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Angola: Polícia liberta jornalistas, mas mantém manifestantes presos

Na sequência da repressão à manifestação desta quinta-feira, vários manifestantes detidos relataram os atos de tortura de que foram vítimas. Rafael Marques e outros dois jornalistas foram presos quando entrevistavam os manifestantes libertados. Após várias horas de interrogatório, os jornalistas foram libertados. No entanto, sete manifestantes continuam presos e dois dos jornalistas estão na DPIC em solidariedade. Notícia atualizada às 22.30 de 20 de setembro de 2013
Rafael Marques foi detido com outros dois jornalistas quando entrevistava os manifestantes que acabavam de ser libertados à porta do Tribunal de Polícia em Luanda.

Os três jornalistas - Coque Mukuta, Rafael Marques e Alexandre Solombe – foram libertados após várias horas de interrogatório, disse à Lusa Coque Mukuta.

Este jornalista referiu que o diretor-adjunto da Direção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) pediu desculpas aos jornalistas pelos "excessos por parte dos agentes".

Porém, como sete dos nove manifestantes, que tinham sido presos na sequência da manifestação reprimida e entretanto libertados, foram de novo presos, os outros dois jornalistas continuam na DPIC em solidariedade.

"Os jovens continuam detidos. Nós fomos já libertados, mas o Rafael Marques e o Alexandre Solombe continuam lá em solidariedade com os manifestantes", disse Coque Mukuta à Lusa.

 

Rafael Marques e outros dois jornalistas - Alexandre Solombe e Coque Mukuta, correspondente da Voz da América - foram detidos esta sexta-feira quando entrevistavam os ativistas presos esta quinta-feira no local onde se deveria realizar uma manifestação contra as injustiças sociais e o abuso de poder do governo angolano. O site Maka Angola relata que os jornalistas entrevistavam junto ao Tribunal de Polícia os manifestantes que tinham acabado de ser libertados, "quando foram cercados por elementos da Polícia de Intervenção Rápida e levados numa carrinha para parte incerta". 

A polícia levou igualmente seis dos nove manifestantes libertados e um membro do Bloco Democrático conseguiu escapar à detenção. Também detido e sem acesso a comunicar com o seu advogado esteve o presidente do Sindicato dos Professores Angolanos (SINPROF), Manuel Vitória Pereira, também membro do Bloco Democrático. O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) emitiu esta sexta-feira um comunicado a exigir a imediata libertação do dirigente sindical. Os familiares de Manuel Vitória Pereira estavam preocupados com o estado de saúde do sindicalista, que é diabético e ficou muitas horas sem tomar a medicação, pondo em risco a sua vida. O sindicalista foi libertado juntamente com os jovens manifestantes. 

A tentativa de manifestação desta quinta-feira, convocada pelos jovens do Movimento Revolucionário, foi duramente reprimida pela polícia angolana, com o Maka Angola a registar 23 detidos. Alguns dos que foram entretanto libertados contaram ao portal coordenado pelo jornalista Rafael Marques alguns pormenores da tortura a que foram sujeitos logo após a detenção.

 

“Um agente da Polícia Nacional picou-me várias vezes na cabeça com um sabre. Espancaram-me brutalmente, atiraram-me ao chão, pisaram-me no peito com botas”, disse Fernandes da Silva, de 20 anos, ao portal angolano, acrescentando que após entrar na carrinha da polícia “o agente amarrou-me os testículos com o atacador e, com toda a força, foi o caminho todo a puxá-los”. “Sangrei muito, mas a polícia não me prestou os primeiros socorros”, denunciou.

Outro jovem detido foi José Augusto Camilo, de 19 anos, que acusa um dos agentes à paisana que o imobilizou de lhe ter aplicado uma injeção nas costas. "Não sei com o quê e qual será o efeito”, acrescentou. Um outro manifestante afirmou ter sido agredido violentamente na esquadra. “A polícia colocou um panfleto falso, que eles inventaram, na barriga do Camilo, que já estava injectado por eles. A polícia trouxe a TPA (televisão controlada pelo regime angolano) que o filmou assim, sem camisa, para fazerem a propaganda que nós queremos guerra”, explicou o manifestante.

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