Tragédia sem testemunhas no Mediterrâneo

17 de May 2020 - 12:00

Situação tem vindo a agravar-se devido às medidas implementadas contra a covid-19. Os dois navios que ainda operavam no Mediterrâneo foram imobilizados pela guarda costeira italiana e ONG’s denunciam que decisão é exclusivamente para “interrupção das missões de resgate”.

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Refugiados no Mediterrâneo
Christopher Jahn/IFRC | Flickr

De acordo com a Lusa, várias organizações internacionais alertaram que a tragédia na rota migratória do Mediterrâneo tem vindo a agravar-se por causa das medidas implementadas para conter a covid-19. As partidas da Líbia e da Tunísia têm aumentado desde janeiro e neste momento não existe qualquer navio de resgate a operar na região. 

“Se não existirem resgates no mar e os países continuarem a protelar decisões para resgatar e desembarcar as pessoas, acabaremos com situações humanitárias bastante graves", disse, em declarações à AFP, o enviado especial para o Mediterrâneo Central do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), Vincent Cochetel. Segundo os dados, desde o início do ano, terão morrido 179 pessoas nesta rota em direção à Itália e Malta.

Os únicos dois navios que estavam a operar no Mediterrâneo desde que a pandemia se começou a sentir com mais intensidade na Europa eram o “Alan Kurdi”, da Sea-Eye alemã, e o “Aita Mari”, do País Basco. Mesmo com algumas dificuldades conseguiram-se concretizar vários desembarques nas últimas semanas, mas as operações de salvamento foram canceladas devido a imobilização dos navios por parte da guarda costeira italiana. As ONG denunciam que esta decisão, onde foi alegado problemas técnicos, é exclusivamente para travar as missões de resgate no Mediterrâneo.

Os dados da ACNUR refletem que as partidas aumentaram 290% desde janeiro (6.629 tentativas) em comparação com o período homólogo do ano passado. “Cerca de 75% dos migrantes na Líbia perderam o trabalho desde as medidas de contenção, o que pode levar ao desespero”, afirmou Vincent Cochetel. 

A diretora-geral da SOS Méditerranée, com sede na França, também afirmou que a situação no Mediterrâneo é “verdadeiramente dramática” e espera voltar ao mar o antes possível.