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O primeiro-ministro preocupa-me
Fez ontem um ano que o BES foi intervencionado de urgência, depois dos prejuízos do banco terem sido anunciados com estrondo no dia 30 de julho de 2014. Nunca, a esse respeito, ouvimos uma palavra de preocupação do primeiro-ministro. Muito pelo contrário, quinze dias antes da falência do BES, Passos Coelho garantia: "Os depositantes têm razões para ter toda a confiança quanto à segurança que o Banco Espírito Santo oferece às suas poupanças".
É hoje relativamente claro que o valor de venda do Novo Banco não compensará o montante injetado pelo Estado, ou melhor, emprestado pelo Estado ao Fundo de Resolução, ou seja, aos bancos. E também já sabemos, porque os próprios o disseram, que, caso a coisa corra mal, os bancos não vão pagar a sua dívida ao Estado, pelo menos não sem uma reestruturação. Mas nunca, a este respeito, ouvimos uma palavra de preocupação do primeiro-ministro.
Em abono da verdade, sobre as liberalidades recebidas por Ricardo Salgado, sobre os milhões de origem desconhecida repatriados nos sucessivos RERT (amnistias fiscais), sobre o rasgar da garantia soberana do Estado angolano ao BESA, sobre nada disto ouvimos uma palavra de preocupação do primeiro-ministro.
Em abono da verdade, um primeiro-ministro que não se preocupa com o que deve é motivo de preocupação, ainda mais quando se diz preocupado com alguma coisa. E por isso digo, O primeiro-ministro preocupa-me. Era suposto que Passos soubesse que o Estado é acionista único da Caixa Geral de Depósitos, e que, por isso, mandar 'recadinhos' pela Comunicação Social sobre a situação financeira do banco público é errado, e irresponsável. Mas será que não sabe?
Passos deve saber que o prazo para a devolução do montante injetado na Caixa sempre foi 2017, e que nunca houve previsão de um pagamento antecipado. Nada de novo, portanto. Também deve saber que a Caixa foi um importantíssimo amortecedor da economia e do sistema financeiro português durante os últimos anos e que, apesar disso, apresentou lucros de 47 milhões de euros no semestre, e teria sido mais se não tivesse vendido a Fidelidade. Por falar em preocupação, valeria a pena ver o que aconteceu à antiga seguradora pública, usada para financiar a sua própria compra pelo fundo Chinês Fosun.
O primeiro-ministro preocupa-me, não porque não saiba tudo isto, mas porque há muito que sabemos do seu plano para vender a Caixa. Enfraquecê-la é uma estratégia. E isso não podemos aceitar.
Artigo publicado na edição de 4 de agosto de 2015 do "Jornal de Notícias".
Comments
em vários meios pessoas
em vários meios pessoas ouviam o nome BES e assobiavam para o lado como que a fugir à conversa do marido traído mas sem lhe dizerem absolutamente nada. tudo conivente. só o pobre Zé, totalmente cego e analfabeto nas questões financeiras que nunca estudou na escola apesar de levar com injecções do tema todos os dias nos noticiários a que assiste como um boi a olhar para um palácio, é que ficou a arder. como sempre.
MM
MM
Os labirintos que Passos Coelho construiu, dificultam-nos a visão, mas ele próprio acaba por se perder no meio deles.
Quanto a bancos, também penso que a CGD se deve manter na esfera pública.
Por outro lado, foi criado um novo banco, Banco do Desenvolvimento (BD), que eu questionei, e que continuo a questionar. O seu trabalho poderia ser feito por outros bancos já existentes, como era para o crédito à habitação, bonificado ou não. Ajudaria à sua rentabilização e diminuição de despedimentos que continuam a ocorrer.
Por outro lado, o BD estará já "instalado", com as despesas inerentes, mas sem funcionamento efectivo. Para quê? Quem paga? Penso que saberemos as respostas.
Cumprimentos,
PF
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