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Votação do pacote anti-crise espanhol ensombrada pelo "Catalangate"
Por 176 votos contra 172 (e uma abstenção), o Governo espanhol viu aprovado o pacote de medidas para enfrentar o impacto da guerra na Ucrânia, que inclui o prolongamento do desconto fiscal no preço da eletricidade até 30 de junho, o aumento de 15% no Rendimento Mínimo, o limite de 2% no aumento das rendas de casa e o desconto até 20 cêntimos por litro de gasolina. Mas até ao início da sessão, não estava confirmada a maioria para aprovar esta proposta. Para ultrapassar o anunciado voto contra da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), o executivo deu prioridade à negociação com os independentistas bascos do EH Bildu.
A ERC, um dos partidos que dá apoio parlamentar ao Governo do PSOE e Unidas Podemos, anunciou o voto contra na sequência do escândalo da utilização do software israelita Pegasus para espiar as comunicações dos seus dirigentes e de ativistas envolvidos na preparação do referendo de 2017, mas também de dirigentes do partido de Puigdemont, o Juntos pela Catalunha ou dos independentistas bascos do EH Bildu.
A tensão escalou esta semana com o anúncio do Governo catalão de que iria restringir as suas relações com o executivo de Madrid e as palavras da ministra da Defesa, Margarita Robles, que na quarta-feira admitiu a espionagem no Parlamento, ao perguntar "o que deve fazer um Estado quando alguém declara a independência, viola a Constituição, corta as vias públicas, promove desordens e tem relações com dirigentes políticos de um país que invade a Ucrânia?".
Na sequência destas declarações que considerou "insultuosas", a ERC pediu a demissão da ministra e o seu líder Pere Aragonés questionou o líder parlamentar dos socialistas catalães, que era ministro na altura das escutas, Salvador Illa: "Somos suficientemente bons para votar iniciativas do Governo mas suficientemente maus para nos espiarem?".
"Se querem saber o que pensamos e como vamos votar, perguntem ao CNI"
No momento da votação no Congresso espanhol, a deputada da ERC Montserrat Bassa afirmou que "se querem saber o que pensamos e como vamos votar, perguntem ao CNI [o serviço de informações espanhol na origem das espionagem] ou à ministra Robles". A líder parlamentar do Junts, que também votou contra, acrescentou que "os independentistas não podem oferecer estabilidade a um governo que nos espia". Opinião diferente teve o grupo do PDeCAT, cujo líder parlamentar também foi espiado através do Pegasus e justificou o voto favorável ao pacote de medidas porque elas afetam "o bolso dos cidadãos e das empresas".
Pelos independentistas bascos do EH Bildu, que tiveram o seu líder Arnaldo Otegi também sob escuta, falou a líder parlamentar para admitir que a confiança no executivo está "quebrada" por este escândalo de espionagem. "Espiar os que permitimos que este Governo avance não é nem respeitar-nos nem mostrar responsabilidade", disse Mertxe Aizpurua, justificando o voto a favor das medidas "pelas pessoas, não pelo Governo". Juntamente com o EH Bildu, a coligação de Governo contou também com o apoio de partidos como o Bloco Nacionalista Galego, Partido Nacionalista Basco, Teruel Existe ou Partido Regionalista da Cantábria. Os votos contra vieram dos grupos catalães da ERC, JxCat e CUP, além da direita do PP, Ciudadanos e Vox.
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