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Ventos de mudança na imprensa liberal?

As lições da última crise já são evidentes para a maioria: não há combate à recessão sem a intervenção musculada dos governos para estimular a economia, proteger o emprego e o rendimento das pessoas. Postado por Vicente Ferreira em Ladrões de Bicicletas
Não há combate à recessão sem a intervenção musculada dos governos para estimular a economia, proteger o emprego e o rendimento das pessoas
Não há combate à recessão sem a intervenção musculada dos governos para estimular a economia, proteger o emprego e o rendimento das pessoas

A crise de saúde pública que atravessamos com o surto de COVID-19 tem despertado as mais inesperadas reações. Depois da The Economist, referência do jornalismo económico liberal, ter dedicado não um, mas dois editoriais ao reconhecimento da superioridade da gestão pública em contextos de crise (num caso, sobre a saúde; noutro, sobre a banca), é a vez do Financial Times apelar a um esforço coordenado dos governos para conter a crise através do investimento nos serviços públicos e da garantia do rendimento de todos os trabalhadores (incluindo independentes e precários).

É certo que o jornal já o tinha defendido no início do ano. Mas os termos em que este recente apelo é feito dificilmente podiam ser mais claros: "O dinheiro não pode ser uma barreira para a capacidade dos serviços de saúde fazerem tudo o que for possível para controlar a epidemia e tratar dos doentes. A preocupação com as contas públicas num momento como este é tão perversa quanto contraproducente: gastar demasiado pouco é um perigo maior para a prosperidade do que gastar demasiado".

A urgência do financiamento do Estado para os serviços de saúde e para a proteção laboral tem sido, de resto, defendida nos últimos dias por muitos dos economistas que passaram anos a argumentar que a consolidação orçamental e a redução da despesa pública deviam ser o foco do governo, mesmo que à custa da qualidade dos próprios serviços públicos. Não deixa de ser interessante notar esta viragem radical na argumentação, por muito que seja difícil acreditar que seja mais do que temporária.

Entretanto, na Alemanha, até já se admite a possibilidade de nacionalizar empresas afetadas pela epidemia do novo coronavírus, depois de o governo ter anunciado que iria conceder "apoio financeiro ilimitado" ao setor empresarial. Mesmo no governo de Merkel, que se destacou na defesa intransigente da austeridade como resposta ao colapso financeiro de 2007-08, os responsáveis começam a olhar para alternativas.

Resta-nos concluir que as lições da última crise já são evidentes para a maioria: não há combate à recessão sem a intervenção musculada dos governos para estimular a economia, proteger o emprego e o rendimento das pessoas. É a única resposta sensata ao período turbulento que os países estão a atravessar. Não há nenhum bom motivo para que, aprendidas as lições, se cometam os mesmos erros do passado.

Postado por Vicente Ferreira em Ladrões de Bicicletas

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Economista
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