“UE não está a responder aos problemas estruturantes nem aos problemas das pessoas”

08 de May 2019 - 17:18

Marisa Matias afirmou na TVI que "não há outra forma de estar na União Europeia (UE) sem ser de uma forma crítica”, criticou a falta de resposta à crise humanitária e lembrou propostas suas, nomeadamente a proteção aos desempregados usada para as trabalhadoras da Triumph.

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"Sou eurocrítica, não eurocética", afirmou Marisa Matias na TVI
"Sou eurocrítica, não eurocética", afirmou Marisa Matias na TVI

Nesta terça-feira à noite, Marisa Matias foi entrevistada na TVI por José Carlos Araújo, Manuela Ferreira Leite, Constança Cunha e Sá e António Costa.

Na entrevista, Marisa Matias defendeu uma posição crítica face à União Europeia (UE), apontou “sou eurocrítica, não eurocética” e acusou: “A UE não está a responder a nenhum dos seus problemas estruturantes, nem está a responder aos problemas concretos das pessoas”.

Sobre a chamada “crise política”, a eurodeputada bloquista disse “não tenho vontade em chamar-lhe crise, creio que é uma crise que foi criada”, considerou que o Bloco “tem que ter a responsabilidade de garantir a estabilidade daquilo que foi a solução governativa encontrada”, lembrou que o Bloco de Esquerda “votou quatro orçamentos com este Governo”, não concordando com tudo, nomeadamente no caso do BANIF.

Marisa Matias sublinhou que “nada pode justificar” a criação de um clima de instabilidade “apenas pela ambição de uma maioria absoluta”, defendeu que a “geringonça” tem muito a fazer até outubro, citando a lei de bases da saúde, o trabalho noturno e por turnos, as carreiras especiais, “que incluem oficiais de justiça e forças de segurança”. “Futuro da geringonça é até 6 de outubro fechar o que está por fechar”, frisou.

Comissão Europeia não queria que se aumentasse salário mínimo”

Sobre o trabalho realizado no Parlamento Europeu, Marisa Matias salientou que não se limitou a uma posição crítica face à UE e à Comissão Europeia e teve uma intervenção propositiva.

Citou a propósito:

  • “a proteção aos desempregados e desempregadas em processos de deslocalização”, usada pelas trabalhadoras da Triumph;
  • a diretiva de combate aos medicamentos falsificados, “incluindo medicamentos como insulina ou quimioterapia”. “Fui eu que negociei, durante mais de 2 anos”, referiu;
  • a estratégia europeia de combate ao Alzheimer e às demências;
  • questões relacionadas com igualdade de género na política fiscal;
  • membro da comissão de economia e finanças e coordenadora do seu grupo nessa comissão, Marisa Matias sublinhou o seu voto contra a ameaça de sanções a Portugal.
  • Marisa recordou que propôs no PE, e foi aprovada, a rejeição da integração do tratado orçamental no direito comunitário
Marisa recordou que propôs no PE, e foi aprovada, a rejeição da integração do tratado orçamental no direito comunitário.

Recordou também que, quando foi discutida a integração do tratado orçamental no direito comunitário, apresentou “uma moção de rejeição a essa integração”, que acabou por ser aprovada.

Questionada se considerava “estarmos melhor hoje do que em 2011”, Marisa Matias destacou a melhoria em Portugal, mas não na UE e frisou que “se seguíssemos o que a Comissão Europeia queria não podia haver esta solução governativa”.

Lembrou a ameaça de rejeição do orçamento, que “a Comissão Europeia não queria que se aumentasse o salário mínimo” e sublinhou que, em relação à UE e à Comissão Europeia “se podia ter ido mais longe”, nomeadamente na confrontação no caso do BANIF.

Marisa Matias falou ainda do “grande preço” que Portugal pagou na crise: “foi um programa de ajustamento brutal de empobrecimento, em que as pessoas sentiram na pele o que foram os cortes nos salários, nas pensões, o desemprego, 500 mil pessoas a emigrarem”, apenas num ano. “Com esta solução governativa, começou a inverter-se a situação, por isso estamos melhor”, afirmou, salientando que não se trata de uma questão de opinião, mas de uma questão factual.

Combate à evasão fiscal e às alterações climáticas

A eurodeputada apontou que, “entre 2000 e 2018, a lógica foi sempre a redução da taxação das grandes empresas e das multinacionais”, que na UE existem paraísos fiscais “que permitem que haja 100.000 milhões de euros por ano que ficam imunes a ter que pagar impostos nos países onde geram os seus lucros”.

“100.000 milhões de euros equivalem a 7 orçamentos”, realçou, salientando a necessidade de combate à fraude e evasão fiscal, e de cooperação europeia para esse combate.

Marisa Matias defendeu ainda a redução das emissões numa política de combate às alterações climáticas, medidas que “seriam mecanismos fundamentais para a criação de emprego, para a redução dos desequilíbrios macroeconómicos”.

UE não soube dar resposta aos problemas concretos das pessoas”

Apontando que, a nível europeu, só existem quatro países “que não têm extrema-direita” (Portugal, Luxemburgo, Irlanda e Malta) e que “há 10 países com extrema direita nos governos”, Marisa Matias afirmou que a “UE não soube dar resposta aos problemas concretos das pessoas” numa situação de crise e apontou que, além disso, “também houve naturalização do discurso da extrema-direita”.

A eurodeputada bloquista criticou ainda a falsa ideia que se criou na Europa de que a crise humanitária era uma “invasão de refugiados”, sublinhando que “as forças democráticas que têm responsabilidade de defender valores democráticos alimentaram juntamente com as forças de extrema-direita a ideia de que estamos a ser invadidos”. E lembrou que, “por duas vezes”, apresentou “propostas no PE para terminar com a venda de armas aos territórios em conflito”, propostas que foram rejeitadas.