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“Cem mil mortos não podem ser figurantes em jogos geoestratégicos!”
A intervenção da eurodeputada do Bloco de Esquerda integrada no grupo GUE/GNL foi proferida durante um debate sobre a situação na Síria realizado na sessão plenária do Parlamento Europeu a decorrer em Estrasburgo. “Opomo-nos à guerra civil”, prosseguiu a eurodeputada, “a solução tem de ser diplomática e política”, a opção “tem de ser dada ao povo sírio, a de viver em democracia, em paz e com direitos”: não pode ser restringida a “escolher entre a peste e a tragédia”.
Marisa Matias sublinhou a posição da Esquerda Unitária de “não reconhecer legitimidade a qualquer ator internacional relativamente à investigação do processo, a não ser as Nações Unidas”. “Não temos memória curta”, prosseguiu, “sabemos quantas vezes já fomos enganados”.
A eurodeputada do Bloco de Esquerda especificou que a “União Europeia pode fazer muita coisa”. Por exemplo, “apoiar os refugiados mais do que tem feito, apoiar a solução política ainda mais do que tem feito e liderar uma conferência internacional tendo em conta a proibição e destruição de armas químicas, nucleares e bacteriológicas”.
Marisa Matias deixou no ar uma interrogação final capaz de gelar toda a bancada “socialista e democrata”: “Seria interessante saber de que lado está o Sr. Hollande”.
Da bancada da Esquerda Unitária interveio igualmente no debate o eurodeputado espanhol Willy Meyer, que recordou os factos de 2003 quando o secretário de Estado norte-americano Collin Powell abriu as portas à invasão do Iraque através de dados sem consistência. “Não queremos outra guerra ilícita e ilegal baseada em falsas informações”, disse. “Qualquer forma intervenção é um regresso à barbárie”.
Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu.
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"Qualquer forma de
"Qualquer forma de intervenção é um regresso à barbárie". Acho que sim, para mantermos os elevados padrões civilizacionais que regem os nossos actos, devemos assobiar para o lado quando o exército e as milícias de Bashar massacram o povo sírio. Que ninguém se meta, isso é lá com eles...
A UE deve concentra-se em ajudar os refugiados, e procurar uma solução política. Tipo, sei lá, dividir aquilo, metade pró regime, metade para a oposição? O que é que a Marisa propõe? "A opção tem de ser dada ao povo sírio, a de viver em democracia, em paz e com direitos". Mas foi assim que tudo começou, Marisa... eles bem pediram democracia, direitos, eleições livres, fim da tortura e prisões arbitrárias, enfim as picuinhices do costume. Qual foi o resultado, Marisa? porrada e mais porrada (1000 mortos em 3 meses de manifs). Depois de 40 anos de ditadura, a malta fica um bocado farta, Marisa, digo-lhe por experiencia própria. Olhe, se fosse comigo, eu apoiaria qualquer revolta contra a ditadura, sabe, assim tipo um 25 de Abril, já ouviu falar?
Futuras intervenções de
Futuras intervenções de Marisa matias no Parlamento Europeu sobre a Síria:
em 2014: "150.0000 mortos não podem ser figurantes em jogos geoestratégicos! Opomo-nos a qualquer intervenção militar externa!"
em 2015: "200.0000 mortos não podem ser figurantes em jogos geoestratégicos! Opomo-nos a qualquer intervenção militar externa!"
em 2016: "250.0000 mortos não podem ser figurantes em jogos geoestratégicos! Opomo-nos a qualquer intervenção militar externa!"
em 2017: "300.0000 mortos não podem ser figurantes em jogos geoestratégicos! Opomo-nos a qualquer intervenção militar externa!"
Etc., etc.
Seria bom que a história nos
Seria bom que a história nos ensinasse alguma coisa acerca de intervenções imperialistas. Eu sei que é difícil conceber a luta e o mundo sem tutela, mas esse há-de ser o futuro.
O problema é outro, e muito
O problema é outro, e muito mais grave, além dos interesses nas guerras, por serem muito rentáveis para alguns países, há outro enorme interesse esse sim grave e que ninguém ataca nem combate, que é o interesse dos senhores do mundo, o aterrorizante Clube Bilderberg, que além de interessados nas crises económicas que têm acontecido no mundo, há um plano e um objetivo, que é esse mesmo que está a acontecer: destruições das economias mundiais para fragilizarem os povos, para serem mais facilmente dominados, e as guerras que servem para causar a depopulação mundial. Por isso, já devíamos saber que os massacres são propositados, as crises são propositadas, para interesse de alguns, e nós cordeirinhos falamos mas não somos ouvidos, porque somos gado a caminho do matadouro, não temos, ou não tivemos pulso para os impedir a tempo, agora já deve ser tarde demais, porque não é só com as nossas palavras que os derrotamos, era preciso muito mais. Mas como, se somos tão cobardes, a ponto de sermos até contra nós próprios!E quando se fala de milhares de mortos, para nós é aterrorizante, mas para eles, até é muito pouco, para alcançar os quatro mil milhões a longo prazo, que talvez nem seja assim tão longo.
Comparar os capitães de Abril
Comparar os capitães de Abril aos assassinos jihadistas que forçaram a população civil a fugir em massa nas zonas ocupadas pelos "rebeldes" daria vontade de rir, se não fosse tão triste...
O João Morais não acredita no relatório da ONU que acusa governo e rebeldes de crimes de guerra e quer atirar mais bombas para cima do povo sírio. Imagino que até verta uma lágrima quando os jihadistas tomarem Damasco à boleia dos EUA, como fez o José Manuel Fernandes no Iraque.
A Marisa faz bem em manter-se do lado dos que defendem uma solução política, em vez dos que aplaudem as chacinas e o derramamento de sangue a partir do seu sofá.
Caro Júlio Sousa, Sugiro-lhe
Caro Júlio Sousa,
Sugiro-lhe que aproveite um dos muitos descontos que as lojas de opticas estão a oferecer, e depois devidamente equipado volte a ler os meus comentários. Se mesmo assim descortinar qualquer apoio aos assassinos jihadistas no meu texto, então o (seu) problema será outro. Resumir a revolta do povo sírio aos assassinos jihadistas só pode ser estupidez, ignorância ou obscurantismo ideológico, escolha a carapuça que lhe sirva melhor. Alguns jihadistas são antigos conhecidos do regime sírio, quando este os despachava às centenas para o Iraque, e as suas acções beneficiam directamente o regime. Outros são muçulmanos sinceros que lutam de forma generosa ao lado do povo sírio, podemos ou não gostar das suas ideias (e eu não gosto) mas são o único apoio com que os revolucionários sírios podem contar... Quanto a Bashar, lá está a Rússia, O Irão, as milícias libanesas do Hezzbolah e iraquianos chiitas a sustentar o esforço de guerra. Cada qual escolhe o lado que lhe convém, opressores ou oprimidos. A sua escolha (e a do Bloco) é clara.
Tem razão em vários dos seus
Tem razão em vários dos seus pontos, mas aposto que muitos desses que chama romanticamente de revolucionários islámicos (isso quer dizer jihadistas) , não defendem o povo muçulmano mas sim um regime taliban como noutros países.
Existe uma falta de conhecimento sobre os muçulmanos e a sua forma de pensar, mas isso até a CIA falhou quanto mais por aqui. Revolucionários islámicos não são de esquerda. São revolucionários pelo Islão. Muitos querem depor este presidente para depois imporem o islão fundamentalista.
Dito isto concordo com a tomada de posição do Bloco, mas tem que se cnseguir uma solução diplotática que imponha a destruição das armas quimicas. Não defendo a guerra.
Cara Sara Saraiva, Yasser
Cara Sara Saraiva,
Yasser Arafat foi um revolucionário islâmico, acha que era um "jihadista"? Também não devemos confundir jihadista com fundamentalista. E não devemos confundir fundamentalista com anti-democrático. A jihad é um "dever" de solidariedade entre muçulmanos, em caso de necessidade perante uma agressão externa ou um regime injusto, remete para o conceito de "solidariedade internacionalista" que em tempos existiu na Esquerda. As "brigadas internacionais" da Guerra de Espanha eram jihadistas à sua maneira. Fundamentalistas são várias correntes do Islão que têm uma interpretação estrita das fontes, e na sua maioria não são "anti-democráticas", ou seja, não obrigam os outros a aderirem à sua visão do Islão. O Islão é por definição extremamente tolerante para com as outras religiões "do Livro", o Cristianismo e o Judaísmo. Veja que no Médio Oriente persistem importantes comunidades cristãs, depois de 1400 anos de domínio islâmico. Quantas comunidades islâmicas permaneceram na Península Ibérica depois da Reconquista?
No que se refere à
No que se refere à organização da Oposição no terreno, na Síria:
As forças da Oposição somam 150.000 a 200.000 combatentes, mas o número dos que podem combater em simultâneo é inferior, porque muitas brigadas possuem uma Kalashnikov para cada 3 ou 4 voluntários. Estes elementos estão (des)organizados em cerca de 10.000 brigadas, criadas em cada aldeia, vila ou bairro onde houve iniciativa e fundos para organizar a resistência à repressão. Após muitos meses de difíceis negociações, foram criados varios Comitês Superiores Militares para coordenar os combatentes ao nível de cada região, mas a sua autoridade é muito ténue. Localmente tem sido possível a coordenação voluntária entre várias brigadas em torno de batalhas estratégicas (p.ex: Aleppo, Damasco, Homs, Daraa). O número de combatentes estrangeiros ("jihadistas") é inferior a 20.000, na sua maioria não-fundamentalistas. Apenas 2 grupos reclamam adesão à AlQaeda: O EIIS (Estado Islâmico do Iraque e da SÍria), e a Jabath-al Nusra, com um máximo de 10.000 combatentes no conjunto.
Caro João Morais, Agradeço o
Caro João Morais,
Agradeço o seu conselho e no dia que precisar de ir ao oculista hei-de experimentar as lentes que o meu amigo usa para ver a realidade. Mas enquanto esse dia não chega, continuarei - com a sua licença - a opor-me aos que defendem que só as bombas irão trazer a paz a países longínquos onde nunca porão os pés. Quanto à "generosidade" dos jihadistas, recomendo mais uma vez a leitura - de preferência com óculos de ver ao perto - do relatório da ONU divulgado ontem:
http://www.ohchr.org/EN/HRBodies/HRC/RegularSessions/Session24/Documents...
Caro Júlio Sousa, Gostaria
Caro Júlio Sousa,
Gostaria que fosse possível levá-lo numa viagem no tempo, e ouvir os seus comentários à invasão da União Soviética pelas hordas nazis, apelando à não-intervenção "em países longíquos onde nunca porão os pés".
Bom, quando o argumento
Bom, quando o argumento atinge o nível do devaneio não há nada a acrescentar... Continuação de bons sonhos!
A transformação das
A transformação das revoluções sociais e políticas árabes em confrontos armados, na Líbia e na Síria - na Tunísia e no Egipto ainda foram apanhados desprevenidos - ou seja aquilo a que chamo "intercepção armada", foi o método adoptado pelos EUA e UE - França e UK principalmente - para impedir que do confronto entre o movimento popular, democrático e essencialmente laico e as ditaduras instaladas mas hostis ao "ocidente" embora por ele usadas - o Kadhafi sabujado pela UE e as prisões sírias usadas para torturar os prisioneiros da CIA - saíssem Estados e governos comprometidos com esses interesses populares expressos nas praças e nas rua que não seriam lacaios óbvios das petrolíferas e gasíferas... Para tal foram usados grupos jihadistas, alqaeda, a trampa toda fundamentalista - todas intervenções directas e indirectas dos EUA e UE, Afeganistão e Iraque, só tiveram como resultado o massacre e os refugiados e o desencadear de rivalidades fundamentalistas no controlo do poder - armados até ao ponto, segundo mais recentes informações minimamente credíveis, do fornecimento de contentores químicos como parece que a Arábia Saudita ofereceu aos "rebeldes" de fato e gravata para se mostrarem a contento do público ocidental pelos vistos não tão imbecilizado pela propaganda adequada como estavam a contar.A desgraça Síria está a mostrar, no entanto, uma consequência positiva: o isolamento cada vez maior dos "jihadistas" ocidentais, tais sejam os governos de Obama, Cameron e Hollande ridículo émulo de Napoleão.
A única solução era, há dois anos, não dar abébias criando e estimulando e armando os pretensos rebeldes, mas apoiar as reivindicações democráticas do povo e isolar o regime como se fez por exemplo com o appartheid e se devia estar a fazer com Israel.
Hoje, com as parcas à solta, há que parar de imediato o fornecimento de armas e apoio político aos "rebeldes" e impor regras duras ao Assad exigindo que ceda às reivindicações democráticas de há dois anos que os rebeldes, se vencessem esmagariam no primeiro minuto.
Caro Mário Tomé, Com todo o
Caro Mário Tomé,
Com todo o respeito e admiração que o seu percurso de vida merece, lamento a sua tomada de posição, devida certamente à falta de conhecimento sobre o que de facto se passa na Síria. Infelizmente, a estratégia de Bashar de perseguir, raptar e assassinar os jornalistas independentes, sírios e não-sírios, conseguiu este resultado: a desinformação e a propaganda inundam os meios de comunicação de massas. Todavia, com alguma experiência e algum conhecimento de línguas, é possível obter informações fidedignas de fontes genuínas, através dos meios alternativos produzidos por activistas locais, demasiadas vezes ao custo das próprias vidas. Os cem mil mortos da repressão do fascista Assad, os 2 milhões de refugiados, os 5 milhões de deslocados, os 200.000 presos políticos sujeitos a tortura, violação e assassínio nas cadeias do regime (incluindo muitos comunistas) merecem e precisam da sua solidariedade.
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