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Manifesto defende pólo à esquerda contra a bipolarização

O primeiro signatário do manifesto, Manuel Loff, esclareceu que os subscritores pretendem “suscitar um debate importante” e assumir as suas responsabilidades “enquanto cidadãos individuais, que não dispensam o papel de atores políticos”.
“Não nos resignamos à ideia de que vai haver alternância sem alternativa”, frisou, lembrando que “o milhão de portugueses que saiu à rua no 15 de setembro não desiste”.
Referindo que “a evolução do PS foi no sentido de eleger um líder da gestão Sócrates, que não traz novidade, nem abre expectativa para qualquer mudança”, Manuel Loff afirma que “há um milhão de pessoas que, regularmente, vota à esquerda do PS e não se resigna”. Para Loff, essas pessoas sabem que o PCP e o Bloco “não têm qualquer ambiguidade sobre a rejeição das políticas de austeridade”.
O documento, disponível para subscrição pela a que “os principais partidos da esquerda que recusa sem ambiguidades a austeridade, bem como milhares de independentes e ativistas, se associem num pólo político, com uma resposta política clara”.
O Esquerda.net transcreve, na íntegra, o texto do “Manifesto para uma esquerda que responda por Portugal”, que se encontra aberto à subscrição em https://manifestoesquerda2015.wordpress.com:
Manifesto para uma esquerda que responda por Portugal
Os signatários, como tanta gente, indignam-se com a degradação de Portugal ao longo dos quatro anos da Troika. Constatamos os efeitos do esboroamento das regras constitucionais, enfraquecendo a democracia onde ela tem responsabilidade social – na justiça tributária, na segurança social, na escola pública, no serviço nacional de saúde – e reforçando uma distribuição cada vez mais desigual do rendimento, o desemprego, a precariedade e a pobreza.
Constatamos também que, depois destes quatro anos angustiantes a corajosa resistência social que se levantou contra a austeridade pode não vir a produzir uma verdadeira alternativa política. À esquerda, quando é precisa convergência, acentuam-se dissensões. Quando é preciso mobilizar alternativas concretizáveis, ouvimos vozes de conformismo. Quando são urgentes programas detalhados para responder a cada problema, notamos superficialidade e palavras gastas. Quando é preciso responder à agressão dirigida por Merkel, com o Tratado Orçamental e a austeridade perpétua, encontramos submissão. Quando é preciso esquerda, ouvimos que é a vez do centro.
As esquerdas representam-se por vários partidos, aos quais compete, em exclusivo, a determinação da sua estratégia. Não nos incumbe, como signatários deste manifesto e com posições diferenciadas, interferir nessas decisões. Move-nos a obrigação de contribuir para uma solução de esquerda para Portugal, manifestando a nossa opinião, porque queremos promover diálogos com resultados.
Quarenta anos depois do 25 de Abril, com um milhão de desempregadas e desempregados, com a finança a cobrar um resgate que tem devastado a vida dos portugueses, com os contratos coletivos enfraquecidos, com o risco anunciado de uma mudança da lei eleitoral feita à medida da perpetuação artificial do bloco central, as esquerdas não podem continuar a ser o que sempre foram. Resistir é pouco para salvar Portugal. Aguentar não é suficiente para mudar. Em nome dos trabalhadores, reformados e jovens que estão a sofrer o país, é preciso mais e queremos mais. O maior ataque que os direitos sociais e a democracia têm sofrido nos últimos 30 anos exige soluções corajosas.
Só a esquerda pode salvar Portugal, restaurar a esperança e reconquistar a democracia para resolver a crise, reestruturando a dívida em prejuízo da finança e assumindo a prioridade do emprego contra as imposições feitas em nome do euro.
Apelamos por isso a que os principais partidos da esquerda que recusa sem ambiguidades a austeridade, bem como milhares de independentes e ativistas, se associem num pólo político, com uma resposta política clara para toda a gente. Um pólo de esquerda significa não somente afirmar uma razão mas também que passará a haver uma proposta de governo que quer disputar a vitória. O pólo das esquerdas unidas, que saiba merecer um resultado histórico, afirmar-se-á como a única alternativa para Portugal. Esse pólo ameaçará a bipolarização, mostrará a convergência de fundo entre o PSD e o PS em torno da austeridade – como fica claro na sua união na ratificação do Tratado Orçamental e dos mecanismos de subtração de soberania a Portugal em matéria orçamental – e colocará na política as soluções que têm faltado.
Nas eleições, esse pólo será a garantia de que um novo governo que aceite o Tratado Orçamental, com a continuação da austeridade e novos cortes contra os serviços públicos e o emprego, terá pela frente uma esquerda capaz de o substituir.
A direita trouxe o país ao empobrecimento e o PS limitou-se a prometer fazer melhor a mesma política nas mesmas restrições nacionais e europeias. Para ser governo, a esquerda tem de ser rutura.
Ao apelarmos à constituição de um pólo político que tenha força bastante para enfrentar a inevitabilidade da austeridade e do mando do capital financeiro, queremos evitar que as esquerdas caiam na armadilha da resignação. Por melhores que pudessem ser os resultados de um ou outro partido, as eleições estarão perdidas para todas as esquerdas se, depois de três anos de Troika, o nosso povo tiver pela frente trinta anos de empobrecimento. As esquerdas ficarão reféns do voto útil e da alternância, a não ser que abram a porta para uma solução, comprometendo-se com uma proposta forte para salvar Portugal. Essa proposta é a esperança e trabalhamos para ela.
António Borges Coelho, historiador
Carlos Mendes, músico
Domingos Lopes, advogado
Fernando Rosas, prof univ
Isabel Allegro de Magalhães, prof univ
Jaime Teixeira Mendes, médico
Joana Lopes, doutorada em filosofia
João Correia da Cunha, médico
Jorge Leite, prof univ
José Neves, prof univ
Luís Bernardo, historiador
Luís Cília, músico
Luís Reis Torgal, prof univ
Manuel Carlos Silva, prof univ
Manuel Loff, prof univ
Mariana Avelãs, tradutora
Mário de Carvalho, escritor
Pezarat Correia, militar
Santos Cardoso, administrador hospitalar
Cláudio Torres, arqueólogo
Guilherme Statter, sociólogo
Comments
A obsessão pelas eleições
A obsessão pelas eleições está a levar a esquerda da política real para a política virtual. Estão a esquecer que o seu terreno de luta não é o parlamento mas a rua, o único sítio onde os verdadeiros detentores do poder são de facto vulneráveis.
A "doença da nossa democracia" de que tanto se fala, só se cura com manifestações, greves, cortes de estradas, folhas populares, centros de convívio, abaixo-assinados, núcleos de propaganda - com a intervenção directa das massas em defesa das suas reivindicações. E isto não nasce por geração espontânea. Precisa da acção de centenas e milhares de activistas e agitadores, audaciosos, convictos, como já houve no passado. Os quais só voltarão a surgir se se declarar abertamente a razão anticapitalista da luta dos trabalhadores em vez de fazer propostas de governo. É preciso que, em vez de dizer aos trabalhadores: "As coisas só vão melhorar quando votarem em nós", lhes digam: "As coisas só vão melhorar quando vocês meterem as mãos no poder" e expropriarem a burguesia.
Marca de estilo
Sejam quem forem os signatários formais, este documento tem a assinatura estilística do Bloco de Esquerda. Aquele "desempregadas e desempregados" não engana. O Bloco está no seu pleno direito de apelar a uma união das esquerdas, e até tem razão em fazê-lo, mas devia ser em seu próprio nome e não por interpostas pessoas.
Em todo o caso: quer o documento tenha sido redigido por dirigentes do Bloco, quer por algum ou alguns ou todos os signatários, quer pelos signatários e militantes do Bloco em colaboração, uma coisa é para mim clara: nenhuma união de esquerda é possível em torno de uma agenda pormenorizada porque é exactamente nos pormenores que estão as divergências entre as esquerdas. Cito:
«Quando são urgentes programas detalhados para responder a cada problema, notamos superficialidade e palavras gastas.»
Esta contradição é falsa. A superficialidade e as palavras gastas não são o contrário de um programa detalhado. Uma agenda pode ser detalhada sem deixar de ser superficial e gasta, e pode ser geral sem deixar de ser radical e inovadora.
A união das esquerdas nunca pode ser feita com base num programa detalhado, que demoraria anos a negociar e levaria, no caso altamente improvável de ter êxito, não a uma união mas a uma unicidade. Mas pode e deve ser feita com base num programa mínimo que represente a zona de intersecção entre os programas existentes. Este programa, e fosse mínimo e apresentado como tal ao eleitorados, permitiria obter grandes ganhos. Em primeiro lugar, seria facilmente compreensível e memorizável. Em segundo, seria irredutível: tanto as organizações participantes como os eleitores compreenderiam que não fossem contempladas cedências quanto a ele. Em terceiro, deixaria pouca margem a divergências futuras entre os participantes. "The devil is in the details"; pois se assim é, eliminem-se os detalhes.
O conteúdo de um tal programa mínimo resumir-se-ia aos seguintes pontos:
a) soberania nacional como condição da soberania popular e da democracia,
b) revogação ou denúncia unilateral dos tratados que esvaziam a soberania nacional, designadamente o Tratado Orçamental Europeu,
c) revisão dos os tratados e normativos para-constitucionais europeus tendo em vista expurgá-los do seu viés ideológico neoliberal.
Quanto aos pormenores, cada partido, movimento de cidadãos, grupo de reflexão, etc. que participasse no projecto continuaria livre de defender o seu programa particular, desde que se comprometesse a dar prioridade ao programa mínimo comum em períodos eleitorais, de modo a não criar ruído que interferisse com a comunicação da mensagem.
A minha modesta contribuição para a defesa do pólo à esquerda
Restringindo-me às forças com assento no actual quadro parlamentar e com o perigo de reforma eleitoral posto de parte devido à recente orientação "anti-austeritária" (no dizer de alguns...) do BCE, que tornará menos necessária a contenção do "perigo populista", quando o BE decidir-se a convergir com a esquerda da "emenda 28" e não com a direita que a rejeitou não haverá nada a impedir a existência de tal pólo (as discutíveis políticas de relações internacionais do PCP -- consideração por velhos aliados... -- e do BE -- seguimento mais ou menos acrítico do ue-cêntrico Partido da Esquerda Europeia... -- não passarão de fait-divers). Sobre a emenda 28, sentido de voto que não só prossegue, como agrava, a abstenção do BE no tímido ponto "preparação da saída do euro" apresentado pelo PCP no parlamento no outuno passado, deixo aqui uma ligação ao avante.pt/pt/2155/europa/134667/
A minha modesta contribuição para a defesa do pólo à esquerda é linkar o «Avante!» no esquerda.net
Convergência real da esquerda
Em nome de uma convergência real da esquerda seria interessante que o PCP e o Bloco fossem capazes de abrir uma discussão que ainda pudesse ter resultados práticos em torno da possibilidade de desistências mútuas a favor da força política mais bem colocada para obter melhores resultados eleitorais, tendo em conta, por exemplo, a tradição no que se refere a resultados eleitorais anteriores. Refiro-me, para começar, sobretudo a distritos onde o Bloco e o PCP elegem poucos representantes ou não elegem nenhum. A candidatura que permanecesse no terreno assumir-se-ia como um compromisso que representaria ambos os partidos. Não se trataria de apenas de aritmética eleitoral, uma candidatura assim, nas actuais circunstâncias, poderia ser mais abrangente e ir para além da representação do eleitorado dos dois partidos, na medida em que passaria uma mensagem de unidade e de capacidade de compromisso e convergência reais. Além disso, contribuiria para conter a previsível dispersão que resultará do aparecimento de novas forças políticas à esquerda que, já se percebeu, não conseguirão produzir na cena política e eleitoral actual senão maior dispersão de forças
FRENTE PATRIÓTICA ANTIFASCISTA
Só uma Frente Patriótica Antifascista poderá resgatar a soberania nacional e a dignidade dos portugueses em vista a uma vida de acesso aos bens essenciais, da comida à educação, da casa aos transportes, do salário à saúde, da protecção da`infância ao respeito pelos idosos. Admito que essa Frente Patriótica Antifascista inclua portuguesas e portugueses honrados que não se revejam sequer nos objectivos finais das Esquerdas. O que acho impossível é que não só não integre cidadãos independentes, como não inclua responsavelmente o PCP e o BE. Sem essa convergência nada é possível. Urge fazê-la já e traduzida também na disputa eleitoral que se segue. Quem dela se afaste merece o castigo imediato nas urnas, de todos os que põem os interesses de Portugal e do seu Povo acima das tácticas eleitorais; ou, nesse caso, claramente eleitoralistas de mais deputado menos deputado "MEU". Quem assim o faça confessa que não é só a alternância e conjugação política de interesses PSD/PS, com ou sem CDS, que terá de responder no Tribunal da História pela miséria para que somos arrastados, Terão de ser chamados à Barra, como seus cúmplices.
Penso que este é o caminho
Penso que este é o caminho que há muito se exigia e finalmente foi encontrado pelo BE e PCP (e PEV?). De ambos os lados existe muita gente competente e com ideiais que é preciso unir e pôr a trabalhar em conjunto.
os frentistas
Onde eu já vi isto? 73/74/75......
Então a esquerda é o PC e o Bloco ? e o PS é direita? é por este sectarismo incongruente e frentista mas quem manda somos nós, que a "esquerda" de derrota em derrota entregou o país á direita com as consequências que todos sentimos e prepara-se para mais.
Mas será inevitável?
Não, espera-se que o Bloco pelo menos tenha a cabeça mais aberta, pois o PC é mais do mesmo, nim, ou mando eu, ou és reacionário, lembram-se?
Vejam por favor o exemplo do Syriza e reflitam.
PS.(não confundir com PS ) : e já agora incluir também o Pev , partido com grande relevância na vida politica e que não deve ser desconsiderado desta aliança...
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