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Pepe Mujica na ONU: “O deus mercado financia a aparência de felicidade”
Aos jornais uruguaios, Mujica prometera um “discurso exótico” e de facto fugiu do protocolo ao dizer que “tem angústia pelo futuro” e que a nossa “primeira tarefa é salvar a vida humana”. “Sou do Sul e carrego inequivocamente milhões de pessoas pobres na América Latina, carrego as culturas originárias esmagadas, o resto do colonialismo nas Malvinas, os bloqueios inúteis a Cuba, carrego a consequência da vigilância eletrónica, que gera desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego a dívida social e a necessidade de defender a Amazónia, nossos rios, de lutar por pátria para todos e que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, com o dever de lutar pela tolerância.”
A humanidade sacrificou os deuses imateriais e ocupou o templo com o “deus mercado, que organiza a economia, a vida e financia a aparência de felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir. E quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza, a autoexclusão”. No mesmo tom, sublinhou o fracasso do modelo adotado no capitalismo: “o certo hoje é que para a sociedade consumir como um americano médio seriam necessários três planetas. A nossa civilização montou um desafio mentiroso”.
Para o chefe de Estado, que já havia surpreendido o mundo com o seu discurso durante a cimeira Rio+20, criámos uma “civilização que é contra os ciclos naturais, uma civilização que é contra a liberdade, que supõe ter tempo para viver, (…) é uma civilização contra o tempo livre, que não se paga, que não se compra e que é o que nos permite ter tempo para viver as relações humanas”, porque “só o amor, a amizade, a solidariedade, e família transcendem”. “Arrasamos as selvas e implantamos selvas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insónia com remédios. E pensamos que somos felizes ao deixar o humano”.
Mujica defendeu a utilidade da produção de recursos no mundo: temos que “mobilizar as grandes economias não para produzir descartáveis com obsolescência programada, mas para criar coisas úteis para a população mundial. Muito melhor do que fazer guerras. Talvez nosso mundo necessite de menos organismos mundiais, destes que organizam fóruns e conferências. E que no melhor dos casos ninguém obedece”. “O que uns chamam de crise ecológica é consequência da ambição humana, este é nosso triunfo e nossa derrota”.
E defendeu que é através da ciência e não dos bancos que o planeta deve ser governado.
Paz e guerra
“A cada 2 minutos gastam-se 2 milhões de dólares em orçamentos militares. As investigações médicas correspondem à quinta parte dos investimentos militares”, criticou o presidente ao sustentar que ainda estamos na pré-história: “enquanto o homem recorrer à guerra quando fracassar a política, estaremos na pré-história”, defendeu o mandatário ao criticar a política da guerra.
Assim, criamos “este processo do qual não podemos sair e causa ódio, fanatismo, desconfiança, novas guerras; eu sei que é fácil poeticamente autocriticarmos. Mas seria possível se firmássemos acordos de política planetária que nos garanta a paz”. Ao invés disso, “bloqueiam os espaços da ONU, que foi criada com um sonho de paz para a humanidade”.
O uruguaio também abordou a debilidade da ONU, que “se burocratiza por falta de poder e autonomia, de reconhecimento e de uma democracia e de um mundo que corresponda à maioria do planeta”.
“Nosso pequeno país tem a maior quantidade de soldados em missões de paz e estamos onde queiram que estejamos, e somos pequenos”. Dizemos com conhecimento de causa, garantiu o mandatário, que “estes sonhos, estes desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais para governar nossa história e superar as ameaças à vida”. Para isso é “preciso entender que os indigentes do mundo não são da África, ou da América Latina e sim de toda humanidade que, globalizada, deve se empenhar no desenvolvimento para a vida”.
“Pensem que a vida humana é um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico é acima de todas as coisas, impulsionar e multiplicar a vida e entendermos que a espécie somos nós” e concluiu: “a espécie deveria ter um governo para a humanidade que supere o individualismo e crie cabeças políticas”.
Artigo de Vanessa Silva, do portal Vermelho.
Comments
Qdo a gente pensa que não vai
Qdo a gente pensa que não vai ter mais surpresa com o presidente Mujica, ele consegue sempre nos surpreender, que beleza!
Sou fã deste Pepe Mujica, os
Sou fã deste Pepe Mujica, os governantes de todo o planeta deveriam ouvi-lo com mais atenção e seguir um pouco que fosse dos seus exemplos, já estaríamos dando um passo concreto no melhor sentido...
Uruguai autoriza aumento de
Uruguai autoriza aumento de produção de polêmica fábrica de celulose. Presidente José Mujica afirmou que "não há espaço para negociar" com Argentina, que se opõe a ampliação.
O governo uruguaio anunciou nesta quarta-feira (02/10) sua autorização para que a fábrica de celulose UPM aumente sua produção em 100 mil toneladas anuais desde que cumpra uma série de requisitos ambientais.
O anúncio foi realizado pelo presidente José Mujica em uma declaração à imprensa em seu escritório, na qual destacou que a decisão se deve ao fato de já "não restar espaço para negociar" com a Argentina, cujo governo se opõe à ampliação da produção da fábrica.
"Autorizamos a aumentar a metade do que a empresa nos solicitou há dois anos, 100 mil toneladas, com caráter provisório, ou seja, revogável, porque estamos exigindo a instalação de uma torre de esfriamento para assegurar que os fluidos que cheguem ao rio tenham temperaturas abaixo dos 30 graus", detalhou Mujica.
Além disso, o presidente uruguaio afirmou que a empresa será obrigada a "rebaixar" o conteúdo de fósforo dos resíduos que atualmente verte no rio Uruguai.
Em um tom sério e sem aceitar perguntas, Mujica ressaltou que "a função de governar, às vezes" obriga a tomar "decisões dolorosas" já que é preciso "priorizar o interesse nacional" apesar de isso afetar "outros fatores que também são importantes".
Os rios que circundam a região estão sendo violentamente poluídos por dejetos de fabricação e o controle da qualidade das águas nunca foi feito. Os fãs deste sujeito podem verificar estas informações com mais cuidado, consultando as fontes fidedignas e não os jornalões que vendem supostos otimismos.
Muito bacana esse site e essa
Muito bacana esse site e essa maravilhosa entrevista desse grande e exemplar líder. Pena que no Brasil os "esquerdistas", todos, se espelham em Castro, em Guevara, Chaves, e outros genocidas. O próprio Lula é exemplo de ratazana, quando a primeira preocupação foi comprar um super jato, assim que assumiu a presidência. Taxar cesta básica de alimentos, ter todas as obras e compras oficiais superfaturadas, um cartão corporativo sem limites nem controles, etc, etc, etc,. Todos os comunistas russos tinham e tem super casas de veraneio fora da Rússia. Cadê o espírito coletivo de poder do povo anunciado em todos os discursos? Parecem pastores evangélicos que prometem o céu em troca dos dízimos que embolsam.
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