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Habermas: Acordo grego é “prejudicial no seu resultado e na forma como foi alcançado”

O filósofo e sociólogo alemão acusa o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, de, ao ameaçar com a saída da Grécia do euro, “revelar-se, desavergonhadamente, como disciplinador-chefe da Europa”.

 “O acordo sobre a dívida grega anunciado na segunda-feira de manhã é prejudicial tanto no que respeita ao seu resultado como à forma como foi alcançado”, defende Jürgen Habermas numa entrevista ao The Guardian.

“Mesmo se considerássemos os termos asfixiantes do acordo corretos, não se pode esperar que essas reformas sejam promovidas por um governo que, como ele próprio admite, não acredita nos termos do acordo”, acrescenta.

Para o filósofo e sociólogo alemão, o acordo “não faz sentido em termos económicos, devido à mistura tóxica de reformas estruturais necessárias do Estado e da economia com novas imposições neoliberais que desestimulam por completo uma população grega exausta e matam qualquer ímpeto de crescimento”.

Por outro lado, avança Habermas, o Conselho Europeu “está efetivamente a declarar-se politicamente falido: a efetiva relegação de um Estado membro ao status de protetorado contradiz abertamente os princípios democráticos da União Europeia”.

“Finalmente”, sublinha, “o resultado é vergonhoso porque forçar o governo grego a concordar com um fundo de privatização predominantemente simbólico e economicamente questionável não pode ser entendido como algo diferente de um ato de punição contra um governo de esquerda”.

“É difícil ver como poderiam ter sido causados mais danos”, lamenta.

Segundo Jürgen Habermas, o ministro das Finanças Schaeuble, ao ameaçar com a saída da Grécia do euro, revelou-se, “desavergonhadamente, como disciplinador-chefe da Europa”.

“Desta forma, o governo alemão reivindicou manifestamente, e pela primeira vez, a hegemonia alemã na Europa - esta, de qualquer forma, é a forma como as coisas são entendidas no resto da Europa, e esta perceção define a realidade que conta”, avança.

Destacando que “a crise atual pode ser explicada tanto por meio de causas económicas e fracasso político”, Habermas advoga que “a dívida que o FMI tem considerado ‘altamente insustentável’ precisa de ser reestruturada”.

O filósofo e sociólogo alemão refere ainda que “ao longo da crise, o executivo europeu acumulou mais e mais autoridade”.

“As principais decisões estão a ser tomadas pelo Conselho, a Comissão e o BCE - noutras palavras, as próprias instituições que são ou insuficientemente legitimadas para tomar as decisões ou carecem de qualquer base democrática”, afirma Habermas, destacando que “este esvaziamento tecnocrático da democracia é o resultado de um padrão neoliberal de políticas de desregulamentação-mercado”.

Tais tendências só podem ser combatidas através de “uma mudança de direção política, provocada por maiorias democráticas num ‘núcleo europeu’ mais fortemente integrado. A união monetária deve ganhar a capacidade de agir a nível supranacional”, adita, rematando que “face ao processo político caótico desencadeado pela crise na Grécia já não podemos dar-nos ao luxo de ignorar os limites do atual método de compromisso intergovernamental”.

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