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20 femicídios no primeiro semestre

O Observatório de Mulheres Assassinadas, da UMAR, contabilizou e divulgou, num estudo intercalar relativo ao 1º semestre, 20 homicídios de mulheres e 21 tentativas.

A violência contra as mulheres é um tema que irrompe pelas manchetes das notícias com uma fúria que choca e incomoda, mas que se eclipsa rapidamente antes de poder deixar marcas profundas. Não fica gravada a noção de que as histórias relatadas não são uma exceção mas sim uma realidade quotidiana muitas vezes silenciada e ocultada.

O alarme que muitas de nós ouvimos ao conhecer algumas conclusões do projeto Epiteen, através das declarações à comunicação social, de Elizabete Ramos, responsável pelo projeto e investigadora no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, não teve um eco tão amplo como esperávamos. Os números são avassaladores: dos 2.942 jovens participantes do projeto, 60% relatam pelo menos um ato de violência psicológica, 18% falam de pelo menos um episódio de violência física e 30% admitem pelo menos um ato de coerção sexual.

Sendo a morte o resultado extremo dos atos de violência contra as mulheres, a verdade é que o machismo mata e com base nas notícias reportadas na imprensa escrita nacional sobre femicídios e tentativas de femicídio na conjugalidade, em relações de intimidade e em relações familiares privilegiadas, o grupo de trabalho do Observatório de Mulheres Assassinadas, da UMAR, contabilizou e divulgou, num estudo intercalar relativo ao 1º semestre, 20 homicídios de mulheres e 21 tentativas.

De acordo com este estudo os distritos onde mais mulheres foram assassinadas foram o distrito de Lisboa, com nove mulheres assassinadas, seguido do distrito de Setúbal com três vítimas mortais. No que se refere à relação entre vítima e agressor a maioria dos agressores tinham ou já tinham tido uma relação de intimidade com a vítima e no histórico da sua relação já existiam situações documentadas de violência doméstica ou outro tipo de violência na relação. Estas mulheres tinham idades compreendidas entre os 36 e os 50 anos de idade em 38% do total das situações registadas e entre os 24 e os 35 anos de idade em 24% dos crimes.

A violência que fere e que mata as mulheres muitas vez saí impune das instâncias de justiça que acabam por revitimizar as mulheres que corajosamente procuram denunciar os agressores e esperam justiça. Um tribunal que absolve um agressor previamente condenado por violação por considerar que não houve violência suficiente não só viola todos os princípios de liberdade e autodeterminação sexual, constitucionalmente protegidos, como perpetuam a desigualdade entre mulheres e homens face à lei e perpetuam o silêncio das vítimas, demovendo-as de denunciar os seus agressores. Os tribunais são tantas vezes o altar onde o sistema patriarcal sacrifica as mulheres.

A luta pela eliminação da violência contra as mulheres que se impõe é enorme e estamos prontas para ela. A primeira batalha que não estamos dispostas a perder é a batalha contra o silêncio. Palavra a palavra, artigo a artigo, até que todas sejamos livres.

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Relações Internacionais. Ativista social. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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