You are here

Unicef: Portugal é um dos países com maior desigualdade nas crianças

A diferença de rendimentos entre as crianças mais pobres e as do meio da distribuição é superior a 60%. O país registou um dos maiores aumentos das disparidades de rendimento entre os 41 países da UE/OCDE em análise. Unicef destaca que o bem-estar das crianças “é moldado por escolhas políticas”.
Foto de Paulete Matos.

O relatório do Centro de Investigação - Innocenti da UNICEF “Equidade para as crianças: Uma tabela classificativa das desigualdades de bem-estar das crianças nos países ricos” classifica 41 países da União Europeia (UE) e da OCDE segundo “o fosso que separa as crianças que se encontram na base da tabela da distribuição e as que se situam a meio”.

O documento incide sobre as "disparidades em termos de rendimento, desempenho escolar, e problemas de saúde e satisfação com a vida reportados pelas próprias crianças".

Referindo-se aos resultados obtidos, a Dr.ª Sarah Cook, Directora do Centro de Investigação – Innocenti da UNICEF, destacou que “o Report Card mostra de forma clara que o bem-estar das crianças em qualquer país não é uma consequência inevitável de circunstâncias individuais ou do nível de desenvolvimento económico, mas é moldado por escolhas políticas”.

“À medida que percebemos melhor o impacto que as disparidades têm a longo prazo, torna-se cada vez mais claro que os governos devem dar prioridade à melhoria do bem-estar de todas as crianças no presente, e proporcionar-lhes oportunidades para que possam desenvolver todo o seu potencial”, defendeu.

Disparidades em termos de rendimento: Portugal ocupa 33º lugar no conjunto dos 41 países da UE/OCDE

No que respeita às desigualdades em termos de rendimentos, “em 19 dos países analisados, as crianças mais pobres dispõem de menos de metade dos rendimentos da criança média dos seus países”, explica a Unicef.

“As disparidades de rendimento aumentaram na maioria dos países ricos desde a crise económica. Esta tendência é particularmente gritante nos países do sul da Europa, onde os rendimentos das crianças mais pobres caíram mais relativamente à média, também esta em queda"

“As disparidades de rendimento aumentaram na maioria dos países ricos desde a crise económica. Esta tendência é particularmente gritante nos países do sul da Europa, onde os rendimentos das crianças mais pobres caíram mais relativamente à média, também esta em queda”, refere o Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Segundo a Unicef, “em Espanha, na Grécia, Itália e Portugal, bem como em Israel, no Japão e México, a diferença de rendimentos entre as crianças mais pobres e as do meio da distribuição é superior a 60%. Isto significa que as mais pobres dispõem de menos de 40% dos rendimentos da média”.

“Os maiores aumentos das desigualdades de rendimento — aumentos de pelo menos cinco pontos percentuais — ocorreram em quatro países do sul da Europa, Grécia, Espanha, Itália e Portugal, e em três países da Europa de Leste, Eslovénia, Eslováquia e Hungria.”, lê-se no relatório.

Em Portugal, entre 2008 e 2013, as disparidades de rendimento aumentaram 5,4 pontos percentuais, “dado que o rendimento dos 10% de crianças na base da distribuição diminuiu mais rapidamente do que o da mediana”. As transferências sociais apenas atenuaram a desigualdade dos rendimentos em 3,6%.

Em 2013, a taxa de pobreza infantil em Portugal era de 17.4%. Já a taxa de crianças a viver em agregados familiares em situação de privação material, ou seja, sem capacidade económica para dispor de três ou mais dos nove bens considerados essenciais - aquecimento em casa, uma refeição com o nível adequado de proteínas a cada dois dias, uma televisão a cores, máquina de lavar, entre outros, ascendia a 29%.

“Uma sociedade não pode ser equitativa se a algumas crianças for negado um bom começo de vida”

No que respeita às disparidades na educação, e segundo análise aos resultados do PISA 2012, Portugal aparece em 19.º em 37 países para os quais há dados.

Em 2012, 12.6% dos adolescentes na faixa etária dos 15 anos não atingiram o nível mínimo de competências (nível 2) em três domínios - leitura, matemática e ciências, o que representa um diminuição de 3,8 pontos percentuais desde 2006.

“Os alunos provenientes de famílias com um estatuto socioeconómico mais baixo tinham 12% mais probabilidade de não atingir os níveis mínimos de competências nas três áreas do que os seus pares de meios mais privilegiados”.

Também as desigualdades nas competências de leitura entre as crianças com resultados médios (no meio da distribuição) e os 10% que se encontravam na base da distribuição baixaram 9,3 pontos.

A Unicef alerta, contudo, que “os alunos provenientes de famílias com um estatuto socioeconómico mais baixo tinham 12% mais probabilidade de não atingir os níveis mínimos de competências nas três áreas do que os seus pares de meios mais privilegiados”.

As desigualdades no que diz respeito ao desempenho escolar diminuíram na generalidade dos países, com exceção da Finlândia e a Suécia, “anteriormente considerados como exemplos de sucesso e de equidade em matéria de educação”.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância adverte que “uma sociedade não pode ser equitativa se a algumas crianças for negado um bom começo de vida”, exortando aos governos que “considerem como prioritário” proteger os rendimentos dos agregados familiares das crianças mais pobres, promover o sucesso escolar das crianças mais desfavorecidas e “apoiar estilos de vida saudáveis”.

Acentuam-se desigualdades na saúde

“Nenhum país conseguiu progressos claros na redução das disparidades no que toca a problemas de saúde sinalizados pelas crianças”, reporta a Unicef. Na realidade, as desigualdades agudizaram-se na maioria dos Estados, incluindo Portugal, “verificando-se mesmo aumentos consideráveis na Irlanda, em Malta, na Polónia e na Eslovénia”.

Em Portugal, “as disparidades no que diz respeito a problemas psicossomáticos aumentaram 3.9 pontos percentuais entre 2002 e 2014, dado que a saúde das crianças na mediana melhorou mais do que as da base da distribuição”.

“Dos países analisados, Portugal é aquele em que as desigualdades em termos de alimentação saudável (consumo de fruta e vegetais) mais aumentaram (6,6 pontos percentuais entre 2002 e 2014)”, alerta a Unicef.

Crianças mais carenciadas com 20% mais probabilidade de manifestar baixa satisfação com a vida

No que concerne à satisfação com a vida, “as disparidades entre os adolescentes com baixa satisfação com a vida e os seus pares no meio da distribuição quase não se alterou entre 2002 e 2014”.

“Em 2014, 6% dos adolescentes consultados avaliaram a sua satisfação com a vida num nível 4 ou menos numa escala de 0 a 10”, assinala o Fundo das Nações Unidas para a Infância, esclarecendo que “os dados mostram que tanto o género como o estatuto socioeconómico têm impacto na perceção de satisfação com a vida”.

São as raparigas, especialmente aquelas com idades entre os 13 e os 15 anos, que apresentam maior probabilidade de ocupar a base da distribuição relativamente à satisfação com a vida.

A Unicef deixa mais um alerta: “As crianças provenientes das famílias mais carenciadas tinham 20% mais probabilidade de manifestar baixa satisfação com a vida, o segundo valor mais elevado da Europa”.

Em termos gerais, Portugal situa-se em 19º lugar na tabela dos 35 países da UE/OCDE para todas as dimensões relativas às desigualdades em análise.

Termos relacionados Sociedade
(...)