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A responsabilidade é de quem a apanhar
Desde o início, foi esta a estratégia. O Governo não decidiu a resolução do BES, mas congratula-se com a decisão do Banco de Portugal. Não se envolveu no processo, mas garante que não trará custos para os contribuintes. Não escolheu criar o Novo Banco mas assegura que será vendido rapidamente. Se correr bem, que bom será anunciar a boa nova e recolher os louros. E se correr mal? O Banco de Portugal que assuma, afinal, foi para isso que Carlos Costa foi reconduzido, apesar das críticas unânimes à prestação do regulador no caso BES.
Acontece que correu mesmo mal. O valor do Novo Banco está muito, mas muito longe dos 4.900 milhões que foi necessário injetar. E sim, 1.000 milhões são perdas dos bancos, mas os restantes 3.900 milhões pertencem ao Estado. E é bom de lembrar que isso foi decisão da ministra das Finanças, que por isso se tenta defender dizendo que se trata apenas de um empréstimo. E é verdade, mas o empréstimo era a dois anos, e um já passou. A banca já disse que não pode assumir os custos, e o Governo, que impôs perdas a todos para salvar o BES, não vai agora correr o risco de pôr em causa a estabilidade de todo o sistema por causa da sua decisão.
De uma forma ou de outra o assunto é melindroso. Implica explicar porque é que, mais uma vez, se vai aumentar o défice para salvar a banca, porque é que não se fez nada para alterar a lei, porque é que se mentiu ao dizer que não haveria custos. Enfim, toda uma panóplia de perguntas incómodas em altura de campanha. O melhor, por isso, é adiar a venda. O Governo defende-se então com a velha estratégia: a decisão é do Novo Banco, do Fundo de Resolução, do Banco de Portugal, é de quem a apanhar, mas não é nossa.
Acontece, infelizmente, que o dono do Novo Banco é o Fundo de Resolução, que é uma entidade pública. Quem manda no fundo é a sua administração, nomeada pelo Ministério das Finanças e pelo Banco de Portugal. O Ministério é do Governo, e o banco uma entidade pública. Não é preciso muito mais para chegarmos à conclusão que é tudo... Estado. Ou seja, dinheiro de todos nós, contribuintes.
Por fim, é preciso dizer que também correu mal para os lesados, a quem foi prometido tudo e o seu contrário, terminando em grande com Pedro Passos Coelho a lavar as mãos como primeiro-ministro, mas a prestar toda a sua solidariedade enquanto cidadão para uma ação judicial contra o Estado português (do qual é uma das principais figuras). A conclusão é mesmo essa. Pedro Passos Coelho é mais útil ao país se não for primeiro-ministro.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias”, em 15 de setembro de 2015
Comments
MM
MM
O texto está como sempre construído com muito grande qualidade.
Apenas fico com uma dúvida, ou dúvidas, sobre quais seriam as melhores maneiras para termos soluções adequadas, desde logo diferentes do que o que aconteceu com o BPN, que não parece ter sido um bom exemplo.
Boas e assertivas ideias.
Cumprimentos,
PF
Excelentíssima, Mariana
Excelentíssima, Mariana Mortágua.
Em resumo.
Neste país antes do 25 de Abril de 1974 existia um ditador que mandava nisto tudo, até mandava mais do que os ricos, os capitalistas. Estes não estavam satisfeitos com o regime, o regime fascista não os favorecia suficientemente. Então, foi necessário derrubar a ditadura vigente. Como? Prometendo a Democracia, a modernização do país, e a instauração de um regime político livre e socialista. Volvidos 41 anos de democracia e liberdade, o que se verifica é que quem ficou ainda melhor foram os capitalistas que passaram a mandar nisto tudo, mais do que os próprios governantes.
Sempre a considerar.
Basílio Feiteira.
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