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Turquia ataca província curda na Síria

O exército turco atravessou a fronteira síria para atacar a província de Afrin, controlada pelas forças curdas que derrotaram o Estado Islâmico e criaram formas de auto-governo democrático nas cidades libertadas.
Bombardeamentos da Turquia na província de Afrin, controlada pelas forças curdas no norte da Síria.

A ameaça do regime de Erdogan em atacar as forças das Unidades de Proteção Popular (YPG) curdas, aliadas dos EUA na luta contra o Estado Islâmico e elemento essencial da defesa das populações curdas, concretizou-se este fim de semana com bombardeamentos e a entrada do exército na região. A Turquia acusa as YPG de serem forças terroristas e ligadas ao PKK, embora não haja registo de atividade das YPG na Turquia.

O alvo foi a província síria de Afrin, geograficamente um enclave na Turquia. Afrin tem maioria curda e viu duplicar a sua população em quatro anos, acolhendo 200 mil refugiados da guerra civil na Síria. Ela integra-se na Federação Democrática do Norte da Síria, uma região autónoma de três cantões também conhecida por Rojava, que repeliu e venceu os ataques do Estado Islâmico ao longo dos anos.

Ainda sem a confirmação oficial de baixas, fontes das YPG citadas pela BBC disseram que no domingo de manhã houve pelo menos a morte de quatro soldados e dez guerrilheiros das milícias sírias que apoiam o exército turco neste ataque. Entre estas destaca-se o Exército Livre da Síria com 25 mil soldados ao lado das tropas turcas, afirmou o seu comandante à Reuters. Para Abdul Rahim, o objetivo é expulsar as YPG das cidades que controla desde que as tomou em fevereiro de 2016.

Forças curdas dizem ter repelido o ataque “do exército de ocupação turco e os seus mercenários”

As YPG publicaram um comunicado a denunciar a invasão “do exército de ocupação turco e os seus mercenários” em cinco zonas diferentes da província de Afrin, com apoio da força aérea e tanques, que provocaram muitas mortes entre a população civil. E acusa as tropas turcas de terem atacado a partir do território sírio uma cidade na província turca de Hatay, para poderem apontar as tropas curdas com responsáveis pelo ataque. 

DOSSIER: Os Curdos, um povo sem Estado

“Mais uma vez sublinhamos que não temos nada a ver com ataques a civis. Nunca temos como alvo o território fora das nossas fronteiras”, afirma o Comando Geral das Forças Democráticas Sírias, a aliança de milícias de várias etnias e religiões que é a principal força de defesa daquela região do norte da Síria. O comunicado diz que as tropas invasoras foram repelidas e tiveram de recuar após intensos combates.

Protestos contra o ataque turco em várias cidades do mundo

Em vários países, a comunidade curda organizou protestos contra o ataque da Turquia durante o fim de semana. Também em Istambul, o partido HDP, que tem os seus líderes presos pelo regime de Erdogan, saiu à rua:

Chomsky liderou apelo a Teerão e Moscovo

Na semana passada, um grupo de intelectuais e ativistas dos direitos humanos divulgou um apelo conjunto aos líderes da Rússia, Irão e Estados Unidos para que assegurassem a soberania das fronteiras sírias face à ameaça turca e que “o povo de Afrin, na Síria, possa viver em paz”.

Entre os subscritores deste apelo estão Noam Chomsky, David Harvey, Michael Hardt ou David Graeber, que lembram que “o povo curdo sofreu a perda de milhares de jovens que se juntaram às YPG e à unidade feminina da YPJ, para livrar o mundo do Estado Islâmico” e por isso “os EUA e a comunidade internacional têm a obrigação moral de apoiar o povo curdo neste momento” contra esta “vendetta” de Ancara contra os curdos.

“Não deixem Afrin transformar-se noutra Kobane”, diz o título deste apelo, invocando o nome da cidade mártir da resistência curda contra o ataque do Estado Islâmico em 2014. Agora é a vez do enclave de Afrin estar “cercado por inimigos: os grupos jihadistas apoiados pela Turquia, a al Qaeda e a Turquia”, refere o texto.

Mas este apelo não surtiu efeito, uma vez que o chefe da diplomacia turca já afirmara à Reuters na quinta-feira que o ataque em preparação seria coordenado com Moscovo e Teerão.

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