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Mudar à Esquerda: uma proposta!

Chegou o tempo da análise e definição políticas fundamentais para toda a esquerda na Europa.

A tentativa de golpe de Estado e colonização de que a Grécia foi alvo pôs a nu, perante todos os povos europeus, de que matéria é a União Europeia feita. Chegou o tempo da análise e definição políticas fundamentais para toda a esquerda na Europa. Depois do agora, tudo será sempre tarde demais.

1. Não existe alternativa à austeridade com euro. O euro é a austeridade, o euro é o diktat alemão e qualquer proposta de mudança será esmagada. A agressividade da Alemanha e dos seus colaboracionistas mostraram-nos até onde podem chegar os donos da União. E mostraram-nos também que não é possível, com esta moeda que hoje temos, qualquer política de investimento ou desenvolvimento nos países periféricos.

2. Não há soberania dos povos no quadro da União. Até hoje, existiram apenas 3 votações na Europa sobre questões europeias: os referendos à Constituição Europeia em França e Holanda e o referendo recente na Grécia. Em todos os povos disseram Não. Em todos a União desrespeitou a vontade popular. 3 a 0 para o diktat do centro. A vontade dos povos europeus, do centro ou da periferia, mesmo quando aferida de forma democraticamente direta, será sempre desrespeitada. Não há democracia nesta União. Provavelmente nunca houve mas hoje a sua falta de democracia colide de forma brutal com a soberania e a democracia dos povos europeus na sua própria casa. A Europa é um projeto ditatorial, com sede na Alemanha e que destrói todas as formas de expressão política que lhe se são adversas.

3. Não há União Europeia solidária e dos povos. Esta União é da Alemanha, dos credores e dos interesses que representam, com os Socialistas Europeus à cola, obedientes, sem nenhuma capacidade de rutura ou alternativa. A União é hoje o principal obstáculo ao crescimento económico dos seus países. Já o tratado orçamental o demonstrava: quem quiser estar na União terá de se conformar às regras impostas ou não estará.

4. Não há povo europeu. Pelo menos no sentido da confluência das lutas por um espaço continental mais integrado socialmente. A disputa pelo pensamento hegemónico nos países da União foi ganha pela direita, com crescimentos preocupantes da extrema-direita xenófoba. A esquerda não conseguiu contrapor a esta Europa do diretório uma luta de massas uníssona com objetivos e estratégias semelhantes ou pelo menos, coordenadas. Ao passo que nos países do sul cresce uma maioria social contra a austeridade, com o seu expoente máximo na Grécia, na Alemanha persiste uma maioria que apoia a estratégia colonial de Schäuble, na Finlândia há um apoio claro ao Governo que quer a Grécia fora da Europa e desconfiamos que Holanda, Suécia, Dinamarca sigam o mesmo caminho. A Europa é um continente partido ao meio, divido entre o Norte e o Sul, onde cresce o racismo e a xenofobia, onde o ódio escondido entre os povos vai mostrando a sua face.

Não interessa quem defendeu o quê no passado, quem teve razão em Janeiro de 2011 ou em Agosto de 2013. Quem quiser levar a bicicleta, pode levar as que quiser (elas até estão bastante baratas no Continente). Interessa definirmos a melhor estratégia para disputarmos esta gigantesca luta de classes que se prepara na Europa e o neocolonialismo financeiro a que estamos hoje sujeitos

Não quero com esta análise negar o nosso passado - as possibilidades que tivemos de uma construção europeia alternativa. Elas existiram e estivemos no lugar certo ao propô-las. Mas a Europa mudou, a união monetária mudou, a luta de classes à escala europeia também mudou. Ou então mostrou-se finalmente a face latente de uma Europa construída sobre tratados e comissões antidemocráticas. Também não quero negar nenhuma possibilidade de futuro – um espaço europeu solidário, social e que respeita a vontade dos vários povos que o compõem será sempre um projeto de esquerda, enquanto a Europa for Europa e enquanto a esquerda for esquerda. Mas este presente implica definição de estratégia política. E a esquerda não pode ficar à espera que as derrocadas aconteçam, para só depois efetuar a sua análise.

A União Europeia é hoje um projeto colonialista, antidemocrático e selvagem que anula qualquer forma de “correr por dentro” como alternativa. As suas instituições são ditatoriais na forma e no conteúdo e a união monetária mantém agrilhoados os seus povos às políticas antissociais e austeritárias emanadas a partir de Berlim. Nesta Europa não há espaço para as democracias. Por isso nesta Europa não há espaço para a um Governo de Esquerda.

A esquerda tem de se afirmar contra a União Europeia e contra a moeda única. É esse o espaço da luta de classes, o palco da confrontação com os Governos obedientes ao diretório e a possibilidade de mudança social e económica em cada um dos países. Precisamos de um debate profundo está claro, mas também precisamos de uma estratégia política clara.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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