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Jaime Neves, o "herói" do PSD, PS e CDS

É um insulto homenagear o assassino na casa-mãe da democracia.

Jaime Neves foi homenageado postumamente pela Assembleia da República com os votos do PSD, PS e CDS. O mesmo Jaime Neves que participou ativamente, como o mesmo confessou, no massacre de Wyriamu, onde centenas de pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram chacinadas, queimadas vivas, pelos comandos portugueses. Que vergonha, deputados destes partidos!

"...Caprichava-se na escolha da morte. As mulheres eram usadas sem pudor. Os homens caíam à paulada, pisados, outros a tiro. Um soldado de Tete matava as crianças à faca. Atirava-as ao ar como a uma bola de trapos e acabava com as suas graças na ponta da lâmina. Os que tentaram fugir foram abatidos a tiro. Também juntaram homens e mulheres em filas, colocaram-se em cunha, e berravam: «Batam palmas para se despedirem da vida.» De seguida, disparavam. Os corpos que caíam produziam um barulho surdo. Depois cobriam-nos com mato e lançavam o fósforo. As crianças pareciam línguas de fogo entre o fumo."

"...Metiam dez, talvez quinze pessoas, numa palhota, é difícil precisar neste momento. Foi tudo muito a correr, mas quando ficava cheia, lançavam as granadas e fechavam a porta. Passavam uns segundos. Antonino primeiro ouvia os gritos desesperados, silêncio quando as granadas rebentavam, o tecto subia, caía, a palhota incendiava-se. De novo gritos, choro. Poupava-se balas. Morriam queimados. Às vezes, a porta abria-se, alguém tentava fugir. Tiros. «Nestas operações, matar um ou vinte é indiferente. Depois de desencadeada, é para cumprir e seguir em frente. Tudo a eito.» A mesma expressão neutra."...» (In blog «Salvo-conduto»)

O excerto é do alferes Antonino Melo, que na altura comandava a 6ª Companhia de Comandos.

É impossível perdoar a chacina. É um insulto homenagear o assassino na casa-mãe da democracia. É corrosiva a hipocrisia, ou a seletiva falta de memória.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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