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O PECzinho da ministra!

O hospital onde trabalhava a ministra como pediatra antes de ir para o Governo (Hospital Garcia de Orta) enfrenta dificuldades extraordinárias que o ministério ainda não foi capaz de resolver.

300.000 pessoas desfilaram ontem em Lisboa contra a austeridade imposta pelo Governo Sócrates e pela aliança Sócrates-Coelho. Anunciando medidas populistas de cortes de 5% nos ordenados dos deputados ou de 5% na despesa dos ministérios, o Governo decidiu deixar 200.000 desempregados sem apoio social. Ao mesmo tempo os off-shores continuam intactos, as grandes fortunas e os prémios milionários para gestores de empresas com participação pública continua intocável. O sistema financeiro continua a fazer estragos e com o apoio dos Estados.

Percebemos agora que a União Europeia deles era uma grande farsa – que nos momentos de dificuldade e aperto, os mais poderosos querem deixar cair os mais fracos, que a Europa verdadeira é a do directório Alemão e Francês e que serviu apenas para abolir fronteiras para deixar entrar o mercado especulativo! A solidariedade e a aproximação entre os povos europeus caiu logo no primeiro embate da crise.

Já levamos dois anos de crise sem solução à vista e com as condições sociais a piorar cada vez mais. Dois anos de crise em que cresceram as condições miseráveis dos contractos a termo e dos recibos verdes. Dois anos de aumento imparável do desemprego. Dois anos de crescimento da pobreza assalariada. E nestes dois anos há coisas que não mudaram… os salários milionários dos ricardos mexias e zeinal bavas deste país, a fuga de impostos para paraísos fiscais e a acumulação de riqueza na oligarquia económica que controla as decisões do centrão político!

Veio esta semana a ministra da saúde anunciar o seu PECzinho para a saúde – sem espanto, as suas preocupações são as de cortar 5% nas horas extraordinárias e promover (e ainda bem) o uso de genéricos. Mas os grandes sorvedouros da saúde continuam intactos. As empresas de trabalho temporário para médicos continuam a sorver do Estado milhões de euros para tapar buracos nas urgências e com menos 5% de horas extraordinárias supõem-se que este sorvedouro continue a aumentar. As parcerias PP anunciadas e as que já funcionam continuam a sorver do Estado as suas rendas parasitárias, sem no entanto ainda se ter conseguido provar a sua vantagem na gestão das unidades hospitalares (ao contrário, relembrem-se dos Mello no Amadora-Sintra)!

O hospital onde trabalhava a ministra como pediatra antes de ir para o Governo (Hospital Garcia de Orta), por exemplo, enfrenta dificuldades extraordinárias que o ministério ainda não foi capaz de resolver. O serviço de Obstetrícia-Ginecologia corre o risco de fechar por falta de profissionais! Tudo isto porque a abertura do novo Hospital de Cascais, uma parceria PP com os Hospitais Privados de Portugal (Grupo Caixa Geral de Depósitos) resolveu aliciar aqueles profissionais com ordenados 2 a 3 vezes superiores aos auferidos no Garcia de Orta. Agora, o Hospital que serve uma das zonas mais populosas do país, poderá não poder oferecer mais um local seguro para nascerem crianças! Especula-se e bem, que esta terá sido uma das razões que levou à substituição da administração daquela unidade.

O SNS continuará a ser um sorvedouro de dinheiro para os parasitas que giram à sua volta ao mesmo tempo que se põe em causa a qualidade dos cuidados oferecidos. A saúde e o SNS serão as vítimas dos próximos PEC’s do governo e é aqui que se verão as piores atrocidades de que o neoliberalismo é capaz.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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