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Um porco no espeto por cada bairro

“Os portugueses estão fartos de política e de políticos”, diz Luís Filipe Menezes, político profissional há décadas, que protagoniza o protótipo da campanha dos candidatos do governo PSD/CDS: promessas ("vou exigir deste governo (...) mil milhões de euros para recuperar as casas abandonadas da cidade”) e um porco no espeto por cada bairro, na campanha eleitoral.

As declarações do porta-voz do PSD, Marco António Costa, fazem furor. Disse ele em Trás-os- Montes: “A terceira idade precisa de ver reforçado muito do apoio central que é dado por governos como este que nós representamos” (aceder à notícia aqui). O atual vice-presidente e porta-voz do PSD não fala dos swaps do Metro do Porto, de que ele é um dos responsáveis, e cujo buraco daria “para os utentes do Metro viajarem sem pagar um cêntimo durante os próximos 23 anos” (ver notícia aqui). Também não fala dos escandalosos cortes que o governo quer fazer nas pensões e reformas. Só lhe sobra a mentira mais descarada, para tentar influenciar setores menos esclarecidos e informados.

Mas as declarações abertamente mentirosas são apenas uma parte da estratégia populista do PSD na atual campanha eleitoral, cujo exemplo mais concretizado é a campanha de Luís Filipe Menezes no Porto.

O seu site de campanha(portoforte.pt), assim como o seu vídeo em destaque na secção do site “ideias orientadoras da candidatura”, mostram o que é em setembro de 2013 a apresentação de uma candidatura do governo. Quem vir pode perguntar: onde está a sigla PSD, ou o seu símbolo? Não está. E o candidato diz mesmo que os portugueses "estão fartos de política e de políticos", como se ele não fosse um político profissional há décadas. A sua campanha concentra-se em dar a ideia que fez obra em Gaia (e, portanto, fará no Porto) e prometer o contrário de toda a política do governo: "que os pobres enriqueçam e ascendam a uma classe média".

E, como elementos centrais de campanha: um porco no espeto por cada bairro, concertos de Quim Barreiros e a foto de uma glória futebolística do passado (João Pinto na candidatura de Menezes no Porto, Eusébio na de Seara em Lisboa).

No tempo da austeridade, a política da direita resume-se ainda mais ao velho populismo à moda de Ademar de Barros1, e à aposta na divisão entre setores populares (trabalhadores do privado contra os do público ou nova geração contra os reformados) e nas doações aos necessitados - assistencialismo em vez de serviços públicos.

A campanha do PSD é caricata e seria motivo para uma sonora gargalhada, não fosse a tragédia que enfrenta boa parte da população que vive em Portugal. Os candidatos do PSD (muitas vezes acompanhados pelo CDS) fogem do símbolo e sigla do partido, dizem o contrário do que o governo faz, e se prepara para agravar, e reduzem as suas iniciativas à pretensa “obra feita” e ao “circo” - um porco no espeto por cada bairro.

Podem continuar a ganhar em muitos concelhos, mas estão condenados a averbar uma derrota no dia 29. E se a derrota não for maior, deve-se muito ao “abstencionismo violento” tão praticado pelo PS (e concretizado no apoio ao memorando da troika”) e até a muito mimetismo com a direita, de alguns dos seus candidatos e dirigentes. Alguns exemplos apenas: Em Braga, o PS votou sozinho na Câmara a favor da estátua do cónego Melo; em plena campanha eleitoral, o dirigente socialista João Soares apresenta um livro do senhor da Bragaparques, que tentou corromper um vereador da Câmara de Lisboa. Em Cascais, o candidato do PS João Cordeiro, antigo presidente da ANF que fez dela um poderoso lóbi, afirma com toda a desfaçatez: “Tenho um passado de combate, ao serviço de um grupo profissional, contra a arbitrariedade, a incompetência e o amiguismo de muitos políticos que, no governo e nas autarquias, arrastaram Portugal para a ruína.” Em Odivelas e Loures, defende a privatização do abastecimento de água (um negócio chorudo contra a população), embora não deem ênfase disso na campanha eleitoral.

A melhor resposta a estas campanhas está nas propostas e ação alternativa como, por exemplo, a candidatura “E se virássemos o Porto ao contrário?” tem protagonizado (ver notícia no esquerda.net).

Quanto às pessoas que nos bairros querem comer o porco no espeto, talvez seja de lhes dizer: Se forem comer o porco, não se esqueçam de vos questionar: quem dá um porco por cada bairro o que quererá de volta? Votar nas candidaturas do PSD será apenas agravar as faturas que a população está a pagar e que, no caso do Porto, agravará a fatura do desvario dos swaps do Metro.


1 “Ademar rouba, mas faz”, ver wikipedia

Sobre o/a autor(a)

Editor do esquerda.net Ativista do Bloco de Esquerda.
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