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Turbulência nas bolsas é “o princípio do fim de uma bolha especulativa”

Francisco Louçã afirma que as quedas registadas esta semana nas sessões da bolsa norte-americana são “um sinal de medo e perturbação” face às ameaças de aumento das taxas de juro nos EUA.

No seu programa de comentário semanal das noites de sexta-feira na SIC Notícias, Francisco Louçã comentou a turbulência que agitou a bolsa nova-iorquina durante a semana, com quedas que bateram recorde nos índices bolsistas, acompanhadas por recuperações e novas quedas.

Questionado sobre se se trata apenas de uma correção natural dos preços, Louçã defendeu que se trata do “princípio do fim de uma bolha especulativa”. “Ela pode ser mais rápida, com mais efeito dominó e mais pânico, ou pode ser mais ajustada”, prosseguiu o economista, prevendo que a queda nos valores das bolsas será uma realidade ao longo deste ano.

“Os valores bolsistas estão muito inflacionados, são artificiais e estão errados. E portanto, vão cair”, afirmou Louçã, apontando as causas que levaram à formação desta bolha em tempo de juros baixos e injeções de liquidez nos mercados por parte dos bancos centrais.

“Quando as taxas de juro estão baixas, os capitais disponíveis não depositam nos bancos. Aplicam com algum risco mas procurando rentabilidades mais elevadas nas bolsas. E as bolsas jogam muito nesta ideia de que esteja sempre a chegar poupança e capitais, e podem ir subindo os preços”, afirmou, lembrando que a Reserva Federal tem subido progressivamente a taxa de juro: “já esteve a zero, agora está a 1.4%”.

Para Francisco Louçã, as flutuações da bolsa norte-americana desta semana são “um sinal de medo e perturbação que foi desencadeado por um relatório muito curioso, na sexta-feira passada, que dizia que os salários nos EUA subiram 2.9% porque a economia está a recuperar”, um número ligeiramente acima das expetativas e que é uma boa notícia para a economia. “Mas essa pequeníssima diferença de uma décima é uma má notícia para os mercados, porque acham que as taxas de juro ainda vão subir mais e que as autoridades monetárias vão querer proteger a economia de alguma inflação”, acrescentou.

“Vive-se um medo paranóico sobre estes efeitos, porque o aumento das taxas de juro significa que as bolsas terão menos liquidez e podem cair”, assinala o economista e ex-dirigente do Bloco, chamando a atenção para outro aspeto da atualidade política norte-americana, que foi o acordo no Congresso para um “enorme aumento do défice” da administração Trump. “Vai subir para o triplo do que era há três anos atrás, seis vezes o que era em 2006, antes do início da crise. É um défice gigantesco, que tem de atrair capitais para pagar esse défice. Por isso há todas as razões para que os juros subam”, sublinhou.

Mas este aumento da taxa de juro não terá apenas como consequência a queda das bolsas. Entre os vários efeitos recessivos, Louçã aponta as famílias com crédito bancário como um dos grupos mais afetados negativamente por essa decisão.

Quanto ao efeito de contágio para economias de outros países, como Portugal, Francisco Louçã diz que esta subida dos juros será sempre uma “notícia preocupante para a economia portuguesa, porque os juros são má pressão sobre a economia portuguesa”.

 

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