A fábrica de velas Mayfield Consumer Products, no Kentucky, foi destruída por um tornado na passada sexta-feira. Foi apanhada em plena laboração e oito trabalhadores morreram, havendo ainda agora cerca de dez desaparecidos.
A NBC noticia esta segunda-feira que pelo menos cinco trabalhadores lhe contaram que quiseram sair mais cedo para se poderem proteger do tornado mas que os supervisores os ameaçaram de despedimento se abandonassem o edifício antes de acabar o seu turno. À medida que era noticiada a aproximação do tornado, os trabalhadores terão insistido durante horas que queriam poder abrigar-se em segurança nas suas casas. Houve alguns que, apesar das ameaças, terão mesmo abandonado o local de trabalho.
A empresa nega que tal tenha sucedido mas os testemunhos recolhidos desmentem. Uma das trabalhadores em questão é McKayla Emery, de 21 anos, que teve de ser hospitalizada. Diz que várias pessoas pediram para regressar às suas casas horas antes do tornado destruir a fábrica e que ouviu que quatro delas receberam como resposta que “se saírem mais cedo, provavelmente serão despedidos”. Mas a sua história é diferente porque ela preferiu ficar para ganhar horas extraordinárias.
Quem quis mesmo sair e recebeu esse tipo de resposta foi Elijah Johnson, de 20 anos, que se juntou a alguns colegas que o estavam a pedir. “Pedi para sair e disseram que seria despedido”. Perguntou: “mesmo com um tempo assim, vão despedir-me na mesma?” A resposta de um responsável foi “sim”. Adianta ainda que foi feita uma chamada pelos trabalhadores para tentar descobrir quem tivesse saído. A sua colega Haley Conder, de 29 anos, contabiliza em 15 as pessoas que ouviu pedirem para sair mais cedo.
Na Amazon, proibição de uso de telemóveis contestada
Também o centro de distribuição da Amazon em Edwardsville, Illinois, ficou fortemente danificado depois do colapso de uma parede e do telhado. Seis pessoas morreram e ainda se procuram mais trabalhadores nos destroços. Neste caso também outros problemas foram também levantados. Não se sabe ainda quantos trabalhadores estavam efetivamente nas instalações devido ao elevado número de empresas subcontratadas e à precariedade reinante no local. Segundo o The New York Times apenas sete dos trabalhadores deste centro eram empregados a tempo inteiro da Amazon.
As notícias dão conta que os trabalhadores dentro das instalações terão sido surpreendidos pela chegada do tornado, tendo recebido um aviso de emergência onze minutos antes. Está a ser colocada em causa assim, segundo o Bloomberg, a proibição de uso de telemóveis nos armazéns das empresas, com vários trabalhadores a defender que querem ter acesso a informação como, por exemplo, as condições meteorológicas e que o telemóvel é também uma forma de pedir auxílio em caso de catástrofe. Um trabalhador da empresa disse àquele órgão de comunicação social que “depois destas mortes, de forma alguma vou confiar na Amazon para me manter seguro” e garantiu que se for recusado o uso de telemóvel se irá despedir.
Também Jeff Bezos, o fundador da empresa, está a ser alvo de uma polémica depois de ter demorado um dia a reagir nas redes sociais à morte dos trabalhadores do seu armazém e de ter preferido fazer nesse dia uma publicação de promoção do seu programa espacial. Depois de choverem críticas, Bezos acabou por publicar uma mensagem no Twitter a dizer que estava “de coração partido” pelo sucedido.
Mas também aqui há suspeitas de que terá havido pedidos para sair que foram recusados. O New York Post cita a namorada de uma das vítimas que garantiu que este lhe terá dito que a empresa não o deixou sair. Cherie Jones, a namorada de Larry Virden, conta que recebeu uma mensagem 16 minutos antes do colapso do teto do armazém em que estava escrito “a Amazon não nos deixa sair”.
Operações de salvamento continuam
Este tornado atingiu cinco estados e fez pelo menos 88 mortes. O Kentucky foi o estado mais atingido, tendo aí morrido 74 pessoas. As operações de socorro continuam e o governador Andy Beshear diz temer que os números subam. Há 26.000 casas sem eletricidade, mais de 10.000 sem água e outras 17.000 em que a segurança desta não é garantida, pelo que receberam o conselho para ferver a água que utilizarem, de acordo com o Kentucky Emergency Management.