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Tang@s, casamentos e direitos de facto

Há um ultra-conservadorismo nacional que veste desconfortavelmente uma capa liberal.

Que quer ir mais longe mas teme a distância entre o que sente verdadeiramente e a maioria social actual. Assim, não quer mostrar o preconceito contra a homossexualidade e esconde-se em artifícios para votar contra o acesso de todos/as ao casamento civil.

E faz o mesmo, salvaguardando as devidas distâncias, relativamente às uniões de facto. A direita política não pode hoje dizer que o casamento é o caminho natural que todos deveriam seguir e que qualquer outra possibilidade é desviante e destruidora da família e da sociedade. Então inverte o discurso e adopta um suposto liberalismo: todos os que queiram direitos para as relações de facto estão a querer legislar a intimidade alheia num acto absolutista contra a liberdade de escolha. Nas palavras de Marques Guedes um “materialismo diabólico, de tudo querer controlar e regular na vida das pessoas” questionando-se, na tentativa de ironizar, se a esquerda irá apresentar também uma “lei do namoro”. Mas a grande ironia é mesmo o conservadorismo socorrer-se de um liberalismo que é uma tanga. A cruzada pela hetero-normatividade casamenteira chega pela via retorcida: se queres direitos, casa-te; se não escolheste casar não podes ter direitos!

Há um ultra-liberalismo nacional que veste com facilidade os trajes da governabilidade responsável em tons rosa-laranja. É no fundo um consenso tão liberal quanto conservador: austeridade é o nome da factura que cabe sempre aos mesmos pagar e o Estado deve ser sempre mínimo e só pode intervir na economia para salvar os negócios dos amigos. PS e PSD vivem agora numa união de facto assumida. E não é preciso legislar esse namoro mais que institucionalizado entre o centrão e os interesses dominantes. A sua tanga é que só há uma receita, que só pode ser assim e que é tudo em nome do interesse nacional. É um liberalismo que é um tango.

Mas havemos dançar outro ritmo. Pode até ser um tango ou o que a imaginação nos ditar, mas amanhã, contra a crise dos factos consumados, vamos dançar nas ruas. Sabemos que quando as ruas dançam nascem os direitos de facto.

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Professor.
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