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Suspeita de falsificação de relatórios nas centrais nucleares da Areva

Recentemente foram tornadas públicas suspeitas de falsificação de relatórios sobre a segurança das instalações das centrais nucleares do grupo francês Areva, um dos gigantes mundiais do setor que emprega mais de 40 mil pessoas na Europa, na América e em África. Por Rui Curado Silva.
A Areva está a construir os quatro primeiros reatores EPR: um em França (central de Flamanville, na imagem), outro na Finlândia e dois na China

Esses relatórios poderão esconder dados relativos a possíveis fissuras no recetáculo dos reatores nucleares, a câmara onde se encontram as barras de combustível e onde é desencadeado o processo de fissão nuclear. O anúncio foi feito pela própria empresa, após terem sido detetadas anomalias no processo de fabrico deste tipo de equipamento na sua fábrica de Creusot, onde foi montado o reator do EPR (European Pressurised Reactor) de Flamanville. O EPR é o chamado reator de terceira geração. Comparativamente aos reatores existentes, o EPR é equipado de um sistema de segurança reforçado que em teoria oferece mais garantias de resistir a sismos ou impactos exteriores e permite uma gestão mais eficiente do combustível, produzindo menor volume de resíduos radioativos e de resíduos de longa duração (mais de 200 mil anos até o nível de radioatividade deixar de ser nocivo). A Areva está a construir os quatro primeiros reatores EPR: um em França, outro na Finlândia e dois na China. Os prazos de abertura já foram ultrapassados nos três países, com atrasos compreendidos entre os três e os cinco anos. Na Finlândia e em França os orçamentos previstos já foram ultrapassados em vários milhares de milhões de euros, no caso francês os custos adicionais já superam o orçamento inicial em mais de 2/3. A EDF (Électricité de France) perde por cada ano de atraso entre 500 e 1.000 milhões de euros. O Estado Francês prepara-se para injetar este ano 7.000 milhões de euros no setor da energia (Areva e na EDF), dos quais 4.000 milhões euros servirão para salvar a Areva.

As referidas anomalias, foram descobertas quando engenheiros da Areva identificaram defeitos na composição do aço, cuja origem poderá estar em processos de fabrico aplicados desde 1965 na fundição de Creusot, entretanto adquirida pela Areva em 2006. Seguidamente, a Areva realizou uma auditoria à fábrica de Creusot, tendo sido detetadas disparidades entre os valores inscritos nos relatórios e os valores medidos nos testes de segurança dos componentes metálicos, nos casos em que as medidas apresentavam resultados fora das normas em vigor.

A Autoridade da Segurança Nuclear (Autorité de sûreté nucléaire) deu um prazo de duas semanas à Areva para avaliar as consequências das anomalias detetadas nas unidades francesas e também no material fornecido aos seus clientes estrangeiros.

Esta tecnologia baseada nos reatores EPR e as suas supostas vantagens, foram o argumento basilar de Patrick Monteiro de Barros quando em 2005 reuniu um conjunto de investidores para propor a construção de uma central nuclear de terceira geração em Portugal. O investidor principal do projeto, publicitado como muito credível, era o Banco Espírito Santo.

Nota:

Os dois reatores da Central Nuclear Almaraz foram construídos pela empresa pública americana Westinghouse Electric Corporation, extinta em 1999 após graves problemas financeiros resultantes de empréstimos e aplicações financeiras ruinosas.

Artigo de Rui Curado Silva para esquerda.net

Sobre o/a autor(a)

Investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra
Termos relacionados Almaraz - ameaça nuclear, Ambiente
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