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Extremos de 2012 podem já ser o "normal" para o clima

Relatório reúne o trabalho de 384 investigadores de 52 países e aponta que altas temperaturas, degelo do Ártico e aquecimento dos oceanos fazem parte do que pode ser considerado o novo padrão para o planeta. Por Fabiano Ávila do Instituto CarbonoBrasil

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) divulgou na última sexta-feira (1) um extenso relatório sobre o clima em 2012, contendo centenas de dados e dezenas de gráficos que detalham como o ano foi marcado por altas temperaturas, maior frequência e intensidade de eventos extremos e pelo degelo do Ártico. Mas, o mais preocupante é que a entidade sugere que o cenário visto no ano passado já pode ser considerado como a nova “normalidade climática” do planeta.

“Muitos dos eventos que fizeram de 2012 um ano tão interessante são parte de tendências de longo prazo que prevemos num clima em mudança – níveis de carbono estão a aumentar, os oceanos estão a subir, o gelo do Ártico está a derreter e o nosso planeta como um todo está a ficar um lugar mais quente”, explicou Kathryn D. Sullivan, administradora da NOAA.

Intitulado “State of the Climate in 2012” o documento possui mais de 250 páginas e é uma coletânea do trabalho de 384 investigadores de 52 países.

Para chegar às conclusões apresentadas, foram utilizados dezenas de indicadores que acompanham e identificam mudanças e tendências gerais no sistema climático global. Entre esses indicadores estão: concentração de gases do efeito de estufa, temperaturas na baixa e alta atmosfera, cobertura de nuvens, temperatura na superfície dos oceanos, aumento no nível dos oceanos, salinidade dos oceanos, extensão do gelo marinho e da cobertura de neve. Cada um desses fatores foi avaliado através de milhares de medições de forma independente.

O Ártico ganha bastante destaque no relatório, com os investigadores a afirmar que a região está a experimentar mudanças sem precedentes e a quebrar muitos recordes. O gelo marinho chegou ao seu nível mínimo registado desde que as observações começaram há 34 anos. Além disso, mais de 97% da cobertura de gelo da Gronelândia apresentou alguma forma de degelo durante o verão, o que é uma percentagem quatro vezes maior do que a média entre 1981 a 2010.

As temperaturas médias do planeta também merecem atenção, pois quatro entidades de monitorização independentes classificaram 2012 como um dos dez anos mais quentes já registados. Países como os Estados Unidos e Argentina tiveram no ano passado a sua temperatura média mais alta.

No geral, a América Latina apresentou em 2012 temperaturas acima da média, com anomalias de calor e grandes variações a acontecer com frequência.

Por exemplo, São Paulo registou a temperatura mais alta em 57 anos num mês de setembro, 34,1ºC no dia 18, sendo que as altas esperadas seriam na faixa de 24ºC. Poucos dias depois, no dia 25, o sul do Brasil foi atingido por uma frente fria fora de época que trouxe temperaturas de 0,7ºC e neve.

A variação prosseguiu, e pouco mais de um mês depois, entre os dias 28 a 31 de outubro, toda a região sudeste enfrentou recordes de calor. Ribeirão Preto marcou 43ºC e São Paulo 42ºC.

O relatório destaca ainda que o Rio de Janeiro teve em 2012 o dia mais quente desde que começaram as medições, em 1915, 43,2ºC em 26 de dezembro.

A superfície dos oceanos também mostra aquecimento, com a média da temperatura em 2012 a ficar entre as 11 mais elevadas. No entanto, o relatório afirma que, devido ao La Niña, a taxa de elevação das temperaturas entre 2000 a 2012 foi menor do que a acompanhada entre 1970 a 1999. No entanto, o avanço dos níveis do mares prossegue, o ritmo estimado está em 2,8 a 3,6 milímetros por ano.

O relatório regista ainda a maior concentração de gases do efeito de estufa na atmosfera. A presença de dióxido de carbono, por exemplo, ultrapassou pela primeira vez a marca das 400 partes por milhão em mais de 3,2 milhões de anos.

A NOAA destaca que todos esses dados já eram conhecidos e que esse novo relatório tem como grande mérito apresentá-los em conjunto e de forma interligada. “É como estivéssemos a verificar o pulso do planeta”, concluiu Sullivan.

Artigo de Fabiano Ávila do Instituto CarbonoBrasil

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