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"Schäuble devia sentir pena é dos povos que não conseguem levantar a cabeça"

Num discurso aos deputados do Syriza, Alexis Tsipras reafirmou que as promessas eleitorais são para cumprir e as primeiras leis serão para repor os direitos dos trabalhadores. "O impasse no Eurogrupo não pode ser resolvido por tecnocratas, mas por líderes políticos", defendeu o primeiro-ministro grego.
Foto Presidência do Parlamento Europeu/Flickr

O discurso de Alexis Tsipras ao grupo parlamentar do Syriza era muito aguardado por ser o primeiro a seguir ao impasse da reunião do Eurogrupo e por conter o nome do candidato presidencial que o parlamento deverá sufragar. Tsipras deixou para o fim o anúncio da candidatura de Prokopis Pavlopoulos, um ex-ministro do Interior da Nova Democracia, entre 2004 e 2009. Ao longo da semana, o nome mais apontado pela imprensa para candidato era o do atual comissário europeu Dimitris Avramopoulos, também da Nova Democracia, mas esta proposta terá levantado objeções na direção do partido. A figura presidencial na Grécia é meramente decorativa e com poderes bastante limitados pela Constituição, mas foi a incapacidade do parlamento obter uma maioria qualificada em dezembro que provocou as eleições antecipadas e a ascensão do Syriza ao Governo.

Reposição dos direitos laborais é prioridade do governo Syriza

No plano político, Tsipras foi contundente ao reafirmar que "temos um claro mandato para salvar o país e isso não vai acontecer se prosseguirmos os erros, como pedem alguns credores". Por isso, acrescentou o primeiro-ministro, "não daremos um único passo atrás nas promessas que constam do nosso programa político".

Para o comprovar, anunciou quais serão as prioridades legislativas para as próximas semanas: "Esta quinta-feira proporemos a primeira lei para proteger os lares da ameaça de despejo", disse, seguindo-se a lei que "irá travar a desregulação do mercado de trabalho e repor os direitos dos trabalhadores em cooperação com a OIT". "Iremos regressar à contratação coletiva, que foi abolida ilegalmente pela troika", prometeu Tsipras, referindo ainda que prepara legislação "para permitir o pagamento de impostos atrasados em 100 prestações no máximo".

"Foi comovente ver os alemães manifestarem-se"

Uma parte do discurso referiu-se às manifestações de solidariedade com a Grécia que têm percorrido a Europa nas últimas semanas. "Não lutamos apenas pelo povo grego mas por todos os europeus que estão a sofrer com as políticas antidemocráticas de austeridade", afirmou Tsipras.

Tsipras não deixou sem resposta as declarações de Schäuble, que disse sentir pena dos gregos por terem eleito um governo irresponsável. "Ontem, Schäuble perdeu as estribeiras e fez comentários depreciativos em relação ao povo grego. Com todo o respeito, gostaria de lembrar-lhe que ele devia sentir pena é dos povos que não conseguem levantar a cabeça".

"Os Europeus mostraram solidariedade com os seus protestos. Foi comovente ver os alemães manifestarem-se", acrescentou Tsipras, aproveitando para condenar a publicação de um cartoon que caricaturava o ministro das Finanças alemão como nazi. "Ninguém tem o direito de trazer de volta os fantasmas do passado, nem mesmo em cartoons", sublinhou o líder do Syriza.

Apesar disso, Tsipras não deixou sem resposta as declarações de Schäuble, que disse sentir pena dos gregos por terem eleito um governo irresponsável. "Ontem, Schäuble perdeu as estribeiras e fez comentários depreciativos em relação ao povo grego. Com todo o respeito, gostaria de lembrar-lhe que ele devia sentir pena é dos povos que não conseguem levantar a cabeça".

"Uma coisa é o acordo de empréstimo, outra é o memorando"

Alexis Tsipras falou ainda do impasse nas reuniões do Eurogrupo, que disse contrastar com o ambiente em que decorreu o Conselho Europeu e confirmou as notícias das últimas horas que davam conta de uma proposta satisfatória para Atenas, que foi negociada e retirada pouco antes da reunião do Eurogrupo desta segunda-feira.

"Aceitámos o texto do comissário europeu Moscovici antes do Eurogrupo, mesmo estando a pisar algumas das nossas linhas vermelhas", confirmou Tsipras, acrescentando que "o plano Moscovici referia-se à extensão do acordo de empréstimo - não do memorando - à crise humanitária e assistência técnica". Mas, prosseguiu o primeiro-ministro, "quinze minutos antes do início da reunião do Eurogrupo, o Sr. Dijsselbloem apresentou outra proposta de comunicado".

"Estamos a trabalhar arduamente para um acordo mutuamente benéfico. Não temos pressa e não estamos a comprometer o nosso programa. O contrário seria aceitar que a democracia e as eleições são supérfluas e deveriam ser canceladas nos países intervencionados", desafiou Tsipras.

Para Alexis Tsipras, "o facto deste documento provocatório ter sido discutido no Eurogrupo é a prova que alguns na zona euro querem enfraquecer o novo governo grego". E contrapôs: "Não foi este o ambiente que encontrei na cimeira da UE e ele não reflete o clima político atual na UE".

O impasse no Eurogrupo, com o ultimato de Dijsselbloem na conferência de imprensa final, não parece ter impressionado o primeiro-ministro grego, que entende esse impasse "não pode ser resolvido por tecnocratas, mas por líderes políticos".

"Estamos a trabalhar arduamente para um acordo mutuamente benéfico. Não temos pressa e não estamos a comprometer o nosso programa. O contrário seria aceitar que a democracia e as eleições são supérfluas e deveriam ser canceladas nos países intervencionados", desafiou Tsipras.

 

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