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Refugiados: Hungria, a face brutal da União Europeia

Milhares de pessoas refugiadas estão bloqueadas nos comboios da Hungria, em Budapeste e Bicske. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, de extrema-direita e filiado no PPE, justifica-se dizendo que Merkel não quer que ninguém deixe “a Hungria sem ser registado”. O presidente do conselho europeu, Donald Tusk, afirma: “Orbán tomou medidas para fortalecer as fronteiras da União Europeia". #welcomerefugees
Refugiados bloqueados em Bicske, na Hungria, próximo da fronteira com a Áustria - Foto de Herbert P. Oczeret/flickr

Autoridades húngaras enganam refugiados e bloqueiam-nos em Bicske

Centenas de pessoas refugiadas tomaram um comboio em Budapeste, com intenção de seguirem para a Áustria. Porém, na localidade de Bicske, perto da fronteira com a Áustria, o comboio foi bloqueado pela polícia húngara e todas as pessoas foram obrigadas a abandoná-lo. As pessoas que não eram imigrantes ou refugiados puderam seguir noutro comboio. Em Bickse há um chamado centro de detenção de imigrantes e é intenção das autoridades húngaras levar os refugiados para lá.

Alguns dos refugiados tentaram fugir, foram perseguidos e agredidos pela polícia da Hungria. Muitos outros resistiram a sair do comboio e todos resistem a ir de autocarro para o centro de detenção.

As cenas dramáticas são registadas pela comunicação social, como se pode ver neste tweet:

 

O novo muro da Hungria

Durante décadas, e até há cerca de 25 anos, a Hungria fez parte da “cortina de ferro” que impedia os europeus de leste de circularem para Europa Ocidental.

Atualmente, a Hungria governada pela extrema-direita da Fidesz, que fomenta o ódio contra os imigrantes, constitui um novo muro à passagem do leste para o ocidente.

A Fidesz é o partido do primeiro-ministro Viktor Orbán e pertence ao Partido Popular Europeu (PPE), tal como o PSD de Passos Coelho ou a CDU de Angela Merkel. Na fronteira com a Sérvia, o governo húngaro mandou construir uma vedação de 177 km, para impedir a entrada de imigrantes e refugiados. Nos últimos dias, impede milhares de pessoas, em fuga das guerras da Síria e do Médio Oriente, de apanharem comboio para a Europa ocidental.

 

“Cancelados todos os comboios para a Europa Ocidental”, era o anúncio dos monitores da estação de caminhos de ferro de Budapeste, como se pode ver abaixo.

Alberto Sicilia (Principia Marsupia) assinala: “Comboios cancelados aqui em Budapeste. Paraíso total para as máfias. Num dia o preço para passar para a Áustria duplicou (600 euros por pessoa).

Milhares de pessoas continuam na estação de caminhos de ferro, impedidas de circular e preparam-se para dormir mais uma noite naquela estação de comboio.

 

Orban tomou medidas para fortalecer as fronteiras da União Europeia”, diz Tusk

Viktor Orbán esteve nesta quinta-feira, 3 de agosto, em Bruxelas, onde afirmou que foi Angela Merkel que pediu às autoridades húngaras para “registar todos” os refugiados que chegam à Hungria.

No seu discurso, o primeiro-ministro húngaro, filiado no PPE, que regularmente lança o ódio contra os imigrantes, declarou: "Na Hungria estamos cheios de medo. Os europeus estão cheios de medo, porque o que vemos é que os líderes europeus - entre eles os primeiros-ministros -, não são capazes de controlar a situação".

Viktor Orbán afirmou também, deixando clara a sua mensagem xenófoba e de extrema-direita: "Todos os países têm direito a ter um grande número de muçulmanos se quiserem. Se quiserem viver com eles, podem, mas nós não queremos, e creio que temos direito a decidir"

Viktor Orbán afirmou também, deixando clara a sua mensagem xenófoba e de extrema-direita: "Todos os países têm direito a ter um grande número de muçulmanos se quiserem. Se quiserem viver com eles, podem, mas nós não queremos, e creio que temos direito a decidir".

 

Orbán justifica a construção da vedação de arame farpado, com 4m de altura e 177km de comprimento, na fronteira com a Sérvia, como uma medida para pôr em prática as leis da União Europeia e responder aos países vizinhos do espaço Schengen.

Viktor Orbán justifica também a política que tem seguido nos últimos dias em relação aos refugiados, impedindo-os de tomarem comboio de Budapeste para a Áustria, dizendo no Parlamento Europeu:

“A chanceler alemã e o chanceler austríaco disseram-nos claramente: ninguém pode deixar a Hungria sem ser registado. É esse o regulamento. Temos de registar toda a gente. Não podemos deixar partir ninguém da Hungria para a Áustria ou para a Alemanha sem ser registado. Não se trata de uma estratégia, mas de um reforço da lei”.

Viktor Orbán disse ainda que o atual problema dos refugiados não é da Hungria, mas da Alemanha, pois “ninguém quer ficar na Hungria”.

“Não temos dificuldade com os que querem ficar na Hungria. Mas, ninguém quer ficar na Hungria, nem na Eslováquia, nem na Polónia ou na Estónia. Todos eles querem ir para a Alemanha. O nosso trabalho é apenas registá-los. Se a chanceler alemã insiste que ninguém pode deixar a Hungria rumo à Alemanha sem registo, nós vamos registá-los. É uma obrigação”, reafirma.

 

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, justificou a ação do governo húngaro: "Nem todos estão de acordo com a solução controversa proposta pelo primeiro-ministro Orbán e eu posso entender porquê. Todavia, uma coisa é clara, o primeiro-ministro Orbán tomou medidas para fortalecer as fronteiras da União Europeia".

 

“Não critiquem a Hungria por fazer o que é para ser feito. E, em vez de nos criticarem, deixem-nos apenas fazer o trabalho que tem de ser feito de acordo com os regulamentos europeus”, declarou ainda o primeiro-ministro húngaro.

Em Bruxelas, Viktor Orbán encontrou-se também com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que afirmou: “Tendo em conta o enorme e cada vez maior número de refugiados, os países europeus precisam de fazer mais. Todos percebem que os países europeus não vão mudar as políticas de imigração do dia para a noite. Mas, todos devem entender que a nossa atitude para os refugiados é, na verdade, uma expressão da solidariedade europeia dentro da Europa”.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, justificou ainda a ação do governo húngaro:

"Nem todos estão de acordo com a solução controversa proposta pelo primeiro-ministro Orbán e eu posso entender porquê. Todavia, uma coisa é clara, o primeiro-ministro Orbán tomou medidas para fortalecer as fronteiras da União Europeia".

Artigo alterado às 00.03 de 4 de setembro de 2015

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