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Apontamento sobre a “alma portuguesa”
Que fique claro: considero que Eusébio era um futebolista notável que nos deu imensas alegrias. Estava muito além dos vários aproveitamentos políticos que do seu trabalho se fizeram e do paternalismo serôdio com que tantas vezes foi tratado. Não partilho igualmente de qualquer sentimento elitista contra o futebol, nem considero que o Panteão deva ser um mausoléu de ilustres representantes da cultura erudita. Acho apenas que não faz sentido e que representa uma conceção museológica, fixista, bafienta, obsoleta e conservadora de pátria e de imortalidade.
Do mesmo modo classifico de aterradoras e reacionárias as declarações do Ministro Marques Guedes sobre Eusébio como símbolo “da alma portuguesa”, do “ser português” e da “essência nacional”. Não sei o que isso é, mas conheço os usos ideológicos de tais representações como forma de criar uma narrativa (como agora se diz) sobre o consenso capaz de anestesiar os conflitos concretos e de fazer esquecer memórias sombrias. A “alma portuguesa” inclui a guerra colonial e os massacres de Wiriyamu e Juwau? O “ser português” contempla o racismo, a xenofobia e a persistente discriminação de contornos étnicos? A “essência nacional” são os “brandos costumes”? Os que nos dirão sobre isto os negros, os ciganos, os pobres?
Todos estes usos visam paralisar a história e o que nela é polémico, assim como promover uma amnésia coletiva sobre os mecanismos de produção de preconceitos e dos próprios sistemas de desigualdades. Por isso a esquerda não pode compactuar com estes discursos, sob pena de anular a sua razão mais radical.
Comments
Se o Panteão tivesse dois
Se o Panteão tivesse dois andares -o Eusébio podia ficar como "desportista" e a Soffia num quarto sozinha
O Eusébio foi um atleta de
O Eusébio foi um atleta de excepção, o grande futebolista que a minha geração idolatrava, mas isso não me leva a concordar com este endeusamento e aproveitamento politico, que TODOS, e infelizmente também o Bloco, tentam levar a cabo.
Deixem ficar o Eusébio onde está, ou então criem num qualquer cemitério um talhão dos desportistas onde coloquem o Eusébio, e todos aqueles que se vão destacando nas várias modalidades.
Senão amanhã estaremos a discutir o que fazer de Carlos Lopes e Rosa Mota, quando eles nos deixarem.
Já para não falar no Cunhal, no Otelo e no Mario Soares , ou no Siza Vieira, no Saramago , no Julio Pomar etc etc.
Estou totalmente de acordo
Estou totalmente de acordo com o Teixeira Lopes. Ontem parecia, não um dia da democracia, mas, antes, um dia do estado novo.
De facto o Eusébio foi um atleta com muitas capacidades físicas. Mas, isso, só por si, não é suficiente para ir para o Panteão Nacional. Aproveito também para contestar o trabalho das televisões, em relação ao Inglaterra-Portugal da meia final do Mundial de futebol de 1966, em que a ação atlética do Eusébio foi muito diminuída. É que eu vi esse jogo em direto.
De acordo com o Joáo Teixeira
De acordo com o Joáo Teixeira Lopes.
Só que, onde ele coloca pontos de interrogação eu colocaria pontos de exclamação; porque a "alma portuguesa" é mesmo aquilo.
E a pátria é uma construção destes pilantras e dos seus avoengos que lhes garante o domínio ideológico que assegura, mais que as armas, o seu poder. Aliás a pátria nem é outra coisa.
Essa mesma pátria é destroçada pelo capital e pela luta de classes que, aliás, é teoricamente e, agora, cada vez mais praticamente, internacional.
Quanto ao panteão se quiserem lá pô-lo tanto se me dá. É a arrecadação da pátria por muito justamente ilustres que sejam tantos dos que lá estão.
Concordo com a tua opinião,
Concordo com a tua opinião, João.
Acho que a posição do BE foi "precipitada" em relação ao Panteão ! Não teria sido melhor respirar primeiro ?
Nunca pensei que a direção do
Nunca pensei que a direção do Bloco também chegasse a um oportunismo desta natureza. Quem consultou a direção do BE para reforçar o unanimismo da Assembleia da República acerca da ida dos restos mortais do Eusébio para um dos dois panteões nacionais ? Nem o Eusébio, em vida, estava de acordo com isto. Ao menos, deviam respeitar o Eusébio.
Tanta conversa à volta do
Tanta conversa à volta do Eusébio, o mesmo é dizer que eles conseguiram passar a bola das terríveis políticas de austeridade para o próximo ano e muitos outros que ainda estão para vir, para o pé de um morto.
Essa do panteão dá vontade de vomitar, o próprio panteão não é mais que símbolo dessa excrescência da "alma portuguesa" do "ser português"e por aí adiante. Foi ridículo o voto do BE.
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