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Eurogrupo mantém chantagem sobre o Chipre

A primeira visita do presidente do Eurogrupo à Comissão de Assuntos Financeiros do Parlamento Europeu serviu para o responsável europeu defender abertamente o confisco dos pequenos depositantes cipriotas. À saída da reunião, a eurodeputada bloquista Marisa Matias diz que ficou "em estado de choque" ao ouvir as palavras incendiárias de Jeroen Dijsselbloem.
Schauble, Lagarde, Dijsselbloem e o ministro irlandês na reunião do Eurogrupo que aprovou o confisco dos depositantes cipriotas e lançou o pânico entre os depositantes na UE. Foto Conselho Europeu

"É mesmo chantagem o que se está a fazer com Chipre. Pelos vistos, o BCE tem mesmo todo o direito de só providenciar liquidez de emergência a "países que têm futuro"", afirmou Marisa Matias à saída da audição do presidente do Eurogrupo, o ministro das finanças holandês Jeroen Dijsselbloem. 

"O ministro alemão das finanças já tinha dito ontem que o problema é de quem investe o seu dinheiro em países que que têm risco, como quem quer dizer: "tragam o vosso dinheiro para a Alemanha"", recorda Marisa Matias, antes de defender que "a chantagem feita a Chipre é uma chantagem feita a todos os países em dificuldades". Na sua página no facebook, deixa a pergunta: "De que é que nós europeus estamos à espera para correr com esta gente?"

Na reunião que decorreu na manhã de quinta-feira, o presidente do Eurogrupo disse aos eurodeputados que o confisco dos depositantes era uma medida de justiça. "Posso defender fortemente a taxa, pois é uma forma direta de pedir um contributo dos depósitos do sector bancário em Chipre, que é inevitável, se se quiser construir um pacote que não traga mais empréstimos e mais divida para Chipre, além dos 10 mil milhões de euros que já acordámos", afirmou Jeroen Dijsselbloem, citado pelo Expresso. 

"O que fizemos na sexta-feira era justo", reafirmou o presidente do Eurogrupo a propósito da medida que está a pôr em causa a confiança dos depositantes da zona euro, em particular dos países sob tutela da troika. Para o holandês, a culpa não é da proposta de confisco, mas da comunicação da medida, defendendo que "foi estabelecida uma ligação muito infeliz no debate posterior e nos media".

"Um erro colossal", diz eurodeputado do Syriza

Pela bancada do GUE/NGL falou Nikos Chountis, do Syriza, começando por perguntar a Dijsselbloem "se o Eurogrupo é apenas incompetente ou se terá alguma motivação oculta" na proposta feita aos cipriotas e rejeitada pelos deputados deste país. Com esta proposta, afirmou Chountis, "confiramaram-se as piores suspeitas dos cidadãos da UE: vocês não têm nenhum plano para enfrentar esta crise financeira massiva". Logo a seguir a tomarem a decisão do confisco, prosseguiu o eurodeputado do Syriza "você e os outros ministros das finanças perceberam depressa que as vossas exigências prejudicaram e podiam desestabilizar a segurança nos depósitos da UE".

Nikos Chountis também lembrou as palavras do ministro alemão das finanças Wolfgang Schäuble, que na sua opinião "tornou claro porque é que a Alemanha escolheu esta solução destruidora" que equivale a dizer "tragam o vosso dinheiro para os nossos bancos, que não correm esses riscos". E acrescentou uma outra razão, que se prende com a oferta de condições financeiras mais favoráveis a países como a Grécia ou o Chipre "em troca da aquisição, através de condições extorsionárias, dos recursos de gás e energia desses países". 

BCE faz ultimato ao Chipre

Em mais um episódio da chantagem europeia sobre os cipriotas, o Banco Central Europeu emitiu um comunicado a dizer que só garante a liquidez do sistema financeiro do Chipre até à próxima segunda-feira e que a partir daí essa assistência termina, a menos que o Chipre aceite as condições do empréstimo que inclui o confisco a todos os depositantes do país.

Os bancos cipriotas continuarão encerrados esta semana e em princípio só reabrirão portas na próxima terça-feira, mas ainda assim com limitações às quantias levantadas das contas, para prevenir o colapso resultante do pânico causado pela proposta aprovada pelos ministros das Finanças europeus.

Parlamento vai votar "plano B" sem confisco de depósitos

O presidente do Chipre reuniu esta quinta-feira com os partidos e chegaram a um acordo para uma proposta alternativa à das taxas sobre os depósitos bancários. A ideia dos políticos cipriotas passa pela criação de um fundo de investimento, cujos contornos ainda não são conhecidos. A imprensa fala da nacionalização dos fundos de pensões de empresas onde o Estado esteja presente no capital ou a venda de obrigações sobre as futuras receitas da exploração de gás natural.

"Quero acreditar que vamos encontrar uma solução para evitar a bancarrota do país", disse Averof Neophytou, lídero do Dysi, o partido do governo. "A proposta está atualmente a ser examinada no plano técnico e legal pelos serviços jurídicos da República", afirmou o porta-voz da presidência, prevendo-se que a proposta possa ser fechada de forma a ser discutida e votada nas próximas horas pelo parlamento. 

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