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Um livro sobre aqueles que recusaram fazer a guerra colonial
Fernando Cardoso presidente da Associação de Exilados Políticos (AEP61/74) disse a propósito deste livro que ele “pretende revisitar as antigas redes dos desertores portugueses”.
“Nós, como tínhamos uma rede de desertores na Europa, estamos agora a reconstituir a rede e a lançar o livro nos sítios onde tínhamos implantação política. Foi o caso de Paris, em maio, é o caso da Suécia na quinta-feira e vai ser o caso da Holanda, provavelmente em outubro, na Dinamarca, ainda sem data marcada, e provavelmente no Luxemburgo”, explicou à Lusa Fernando Cardoso.
De acordo com o responsável daquela associação, que desertou para França onde viveu exilado desde 1970 até 1976, “as questões ligadas à deserção são ainda um tema silenciado pela sociedade portuguesa, que, por outro lado, ainda não resolveu a questão da guerra colonial”.
Testemunhos contra o silêncio
“Muitos desertores foram para a Suécia, nomeadamente Fernando Carneiro, que integrou uma deserção coletiva com seis oficiais da Academia Militar. É uma deserção paradigmática porque teve a característica de ser de oficiais do quadro, o que não era comum. Foram todos para a Suécia depois de terem permanecido algum tempo em Paris”, sublinhou Fernando Cardoso.
O livro reúne 22 testemunhos escritos e um outro cantado – inclui um CD com a gravação de músicas do cantor de intervenção Tino Flores, na Suécia, em 1973 – de exilados políticos, desertores e refratários, que saíram de Portugal durante a guerra colonial (1961/1974) e que se recusaram a combater não só por por razões políticas, mas também por motivos de “moral e de ética”.
“Exílios” vai ser apresentado na Biblioteca do Centro de Língua Portuguesa da Universidade de Estocolmo por Ricardo Namora, professor universitário na Suécia, e conta com a presença de Fernando Carneiro, um dos protagonistas de uma deserção coletiva durante o período da guerra.
Em simultâneo com o lançamento do livro que decorrerá em vários pontos da Europa, aquela associação está a organizar um colóquio sobre o exílio e a deserção, temas que "ainda são silenciados em Portugal” mais de 40 anos depois do final da guerra porque, de acordo com a AEP/61/74, "a Revolução de 1974 foi feita por militares e os militares têm um conceito muito rígido em relação à deserção".
O colóquio vai realizar-se no dia 27 de outubro na Universidade Nova de Lisboa, com o título “O (As)salto da Memória – histórias, narrativas e silenciamento da deserção e do exílio” e contará com a presença, entre outros, dos académicos Miguel Cardina, Sónia Ferreira, Sónia Vespeira, Paula Godinho e Irene Pimentel, que vão apresentar investigações inéditas sobre os desertores e exilados políticos portugueses, incluindo a apresentação de números exatos de pessoas envolvidas e que pode ter sido superior a 100 mil.
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