You are here
Catarina Martins: “Projetos de cisão não fazem a unidade da esquerda”
Instada pelos jornalistas a comentar a desvinculação do Fórum Manifesto do Bloco de Esquerda, que levou à saída do partido da ex-deputada Ana Drago, Catarina Martins recordou que a socióloga integrou a direção do Bloco de Esquerda desde há muitos anos e fez parte da orientação política do partido, apoiando-a até recentemente. “Há seis meses mudou, tem mantido uma opinião diferente, as pessoas têm direito a mudar de opinião, mas essa mudança faz com que não seja surpreendente a sua saída”.
Na opinião de Catarina Martins, nos últimos seis meses foram criados novos movimentos que, ao promover cisões, não foram capazes de criar nenhuma verdadeira unidade. “Ou seja, são apenas dispersão”. A coordenadora nacional sublinhou que “o projeto do Bloco de Esquerda surgido há 15 anos continua a ser muito importante para o nosso país. Consideramos que os projetos de cisão não fazem a unidade da esquerda. O que é preciso, sim, é continuar a trabalhar, a ser capaz de dialogar sobre programas concretos para uma alternativa concreta”.
Recuperar salários e pensões, proteger o Estado social
Reconhecendo que o Bloco de Esquerda vive na situação difícil em que Portugal também vive, Catarina Martins insistiu que o caminho escolhido pelo Bloco, sendo difícil, “é aquele que pode construir a alternativa para o país, que pode levar um governo decente, que permita recuperar salários e pensões, proteja o Estado social, crie emprego”. E neste caminho, apontou a coordenadora, “o Bloco de Esquerda esteve junto com muitas pessoas de outros partidos, do PS, do PCP, em vários fóruns que criaram programas de esquerda consistentes. Fóruns diversos, como o Congresso Democrático das Alternativas, o programa de reestruturação da dívida – tantos programas que juntaram pessoas diferentes à esquerda para estudarem o que o nosso país precisa para que haja uma rutura com a austeridade.”
“Registo que uma parte das respostas passa hoje por, em vez de continuar a trabalhar sobre um programa de união à esquerda, alternativo, se vira hoje mais para possibilidades governativas com o Partido Socialista, desistindo desse programa comum que foi construído ao longo destes anos”.
Face à dificuldade deste caminho, há naturalmente respostas diferentes, observou a deputada do Bloco. “Registo que uma parte das respostas passa hoje por, em vez de continuar a trabalhar sobre um programa de união à esquerda, alternativo, se vira hoje mais para possibilidades governativas com o Partido Socialista, desistindo desse programa comum que foi construído ao longo destes anos”.
Papel do Bloco não é apoiar governos que mantêm austeridade
Catarina Martins disse-se convicta de que não se deve desistir de um programa comum à esquerda, que tenha verdadeira capacidade de rutura com a austeridade. “O Bloco de Esquerda tem feito essa reflexão, dentro do partido, e fora, com tantas pessoas que nos têm acompanhado neste debate”. Recordando que o partido vive num período de preparação da próxima convenção, em que há visões diferentes, afirmou que o Bloco de Esquerda tem uma posição coesa para um programa de esquerda que passa pela reestruturação da dívida, pela rejeição do Tratado Orçamental, portanto, pelos instrumentos que permitem ao país romper com a austeridade recuperar salários e pensões, criar emprego, e proteger o Estado social. “Continuamos a acreditar que este é o programa que deve dirigir todas as conversas, todos os consensos e todas as uniões à esquerda. Porque sem um programa forte correríamos sempre o risco de termos governos que não são capazes de romper com a austeridade”.
“Consideramos que o papel do Bloco de Esquerda não é apoiar governos que mantêm uma política de austeridade. O Bloco de Esquerda deve sim continuar o diálogo para unir forças para um governo que seja capaz de fazer a rutura com a austeridade.
Para não deixar dúvidas, Catarina Martins enfatizou: “Consideramos que o papel do Bloco de Esquerda não é apoiar governos que mantêm uma política de austeridade. O Bloco de Esquerda deve sim continuar o diálogo para unir forças para um governo que seja capaz de fazer a rutura com a austeridade. É um caminho difícil, mas temo-lo feito”.
“Diálogos concretos e que têm impacto na vida das pessoas”
Finalmente, a coordenadora chamou a atenção para o facto de, nos últimos anos, o Bloco de Esquerda ter sido capaz, “precisamente porque tem essa capacidade de aliança, de conseguir que propostas suas fossem hoje lei em Portugal e tornassem o país um pouco mais decente”, dando como exemplo os trabalhadores da função pública, os desempregados, as pessoas que estão doentes, que “sabem bem que a possibilidade de alianças que o Bloco de Esquerda abriu permitiu que o Tribunal Constitucional ordenasse reposição de salários, de subsídio de desemprego e de doença. Portanto, de facto, há diálogos concretos e que têm impacto na vida das pessoas”.
Comments
Esquerda
A associação Fórum Manifesto anunciou a sua "desvinculação" do Bloco de Esquerda. Objectivo: desenvolver “outros espaços de intervenção política” para “influenciar a governação do país”. Isto nem parece duma esquerda moderna que ainda acham que o PS é reformável e que pode governar à esquerda… ter boa gente no partido é uma coisa, ser de esquerda já é outra discussão. Porque não influenciam a governação do PSD/CDS-PP?
Não é fora do BE que o discurso, sempre distantes do sentir concreto das pessoas que se unificam as esquerdas, pelo contrário ainda divide…é o MAS, o LIVRE, o MANIFESTO, etc…isto não dá credibilidade a ninguém…e a direita lá vai cantando e rindo ao som dos trombones.
Os Grupelhos
O síndrome dos grupelhos teima em não deixar a Esquerda. Como bem ilustraram os Monty Python's em the people's front of judea. Cada um encerrado nas sua Verdades. Com os seu dogmas. Os seus chefes e chefinhos. Agora, este punhado de Homens Responsáveis de Esquerda parecem querer que nos submetamos aos princípios de realidade estabelecidos pelas forças da Direita e do Capital. Querem que aceitemos a Realidade de milhões na pobreza, na fome, no desemprego, sem futuro nenhum. Mais, parece que querem excluir centenas de militantes que no BE e antes dele têm dedicado as suas vidas a lutar por uma vida mais digna para todos os seres humanos. Num golpe de mágica muito estranho, querem apagar o passado.
é oficial:
é oficial:
Ana D. quer um governo rosa.verde e deixar os vermelhos de fora.
Farsa Democrática
A linha divisória entre PS e PSD é uma farsa que se fundamenta na ideologia do consenso.
O expectável é que surja, e se manifeste, o conflito real entre interesses diferentes e diferentes visões de futuro.
A posição das ideologias conflituantes é, no dizer de Mészáros, decididamente assimétrica. “As ideologias críticas, que procuram negar a ordem estabelecida, não podem sequer mistificar seus adversários pela simples razão de não terem nada a oferecer - nem mesmo subornos ou recompensas pela aceitação – àqueles já bem estabelecidos em suas posições de comando, conscientes de seus interesses imediatos palpáveis. Portanto, o poder de mistificação sobre o adversário é privilégio exclusivo da ideologia dominante.
Projetos de cisão não fazem a unidade da esquerda
Quando a direita acabou de pousar a cabeça sobre o cepo. Quando a esquerda tenta construir laços e pontes de entendimento para conseguir ser alternativa de rotura com as políticas vigentes de submissão ao grande capital, aqui e na europa, eis que os heróis saem das revistas de banda desenhada e saltam para a ribalta. Hoje mais do que nunca a esquerda tem que estar unida e isso só acontece com um BLOCO forte e unido também. Desintegrar o BLOCO para possibilitar um governo PS, não é unir a esquerda mas sim fortalecer o centro-direita. O povo português espera agora uma rotura com o capital (ao qual o PS está submissamente ligado) e não o contrário. Qualquer possibilidade de convergência tem imperativamente por base as mudanças de política e de actuação do PS e não da esquerda. A esta cabe reforçar a luta na defesa dos direitos dos trabalhadores e de todas as conquistas do 25 de Abril, que pouco a pouco também o PS tem ajudado a destruir.
As roturas no Bloco de Esquerda, primeiro dando origem ao LIVRE, depois as posições da UDP e do Fórum Manifesto, não são mais do que movimentos oportunistas na espreita de uma oportunidade de “realização pessoal…”. As políticas progressistas de esquerda são incompatíveis com os laivos de feudalismo a que temos assistido desde o 25 de Abril. Os lacaios põem-se do lado do poder reinante para salvar a pele ambicionando um titulo ainda que modesto. Este é o mais importante fator para o estado atual das coisas.
João Castro
Add new comment