulheres e, imagine-se, que devem adoptar, porque o amor e o acolhimento são sentimentos inerentes de seres humanos independentemente daquilo que fazem na intimidade.

Sou culpado por perceber que há mais de 400 mil imigrantes que pagam impostos, segurança social, mais vistos e que é uma injustiça não terem o direito de votar.

Sou culpado de muita coisa, a minha lista de crimes é algo de me posso orgulhar, algo que leva tanta carga humana e colectiva, tanta razão transmitida por tanta gente tão grandiosamente culpada, cúmplice, que cá dentro as minhas vísceras se torcem. Torcem-se com força, dão-me força e coragem e vontade de gritar, como o fez um dia um cantor, que de tanta razão e dignidade até lhe doíam as tripas: A CULPA É VOSSA! A CULPA É VOSSA! A CULPA É VOSSA!

Sobre o/a autor(a)

Activista anti-racista
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