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Tratamento das lamas do Tejo não pode traduzir-se em mais um “atentado ambiental”

O presidente da comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação visitou esta quarta-feira, dia 24, situado o local onde está a ser instalado um estaleiro no âmbito da limpeza de resíduos do rio Tejo, após o Governo ter tomado posse administrativa do local.
Pedro Soares, eleito pelo Bloco de Esquerda, apelou ao Ministério do Ambiente para que não se precipite e procure soluções que resolvam o problema sem representarem novos atentados ambientais.
"Por favor, não façam asneiras antes de conversarmos todos e antes de procurarmos encontrar a melhor solução para este problema [retirada de lamas do Tejo]. Por aquilo que estou a constatar, esta não é uma boa solução em definitivo, e, portanto, deve ser evitada. Não cometamos mais erros", afirmou o presidente da comissão parlamentar de Ambiente em declarações à agência Lusa.
"Esta região tem sido massacrada com tantos atentados ambientais, não é justo que sofra mais um. Nas últimas informações no cronograma do Governo, a extração das lamas seria só para junho. Bem, estamos em 25 de abril e ainda não há deposição das lamas. Temos mais de um mês para que haja uma decisão ponderada sobre esta questão", acrescentou.
O deputado do Bloco informou que se irá realizar, num curto espaço de tempo, uma audição do ministro do Ambiente, dos presidentes das câmaras de Vila Velha de Ródão e de Nisa, dos ambientalistas e da própria Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
"A comissão parlamentar [do Ambiente] vai fazer aquilo que o Governo não fez, que é juntar esta gente toda, e vamos lá conversar sobre esta matéria. Esperamos que a audição (...) ajudar o Governo a refletir sobre esta matéria. Nós não queremos, como é óbvio, obstaculizar o tratamento das lamas. Pelo contrário", sinalizou.
Pedro Soares defendeu que, de facto, o tratamento das lamas deve ser feito, mas sem criar novos problemas ambientais.
"Vamos tentar evitar mais erros, vamos procurar encontrar soluções tecnicamente adaptadas a esta situação concreta, que não massacrem mais, em termos ambientais, esta região e que protejam esta área classificada, com grande interesse natural e que seja economicamente viável mas também que seja ambientalmente ajustada. E, isso é fundamental que seja assim", vincou.
"O Ministério do Ambiente já cometeu erros de mais sobre esta matéria da poluição no Tejo e devia ponderar não voltar a cometer erros graves que depois são muito difíceis de resolver. Andou dois anos a dizer que não havia problema nenhum com a poluição do Tejo (...)", rematou.
A proprietária do terreno nas Portas de Ródão onde está a ser instalado o estaleiro acusou o Ministério do Ambiente de nunca ter tido a intenção de negociar.
"Fomos confrontados desde meados de Fevereiro com a decisão que era sim ou sim. Isto terminou tudo numa declaração de utilidade pública e numa posse administrativa [...]. Nós não queremos dinheiro nenhum, queremos é que mantenham aqui as azinheiras", avançou Raquel Lopes.
A proprietária do terreno referiu ainda que só uma semana após a posse administrativa é que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) emitiu um parecer positivo ao Governo.
"O ministro do Ambiente continua a dizer que isto não tem valores naturais. O certo é que há aqui azinheiras centenárias, há zimbros que foram um dos motivos que levaram à criação da área protegida. Aqui é o que sobra dos incêndios de Julho, são os tais 30% que ainda estão verdes", frisou.
"Isto tudo me preocupa. Havendo soluções aqui perto, estamos muito perto das zonas industriais de Vila Velha de Ródão, porque é que não escolheram um terreno "careca", como diz o senhor ministro [do Ambiente]. Acho que ele nunca veio ao terreno. Não há sensibilidade ambiental, só se pensa nos lucros e na solução mais barata. Mas será que é mais barata?", acrescentou Raquel Lopes.
De acordo com a contagem promovida pela proprietária do terreno, existem naquele local uma centena de azinheiras, 54 oliveiras e uma quantidade elevada de salgueiros e freixos, além de outro tipo de vegetação.
"Não temos culpa nenhuma dos atos irresponsáveis, quer de indústrias, quer da negligência das entidades que deviam defender-nos. Então quem nos defende? Isto é protegido de quê, se fazem cá tudo?", questionou.
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