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Temer: destituição de Dilma foi golpe

O ex-Presidente brasileiro, que ficou com o lugar no seguimento da destituição de Dilma Rousseff, classificou esse processo como golpe pela primeira vez. Distanciando-se do impechament, Temer declarou: “nunca apoiei o golpe e nem fiz nada para que isso acontecesse”.
Michel Temer em 2017.
Michel Temer em 2017. Foto de Jeso Carneiro. Flickr.

Dilma Rousseff diz que Temer cometeu um “sincericídio”. A presidente brasileira foi obrigada a sair do cargo em 2016 na sequência de um processo de destituição. Michel Temer, o seu vice que se tornou no seu sucessor, escolheu na altura o outro lado da barricada e acabou o mandato com popularidade extremamente baixa. Desde então, foi preso preventivamente em duas ocasiões.

A palavra “golpe” tornou-se então um dos focos da batalha política brasileira. A direita tentou provar que a destituição era legítima, devido a “crime de responsabilidade” no caso das chamadas “pedaladas fiscais”, mas os deputados que votavam a favor dessa medida recorriam sobretudo a justificações que estavam para além dos motivos legais alegados. À esquerda, o argumento era que havia um golpe, um conluio que pretendia desviar a figura processual do impeachement para finalidades políticas que não aquelas pelas quais foi criado.

Passados três anos, é Temer quem utiliza pela primeira vez a palavra “golpe” para classificar o processo que o levou à Presidência, gerando fortes reações. Em entrevista ao programa Roda Viva da estação televisiva TV Cultura, o ex-chefe de Estado surpreendeu ao declarar: “nunca apoiei o golpe e nem fiz nada para que isso acontecesse”.

Temer acrescentou que tentou convencer o seu partido a ir por outro caminho: “recentemente, o jornal Folha de São Paulo citou um telefonema que recebi do ex-presidente Lula pedindo-me para convencer o PMDB a votar contra o impeachment e eu tentei”. O partido Movimento Democrático Brasileiro, do qual Temer faz parte, acabou por apoiar o golpe. E Temer recusou-se sempre a mencionar a palavra golpe. Agora diz que “o telefonema do ex-presidente Lula revela, exata e precisamente, que eu não era, digamos, adepto do golpe. (...) Mas, naquela época, a pressão popular era forte demais e as partes já haviam pensado na destituição, mas até ao último momento, eu não era a favor do golpe”.

Sincericídio e renegação

Dilma Rousseff não deixou passar estas declarações em branco. No Twitter escreveu que “Michel Temer cometeu ontem novo ato de sincericídio, no Roda Viva. Admitiu que eu sofri um golpe de Estado e disse que se Lula tivesse ido para o meu governo não teria havido o impeachment”.

Dilma acrescentou ainda: “Temer não disse, contudo, que o Golpe de 2016 foi para enquadrar o Brasil no neoliberalismo”. Na mesma entrevista, o ex-chefe de Estado declarou que foi a partir da publicação do documento “Ponte para o Futuro” teria sido mal interpretada por Dilma como se tivesse sido um “gesto de oposição” quando, sugere, se tratava de uma “contribuição” para o governo. Dilma também respondeu a esta afirmação no Twitter classificando o documento de Temer como “a matriz de governo de Bolsonaro”.

Face às repercussões das suas declarações, Michel Temer tentou emendar a mão. Na entrevista seguinte, à Rádio Gaúcha tentou justificar defensivamente a utilização da palavra “golpe”: “quando digo que não sou a favor do golpe, é porque as pessoas o chamam de golpe”, acrescentando que “só seria golpe se a Constituição fosse golpista”.

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