You are here
Em Coimbra, a propaganda praxista tem o apoio da universidade
O Conselho de Veteranos é formado por praxistas que se auto-nomearam guardiões da tradição. Não é uma associação com existência legal. Não é um grupo estudantil aberto à participação de todos os estudantes. Não é um órgão estudantil democraticamente eleito. Não existe nenhum motivo válido, portanto, para a UC divulgar uma mensagem do CV, atribuindo-lhe uma importância e legitimidade claramente indevida.
O endereço do serviço de divulgação, pelo que depreendo, é suposto ser usado para a divulgação de notícias, não para a difusão de textos de conteúdo político. Sendo esta norma quebrada, exige-se que, pelo menos, seja dado igual 'tempo de antena' a um grupo de estudantes anti-praxe.
Enviei uma mensagem à Reitoria a perguntar porque é que a UC sentiu a necessidade de colaborar numa manobra de propaganda pró-praxe, espero agora a resposta. Entretanto, partilho a carta que recebi abaixo.
Apenas dois apontamentos prévios:
1) Diz a missiva que "A Praxe da Universidade de Coimbra engloba muito mais do que gozar caloiros". Estamos de acordo. De facto, a praxe não engloba apenas o "gozo aos caloiros". Ficamos sem saber, contudo, para que serve o "gozo" e porque não podem os praxistas organizar uma receção aos novos alunos sem "gozo".
2) De forma a separar a praxe do "crime-que-acontece-na-praxe-mas-não-é-praxe", o CV recomenda o respeito pelo Código de Praxe, "de modo a evitar os abusos ou atropelos que temos vindo a presenciar". O mesmo código (sem validade legal) que descreve os estudantes do primeiro ano como "bestas" e que determina a sua obediência incondicional aos "doutores", como ilustrou o Nuno Moniz, é suposto evitar abusos. Espero pacientemente pelo dia em que um praxista seja capaz de citar uma só norma do código que tenha como objetivo impedir abusos.
Segue a missiva dos "veteranos":
Caros e caras estudantes,
O Magnum Concilium Veteranorum, Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, vem por este meio saudar-vos no início deste ano lectivo, desejando-vos um bom aproveitamento e uma
excelente vivência académica. Vimos também esclarecer e desmistificar algumas ideias relativamente às tradições coimbrãs, nomeadamente sobre a PRAXE, que tanto tem sido debatida ultimamente, esperando poder contar com a vossa colaboração para que a Praxe e as tradições não sejam desvirtuadas, como têm por vezes sido.
Antes de mais, importa esclarecer que a Praxe e as tradições académicas servem para criar e fortalecer laços de amizade e camaradagem numa comunidade estudantil que se quer consciente dos seus direitos, deveres e responsabilidades. É a passagem de testemunho das vivências e problemas sentidos ao longo da experiência académica dos estudantes mais velhos para os mais novos, e é um dos instrumentos fundamentais, mas não o único, para a inserção activa na vida académica.
A Praxe da Universidade de Coimbra engloba muito mais do que gozar caloiros, regendo-se por um vasto conjunto de regras e princípios que devem ser respeitados por todos aqueles que nela se inserem, desde o estudante de hierarquia praxística mais baixa até ao de mais elevada. A Praxe não pode ser usada para actos de humilhação ou coacção, pelo que se deve ter sempre em conta que cada pessoa tem limites e concepções próprias. Os atropelos às liberdades e direitos individuais são crime e não Praxe, devendo nesse caso ser denunciados. Acima de tudo, o que se quer é uma harmonia entre a liberdade e responsabilidade. Só porque um individuo está com uma Capa e Batina vestida, isso não pode ser justificação para actos ilícitos. Quando isto não é respeitado, os princípios e regras da Praxe também o não são.
Com vista a alcançar os seus objectivos (entre os quais a integração dos novos colegas e a valorização do património cultural coimbrão), deve existir uma cooperação real entre os estudantes, de forma a que se entenda aquilo que deve, ou não, ser tido por Praxe. Grande instrumento dessa compreensão é o Código da Praxe, que, sendo um conjunto de preceitos-guia para a boa actuação de todos, se torna normativamente necessário, de modo a evitar os abusos ou atropelos que temos vindo a presenciar. Na óptica do Conselho de Veteranos, estas práticas abusivas não podem, portanto, ser toleradas, quer para a manutenção das tradições académicas, quer para a boa convivência entre colegas.
Por último, importa referir que na Universidade de Coimbra é expressamente proibido: pintar os Caloiros; perturbar o normal funcionamento das actividades, eventos e cerimónias da UC; perturbar ou desrespeitar eventos inseridos na tradição e actividade da Academia de Coimbra; o desenvolvimento de actividades que lesem bens de terceiros; a mobilização de Caloiros ou Novatos dentro do seu horário lectivo; o desenvolvimento de actividades que causem dano, físico ou psicológico. Importa também relembrar que a adesão à Praxe é voluntária e não pressupõe qualquer tipo de consequências.
Lançamos o apelo a todos os estudantes da Universidade de Coimbra para que, tendo sempre presente o bom senso e as regras da sã convivência em sociedade, vivam a Praxe e a Tradição Coimbrã em toda a sua plenitude, e que descubram, nestes novos tempos, a magia de Coimbra e o porquê dos seus colegas do passado tanto cantarem a palavra Saudade.
Magnum Concilium Veteranorum
Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra
Artigo publicado por Ricardo S. Coelho no blogue Inflexão
Comments
Caro Ricardo Coelho, vou
Caro Ricardo Coelho, vou apenas escrever-lhe porque se refere a uma das praxes do meu curso e porque apesar da fraca audiência que isto possa ter, não quero mal-entendido.
1- Quem ouviu dizer que tal ou conclui uma história com princípio, meio e fim através de uma só imagem, não pode certamente chamar a isto "notícia".
2 - Posso dizer-lhe que já fui para o lago COMO CALOIRA E COMO "DOUTORA". Para lhe explicar em modo que entenda, as chamadas doutoras vão para o lago com as caloiras. Porém, os caloiros costumam ser incentivados a tirar os boxers, ou seja, ficarem nus no lago. Escândalo!! Não. Os caloiros tiram os boxers dentro de água que como vê pela foto do sr. professor não é propriamente transparente e límpida, pelo que nada se vê. Os padrinhos dos mesmos caloiros ficam a assistir para que no fim quando estes saírem os cobrirem rapidamente com uma "toalha" - a capa- e assim não ficarem expostos.
3 - Nunca em 3 anos vi ninguém com pneumonia devido a ter mergulhado no lago. E sabe? A pneumonia pode ser transmitida de pessoa para pessoa, sem necessidade de exposição a temperaturas frias. Eu própria fiquei com pneumonia por ter ido a um jantar em que se encontrava um amigo meu que estava em estado de convalescência. Por isso, um concelho: se não quiser ficar com pneumonia, o melhor é não sair de casa.
4º e por último, os caloiros não são obrigados a ir, especialmente em más condições meteorológicas como foi o caso!
Cumprimentos.
Penso que temos uma
Penso que temos uma discordância básica em relação à importância de uma pessoa tirar a roupa e meter-se numa fonte com água suja num dia de frio para a sua integração académica. Quem sabe, talvez até haja quem ache que isso é o cúmulo da diversão. Uma sugestão para essas pessoas: organizem um "banho público de integração", devidamente anunciado nas faculdades, e vejam quanta gente aparece de livre vontade.
Meu caro senhor. Desde já lhe
Meu caro senhor. Desde já lhe digo que enquanto caloiro também me meti nesse lago do jardim botânico, e tal como eu muitos dos doutores também o fizeram e todos os anos o mesmo acontece, caloiros, caloiras, doutores e doutoras nadam juntos no lago do jardim botânico. No ano em que fui caloiro calhou estar um dia quente, mas nem todos os Setembros são quentes. Após ler a sua notícia impregnada de uma tal enormidade de ignorância sobre o assunto, peço-lhe e convido-o a que no próximo ano venha assistir e participar nesta praxe. Depois de mais de um ano de promoção de desistência e boicote à praxe, creio que nesta altura do campeonato é que se pode afirmar que ninguém é realmente obrigado a lá estar e todos temos boca. Quanto ao conselho de veteranos penso que deveria informar-se melhor antes de publicar as atrocidades que escreveu.
Claro que os comentários têm
Claro que os comentários têm que ser aprovados. Logo se vê a vossa capacidade de tolerância a opiniões alheias, demonstra até um comportamento narcisista da vossa parte. Cumprimentos de um praxista ;-)
Ou é ignorância ou falta de verdade, ou ambos...
O Sr. Ricardo Coelho deveria informar-se melhor dos factos que apresenta na comunicação social. Pode ter a sua opinião em relação ao que quiser. No entanto não pode inventar factos. Só um exemplo, na foto que acompanha o texto a legenda diz: "Uma praxe normal em Coimbra: "caloiros" e "caloiras" metem-se numa fonte, num dia de frio e chuva, enquanto os praxistas observam tudo bem aconchegados nos seus trajes. " Não é bem, assim... na verdade, a maior parte dos indivíduos dentro do lago não são caloiros. E na verdade não se trata de uma imposição aos caloiros saltar para o lago, e nunca ninguém apanhou uma pneumonia por dar um mergulho naquele lago. Que eu saiba, quando andou por aí toda a gente a mandar banhos públicos não havia problema... É triste esta ESQUERDA que tem tanta falta de valores como de informação.
Add new comment