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Plano V (de Varoufakis)
Não é só uma questão de pronúncia ou de troca de consoantes. Entre a visão grega e a visão alemã da Europa, subsiste um irrazoável número de países que parece buscarem o anonimato à custa de tanto se encolherem. A inconsistência ou irresponsabilidade de quem não procura uma porta de saída perante um fracasso anunciado é defeito que se aponta sumariamente a qualquer responsável político. Não para Varoufakis. Quando o ex-ministro das Finanças grego tentou alavancar um plano B que permitisse à população que o elegeu - também para responder aos algozes - respirar e viver após o iminente e propalado "Grexit", aqui-d"el-rei, que não faltou quem o apelidasse de traidor e que recuperasse em correria o cachecol "Burberry-a-438-euros-online" que usou no Eurogrupo como forma de enforcamento público. Como imagem, poderia ser um plano "vê".
Não me recordo de alguém ter procurado uma solução alternativa para um desastre sem ser louvado pela precaução e pelo aviso. Mas não para Varoufakis. O homem que afirmou (no "The Guardian") que o ministro das Finanças alemão, "Wolfgang Schauble, queria disciplinar a zona euro e a França, expulsando a Grécia do Euro", não devia ter um plano B... Quem ouviu de responsáveis europeus a frase "você até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos na mesma" (como revela numa entrevista à britânica "New Statesman") deveria então continuar sereno e confiante de que os escrúpulos democráticos iriam de súbito nascer naquela gente que asfixia todos os sinais encorajadores de um processo de construção europeu que não procure a continuação de um embuste pela força dos jogos de poder e da especulação.
Muitos acusam o Governo do Syriza de irresponsabilidade, de ter ido longe de mais ao protelar em demasia, fazendo acreditar uns tantos que era mesmo possível mudar a face de uma Europa que usa uma moeda com coroa, mas sem cara no reverso. Depois, há quem o acuse de ter cedido, preferindo o tapete quando estava, asfixiado, agarrado às cordas. Estranhas e demagógicas convicções. Como podia a Grécia não ter cedido à violência alemã aliada ao cinismo português e espanhol (ficou claro que foi esta a tríade extremista) no momento em que, por exemplo, os bancos estavam já encerrados há dias? A única (e pesada) acusação que pende sobre o Syriza é a de nunca ter desenvolvido verdadeiramente um plano B que permitisse continuar com um país viável após a saída da zona euro. Porque acabará por sair, com alguma probabilidade, no futuro. Mas, aí, já com outras letras do alfabeto, também maiúsculas, a acompanhar o plano.
Como canta Paulo de Carvalho no final da canção-senha de Abril, "o ficarmos sós". O plano B do Syriza poderia ser acusado de irrealista, caso se sentisse só. Mas a alternativa grega tem milhões de pessoas e um prémio Nobel da Economia como defensores. Na sua crónica no "The New York Times", Paul Krugman advoga que a dívida continuará a aumentar por mais sacrifícios que se peçam aos gregos. E basta olhar para Portugal... Para Krugman, a lição é de que "a austeridade fiscal adicionada a uma moeda forte é uma mistura altamente tóxica". E assim será, até um novo embate ou crise política na Grécia. Ou até que, por tanto se auto-apunhalar, o projecto europeu se desmantele.
A recusa europeia de uma solução decente e não humilhante para a Grécia esteve sempre ligada à ânsia hegemónico-dominadora da Alemanha e ao medinho ibérico de que forças políticas nacionais de esquerda pudessem, perante uma vitória negocial do Syriza, ganhar terreno nas eleições legislativas, daqui a uns meses. Comportámo-nos, uma vez mais, como o país dos pobrezinhos que não somos, a fazer gincana política com a vida das pessoas e, em boa verdade, com o nosso próprio futuro. Pablo Iglesias, líder do Podemos, em Espanha, sintetiza (à versão portuguesa do "Le Monde Diplomatique") a fixação de Berlim: "Os nossos adversários receiam que qualquer vitória alcançada pelo Syriza estimule os nossos próprios resultados (...). O seu objectivo não se limita, portanto, a fazer fracassar o Governo grego; está também em jogo barrar o caminho a outras ameaças, como a que, do seu ponto de vista, nós representamos". Passos Coelho reclama para si a ideia de que acabou por desbloquear a negociação do terceiro resgate à Grécia na cimeira da zona euro. Certamente a pensar que bloqueava tudo o que vive à sua esquerda em Portugal. Continuo a pensar que é muita gente que se deixe bloquear de uma vez.
Artigo publicado na edição de 4 de agosto de 2015 do "Jornal de Notícias" .
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Tenho pena que o plano A de
Tenho pena que o plano A de Pablo Iglesias para a crise grega tenha sido o de não fazer muitas ondas sob pretexto de perder popularidade na Espanha. Ao lado dessa sua afirmação sobre os medos de qualquer vitória negocial do Sirysa, deveria aparecer outra falando dos seus próprios medos em relação a qualquer fracasso negocial do Sirysa. O Podemos que nunca se assumiu como partido de esquerda por opção estratégica acabou perdendo percentagem de possível eleitorado enquanto o Sirysa se mantém forte no que ao apoio popular diz respeito. As negociações gregas terminaram por agora com um recuo em toda a linha de Alexis Tsipras, mas o facto de o Sirysa ter forçado o confronto com o neocolonialismo europeu é de todos os pontos de vista louvável, assim compreendido pelos compatriotas, ensinando que é no vigor da luta que se forja o futuro. Ainda é cedo para se perceber se Alexis Tsipras quebrou ou torceu mas já deu para perceber que o Podemos não foi a jogo.
João Castro, a descida do
João Castro, a descida do Podemos nas encuestas está a ocorrer no momento em que os espanhóis colocam ao partido na extrema-esquerda (ha uns meses 30% dos espanhois pensavan que O podemos era "esquerda radical", agora a percentagem subiu até o 50%). Mesmo que o Podemos tinha feito todo o possivel por se presentar como un partido transversal, estava a jogar com todos os méios de comunicação em contra deles (diarios, radio, televisão...), poderes mediáticos muito fortes que fazem com que devamos pensar se realmente nestas circunstancias de desigualdade podemos dizer que vivamos numa democracia.
Mesmo assim, as encuestas estão longe de dar a Podemos un papel pequeno; as piores sondagens dão 15-20% e até ha poucos semanas davan perto de 24%, percentagem similar aos grandes partidos do pais.
Eu não questiono se a descida
Eu não questiono se a descida de intenções de voto, no Podemos, é de 10% ou de 2%, não subir é preocupante e deve conduzir a uma análise séria da estratégia adoptada. Os meios de comunicação social estão lá como cá e em todo o lado, do lado oposto ao progresso das forças de esquerda e trazer isso à conversa revela falta de melhores argumentos. O podemos conseguiu o maior apoio popular quando trouxe para a ordem do dia a garantia da defesa dos mais desprotegidos e da luta contra a casta no poder. Passar por pouco mais de mudo na questão grega é negar a vertente solidária que vinha em crescendo na Europa e em vários pontos do mundo e anunciar ao seu eleitorado, caso chegasse ao poder, o caminho seguido não seria o do corte com as actuais políticas europeias, adivinhando-se o resto. Poder-se-á argumentar que uma colagem ao Syrisa e à sua luta poderia também resultar mal, mas nesse caso além de manter coerência no discurso guardaria na sua base de apoio o eleitorado de esquerda enquanto mantinha em sentido a casca no poder. “… o poder não teme a esquerda, o poder teme as pessoas e o povo.”, as palavras são do próprio Pablo Iglesias e quando o povo luta e resiste da maneira como lutou e resistiu o povo grego, o Podemos entende que lutar sim, mas tanto também não. O meu comentário anterior tem origem num outro http://www.esquerda.net/opiniao/o-ultimato-grecia-e-ja-nada-sera-como-da... que antecipa as palavras de Pablo Iglesias citadas por Miguel Guedes.
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