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BES: Um tsunami que começa por uma zanga de família

Foram 145 anos do grupo bancário de todos os regimes, que agora não sabe se consegue pagar as contas do próximo mês.
Quando Salgado foi pedir dinheiro a Passos Coelho, e depois a José Eduardo dos Santos, e agora a Nicolas Maduro da Venzuela, ficou demonstrado que já não tinha saída. Foto de Paulete Matos

A crise do Grupo Espírito Santo é a tempestade perfeita onde convergem a especulação e as dívidas impagáveis (7 mil milhões de euros de dívida do grupo), o poder imenso com a sua impunidade (nenhum grupo ou banco teve tanta influência em sucessivos governos ao longo de gerações) e a cavalgada de benefícios de rendas (a privatização da PT, os sucessivos contratos com o Estado, a começar pelo dos submarinos), que são reduzidas num período de recessão prolongada.

As quatro gerações dos banqueiros que foram “donos disto tudo” (“DDT”) chegam ao fim no meio de quezílias, lutas intestinas e conversas de comadres. Foram 145 anos do grupo bancário de todos os regimes, que agora não sabe se consegue pagar as contas do próximo mês.

De tudo isto o Esquerda.net tem dado nota desde há muitos anos. O caso Portucale, o financiamento ao CDS, as operações da Escom, as manobras angolanas, as comissões da Ferrostaal, o dinheiro de Pinochet nas agências offshore do BES, a comissão paga a Ricardo Salgado por um empresário que atua em Angola, o escândalo Monte Branco e a Akoya, a relação conflituosa com Álvaro Sobrinho e o general Kopelipa, tudo isso foi escrutinado aqui e noutros lugares (nos livros “Os Donos Angolanos de Portugal” ou “Os Burgueses”, por exemplo). As quatro gerações dos banqueiros que foram “donos disto tudo” (“DDT”) chegam ao fim no meio de quezílias, lutas intestinas e conversas de comadres. Foram 145 anos do grupo bancário de todos os regimes, que agora não sabe se consegue pagar as contas do próximo mês.

 O efeito dominó começou quando este esquema deixou de pagar. As investigações de autoridades judiciais espanholas, luxemburguesas e norte-americanas, a pressão do Banco de Portugal para a saída de Ricardo Salgado (dez meses depois de ter o depoimento do contabilista da holding do Luxemburgo!) foram vindo a público e provocaram o irreparável: a administração e os acionistas estão sob suspeita. Quando Salgado foi pedir dinheiro a Passos Coelho, e depois a José Eduardo dos Santos, e agora a Nicolas Maduro da Venzuela, ficou demonstrado que já não tinha saída.

Sendo notória a passividade do regulador e do governo, deixando arrastar esta crise para a PT (Henrique Granandeiro é o homem do BES na PT e empenhou cerca de 800 milhões para salvar o seu acionista ... que pode não conseguir pagar no prazo) e para o negócio com a Oi, esta crise bancária vai-se tornando sistémica. Se fossem públicos os números sobre a evolução dos grandes depositantes no BES, então teríamos o retrato realista do que se está a passar...

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Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
Termos relacionados Crise do BES, Sociedade
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