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Vantagem dos Conservadores diminui na véspera das eleições britânicas

A última sondagem do YouGov aponta para a queda da intenção de voto no partido de Boris Johnson, que lhe pode custar a maioria. Campanha online dos Conservadores é a que espalha mais mensagens enganadoras, apontam entidades de verificação de factos.
Boris Johnson em campanha
Boris Johnson em campanha no mercado do peixe em Grimsby. Foto publicada na sua conta Twitter.

Os principais candidatos às eleições britânicas chegam esta quarta-feira ao fim da campanha eleitoral sem saber o que esperar dos resultados da eleição. A vantagem confortável que os Conservadores detinham nas sondagens foi esmorecendo nos últimos dias e a plataforma YouGov já admite a possibilidade de não haver maioria absoluta para os Conservadores, embora essa seja ainda a hipótese mais provável, com a eleição de 339 deputados para os tories, 231 para os trabalhistas, 41 para os nacionalistas escoceses, 15 para os Liberais Democratas, 4 para o Plaid Cymru, 1 para os Verdes e 1 para outros candidatos. A sondagem refere-se apenas à ilha da Grã-Bretanha, não incluindo os eleitos na Irlanda do Norte, e dá uma margem de 28 deputados para a maioria conservadora.

Um dos candidatos mais otimistas com a viragem das sondagens é Ali Milani, um iraniano de 25 anos a viver desde criança nos arredores de Londres e que nesta eleição é o candidato trabalhista que enfrenta o primeiro-ministro em funções, Boris Johnson, no círculo de Uxbridge and South Ruislip. Johnson foi colocado neste círculo tradicionalmente conservador e considerado seguro para o partido, mas a alteração da sua demografia, com a presença de mais jovens, a par do voto de protesto, pode contribuir para mudar essa inclinação.

Boris Johnson tem tido uma ponta final de campanha difícil na relação com a comunicação social. Quando um jornalista lhe pediu esta semana para ver e comentar a fotografia de uma criança de quatro anos, a quem foi diagnosticada pneumonia, obrigada a dormir no chão de um hospital sobrelotado enquanto não havia vaga para camas, Johnson recusou-se a olhar para a fotografia no telemóvel na mão do jornalista e perante a insistência deste, pegou no telemóvel e meteu-o no seu bolso.  Já esta quinta-feira, numa visita de madrugada a uma empresa de distribuição de leite, Johnson foi confrontado por um repórter com a promessa de ir a uma entrevista ao programa televisivo Good Morning Britain, que transmitia em direto a visita. Para evitar responder, Johnson entrou para uma câmara frigorífica com os assessores e ali ficou durante largos minutos.

Por seu lado, Jeremy Corbyn tenta aproveitar a recuperação das sondagens para tentar mobilizar o eleitorado trabalhista, como fez esta terça-feira em Glasgow. Num dos comícios, disse que o seu partido “sofreu os ataques mais inacreditáveis por parte de alguma imprensa e da direita” e voltou a acusar o atual primeiro-ministro de ter mentido sobre as negociações com os EUA para um futuro acordo comercial, onde a privatização do SNS britânico esteve em cima da mesa. Nas redes sociais, usou o humor com um vídeo para responder aos ataques de que é alvo.

Os ataques a Jeremy Corbyn também partem da ala direita do seu partido. Esta quarta-feira, quinze ex-deputados apelaram ao voto contra os trabalhistas numa carta aberta publicada como publicidade paga de página inteira em vários jornais locais, sobretudo em zonas onde as sondagens indicam que os trabalhistas possam perder os seus deputados.

“Fact-checkers” apontam campanha online dos “tories” baseada em mensagens enganadoras

Um dos temas presentes ao longo da campanha foi a desinformação online, sobretudo após o Facebook ter anunciado que não faria verificação de mentiras nos anúncios promovidos por partidos políticos e candidatos. Coube às entidades verificadoras de factos fazer esse trabalho e o resultado divulgado esta semana é impressionante.

Segundo o First Draft, o investimento nos anúncios dirigidos a segmentos muito específicos do eleitorado — selecionados por código postal, idade, hóbis e informação privada obtida a partir do histórico de navegação na internet — disparou no início do mês. Sem surpresa, são os Conservadores que mais anúncios criaram no Facebook: mais de 6.000 anúncios entre os dias 1 e 4 de dezembro.

A entidade verificadora de factos diz que 88% destes anúncios contêm ou apontam para páginas que mostram mensagens enganadoras ao eleitorado, sobretudo com promessas para o SNS, cortes nos impostos ou acusações contra o Partido Trabalhista. Por exemplo, mais de cinco mil destes anúncios contêm a promessa de construir mais 40 hospitais no próximo mandato, quando na verdade só há planos para construir seis. Outro meio milhar de anúncios promete a contratação de mais 50 mil enfermeiras, quando o programa inclui 20 mil que hoje já trabalham nos hospitais e não refere nem prazo para essa contratação nem se se tratam de empregos a tempo inteiro ou parcial. A promessa de fazer “o maior aumento de investimento no espaço de uma geração” na Saúde também é desmentida pelas contas feitas ao programa, mostrando que houve maior investimento do que o agora prometido tanto em 2004/5 como em 2009/10.

Se apenas 1 em cada 10 anúncios conservadores no Facebook podem ser considerados inteiramente verdadeiros, a proporção é quase inversa quando se analisa a campanha dos liberais democratas, com 16.5% dos mais de sete mil anúncios publicados desde o início da campanha a conterem mensagens ou gráficos enganadores.

No que diz respeito à campanha trabalhista, o First Draft diz não ter encontrado nenhum anúncio enganador no Facebook, um meio muito menos utilizado pelo partido de Jeremy Corbyn em comparação com os restantes. Embora haja candidatos que promoveram os seus próprios anúncios com promessas trabalhistas consideradas enganadoras, como fez Liz McInnes para prometer que uma família irá poupar em média 6.700 libras com aplicação das políticas trabalhistas.

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