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Para que serve um exame?
No último ano, foi introduzido no sistema de ensino português mais um obstáculo insólito. Em nome do rigor, o ministro Nuno Crato recuperou um dos estandartes do Estado Novo – O exame da 4ª classe. Foram muitos os que se afirmaram contra – entre pais, professores e psicólogos – e também muitos os que foram a favor, alegando entre outros argumentos, que dessa forma as crianças estariam mais preparadas para enfrentar obstáculos.
Ora, obstáculos parece-me ser aquilo com que elas mais estão habituadas a lidar. Começam logo no 1º ano, ao partilhar a sala com 25 colegas de turma. Têm ainda de enfrentar a mudança anual de professores, a falta de tempo dos pais, as experiências a que são sujeitas anualmente com a mudança constante de programas. A partir do 2º ano, começam a padecer de uma maleita transversal a todos os ciclos: o examinês. Primeiro iniciam-se com os testes intermédios e não voltam a parar até acabarem o primeiro ciclo, continuando, a partir daí, em todos os ciclos até alguns conseguirem chegar à faculdade.
Treinam-se as crianças para responder a matrizes de perguntas e respostas, fazendo fichas até à exaustão, para que tenham os melhores resultados possíveis nessa nova técnica. O ponto alto deste exercício é aplicado pela primeira vez no exame do 4º ano, aquele que dita se um aluno está “pronto” para o 5º. No entanto, um professor reconhece quais os alunos que estão preparados para mudar de ciclo sem terem de realizar a prova final. Então para que serve o exame?
O médico e psicanalista João dos Santos dizia que “É preciso que na escola se brinque, cante, desenhe, pinte e fale em liberdade, antes que se dê satisfação aos pais e educadores apressados e obcecados com a ideia do exame”. Na visão de Nuno Crato a escola é o oposto desta opinião. Então, corta-se na música, na pintura, na educação física, no estudo do meio. Sobem-se barreiras, colocam-se obstáculos. Aplicam-se os exames, para que dessa forma, os alunos aprendam a responder mas não a perguntar.
Sempre nos podia consolar o facto de no resto da Europa esta prova também ser feita, mas não, não há um único país europeu onde exista (http://eacea.ec.europa.eu/education/Eurydice/documents/key_data_series/134EN.pdf). Não há um único país que coloque uma barreira na continuidade de aprendizagem a partir dos 9 anos, que condicione todo o sistema de ensino desta maneira.
Aprender e compreender é muito mais do que saber o tipo de resposta a dar. Mais importante do que aprender a responder a uma ficha, é compreender o mundo que nos rodeia, é crescer globalmente. Os exames são uma farsa porque refletem toda uma ideologia de exclusão, de discriminação, para que daqui a uns anos, a próxima geração faça o mínimo de perguntas possível e obedeça sem questionar. Este é o rigor de Nuno Crato.
Comments
Então como é, não havendo
Então como é, não havendo exames as pessoas nunca são avaliadas....Pois eu sempre gostei muito de estudar e nunca me importei de ser avaliada. Será que as pessoas são todas iguais? Até fiz um doutoramento, provas atrás de provas, sou investigadora e adoro o que faço. Sempre gostei de questionar tudo...porque acho que é da discussão de ideias, da leitura, do estudo que nos realizamos e fico perplexa quando vejo coisas como: não se aprende a tabuada, não se tem noção dos numeros e depois observo factos como... A uma jovem licenciada após um almoço com 10 pessoas foi pedido para nos dizer quanto cada um teria que pagar....ela puxou da máquina de calcular...risos!!!
Primeiro, não creio que o
Primeiro, não creio que o estímulo de actividades mais criativas ou físicas seja impeditivo de reforçar o estímulo intelectual.
Cortar nestas actividades não me parece correcto, mas também não me parece um argumento válido contra o procedimento de exames.
Segundo, as idades mais frescas são as mais aptas a se adaptarem a obstáculos. Cada vez se ensina menos, porque coitadas, as crianças já fazem um esforço enorme. Chega a ser paternalista, politiquices para agradar aos pais mais desleixados, e um impedimento do verdadeiro potencial das crianças. São os desafios que as fazem crescer e desenvolver, não viver num mundo fabricado e artificial em que tudo é fácil e oferecido.
Eu não cresci com exames. Não
Eu não cresci com exames. Não me parece mesmo nada que os jovens saídos hoje das escolas secundárias sejam mais capazes de entrentar o mundo do que os jovens dos anos 80. A escola por outro lado deve ser um agente de mudança da sociedade, uma sociedade que se quer mais humana não a replicação do que ela tem de mais constragedor, a competição e o estar "á altura".
Para nos rirmos (email que
Para nos rirmos (email que circula por aí).
Evolução dos exames:
1990 - Responda justificando todas as respostas
2000 - Responda apenas a 5 das 10 questões
2005 - Selecione as respostas correctas (A, B ou C)
2010 - Selecione as respostas correctas (A ou B)
2015 - Leia apenas as perguntas
2020 - Obrigado por teres vindo à escola
Com este ministro, o ensino
Com este ministro, o ensino retrocedeu. As metas curriculares aumentaram os conteúdos; a ansiedade provocada pelos exames e a falta de tempo, não permitem aos alunos terem uma componente prática e experimental.
Nenhum aluno escapa ao exame, até aqueles que estão abrangidos pelas NEE, com deficit cognitivo moderado/grave (alguns nem sabem ler/escrever) têm que fazer exame adaptado, os resultados obtidos por estes vão influenciar a média da turma. Uma autêntica tontice ministerial!
Afinal, onde fica a meritocracia? Antes do 25 de abril só faziam exames os alunos com notas inferiores a 13 valores, ficando os restantes dispensados, como forma de recompensa pelo trabalho desenvolvido ao longo do ano.
O discurso do ministro sobre a necessidade de mecanização do ensino não contribui para uma aprendizagem plena dos alunos, estes também precisam de pensar, de criar, de manipular, de modo a que a aprendizagem se prolongue no tempo.
Pelo mundo estão espalhados cientistas, artistas e bons profissionais, os quais na sua maioria não realizaram exames no ensino básico.
Espero que as mentes "iluminadas" não copiem os modelos da Coreia- ensino mecânico, um verdadeiro pesadelo e atentado aos direitos da criança, onde não há espaço nem tempo para a criatividade, nem para os afetos. É preciso melhorar, mas sem criatividade não há ciência, não há arte, não há direito à diferença- a criação está na base de todo o desenvolvimento humano.
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