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Marisa Matias: “Nem a troika acredita no que diz”

“Objetivos claros são a destruição do Estado social, a redução de salários e pensões e, pelo caminho, ir matando a democracia”, afirma a eurodeputada do Bloco, denunciando que os relatórios do FMI e da Comissão Europeia revelam que ninguém acredita no chamado ajustamento económico, muito menos quem o impõe.
“Objetivos claros são a destruição do Estado social, a redução de salários e pensões e, pelo caminho, ir matando a democracia”, afirma Marisa Matias - Foto de Paulete Matos

A eleita do Bloco de Esquerda integrada no GUE/NGL analisou os relatórios do FMI e da Comissão Europeia que antecederam a 11ª avaliação da troika durante a sua crónica semanal no programa Conselho Superior e concluiu que os resultados da 11ª avaliação vão trazer “mais do mesmo” porque para tal “basta haver a pressão de Bruxelas para a chamada ‘saída limpa’ da troika, uma coisa que não existe”.

O que o relatório do FMI reconhece, disse Marisa Matias, é que o essencial do débil crescimento económico se deve à procura interna, “à reposição dos subsídios de férias e do 13º mês determinada pelo Tribunal Constitucional depois de o governo os ter cortado”. Ou seja, o pouco que a economia do país cresce “deve-se ao respeito pela Constituição”, pelo que “se o governo enveredar pelo retorno da austeridade será o fim da retoma económica”.

O relatório do FMI “arrasa as teses de Paulo Portas”, afirmou Marisa Matias. O ministro diz que a evolução da balança comercial se deve ao aumento das exportações quando o FMI o atribui à redução das importações, fruto da diminuição do poder de compra, da austeridade, através “das reduções de salários e pensões”. Mais austeridade significará retrocesso da balança comercial, previu a eurodeputada.

A eleita do Bloco de Esquerda salienta que, em si mesmo, o relatório do FMI estabelece metas que são “impossíveis de alcançar”: um ajustamento orçamental até 2020 com base num crescimento anual de 3,6% e um saldo primário de 2%. Impossíveis de alcançar, deduziu Marisa Matias, porque desde que existe o euro nenhum dos Estados membros da moeda única “conseguiu tamanha proeza”.

As características do relatório da Comissão Europeia “acompanham as do FMI”, comentou a eleita do Bloco de Esquerda. A partir de uma previsão da redução das exportações, a equipa de Barroso recomenda cortes de salários reais que podem chegar a 5% - em cima dos que já foram feitos – o que irá afectar quaisquer sinais de retoma económica.

Porque se diz então que os programas de ajustamento “são um sucesso”? Marisa Matias recorreu a um estudo de um instituto europeu que, analisando os 10 relatórios de avaliação produzidos pela troika, não descobriu uma única vez, em 1081 páginas, as palavras “pobreza e desigualdade social”. Em compensação, a palavra “orçamental” vê-se pelo menos uma vez por página.

O “ajustamento foi um sucesso porque tudo o que correu mal fica de fora”, afirmou Marisa Matias. Isto é, “ninguém acredita no ajustamento porque os objetivos são destruir o Estado social, reduzir os salários e pensões e, pelo caminho, ir matando a democracia”.

Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu

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