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Sindicato dos Jornalistas não condena reportagem de Cymerman

A polémica reportagem dos “israelitas mortos e palestinianos abatidos”, emitida em dezembro pela SIC, motivou uma queixa do embaixador da Palestina. Mas o Conselho Deontológico do sindicato considera aquela linguagem apropriada.
Um exemplo de "linguagem consagrada no jornalismo e na política internacionalmente", segundo o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas

Na análise à queixa do embaixador da Palestina contra a reportagem da SIC emitida em dezembro – “A Nova Intifada entre Israel e Palestina” –, em que o jornalista Henrique Cymerman contrapunha os números de “israelitas mortos” com os de “palestinianos eliminados, abatidos”, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDSJ) concluiu que a linguagem de Cymerman “não pode ser condenada, nem considerada imprópria”.

A razão, alega o CDSJ, é que “expressões como as usadas pelo jornalista Henrique Cymerman se inserem numa linguagem internacional da comunicação social”. As semelhanças desta “linguagem internacional” com a propaganda de Israel não são abordadas nesta deliberação do Conselho, limitando-se a reconhecer que “é certo que esta linguagem pode ser questionada, mas ela faz parte da linguagem consagrada no jornalismo e na política internacionalmente”.

Na reportagem da SIC, Cymerman tratava da vaga de atentados protagonizados por jovens palestinianos com facas contra israelitas, contabilizando “mais de 230 atentados em dois meses, com 22 israelitas mortos, 250 feridos, e também com 100 palestinianos, pelo menos, agressores que foram eliminados, abatidos pelas forças de segurança”. As primeiras imagens da reportagem são uma encenação evidente destes ataques com facas, seguindo-se outras imagens reais, sem qualquer menção a destacá-lo ou a identificar a sua fonte.

Cymerman não responde sobre linguagem que usou nem sobre mistura de encenações com imagens reais

A deliberação publicada no site do Sindicato dos Jornalistas tem a data de 15 de fevereiro e é assinada pela sua presidente, São José Almeida. No texto pode ler-se a resposta de Henrique Cymerman às questões levantadas pelo CDSJ sobre as imagens encenadas e o uso da linguagem dos 'israelitas mortos e palestinianos abatidos', que deu origem à queixa do embaixador da Palestina e à polémica nas redes sociais.

Mas o jornalista nada respondeu sobre o uso daquela linguagem, preferindo alegar em seu abono os 20 anos de reportagens sobre Israel e a Palestina. Cymerman destaca uma delas, emitida dias antes da que originou a queixa, sobre radicais de extrema-direita que queimaram viva uma família palestiniana. O jornalista diz ter recebido protestos por email que apontavam o "caráter pró-palestiniano" dessa reportagem

Sobre a encenação da abertura da reportagem, com imagens filmadas de forma profissional a partir de várias perspetivas, incluindo a da própria faca em movimento enquanto é empunhada pelo ator/“agressor”, o jornalista dá uma explicação insólita: “Todas as imagens de ataques de jovens palestinianos na reportagem são filmadas por câmaras colocadas nas ruas pela polícia ou pela Câmara Municipal de Jerusalém”. Na deliberação, o CDSJ considera apenas que "estas imagens deviam estar identificadas na reportagem", como diz o Código Deontológico, não se referindo à encenação que abre a reportagem.

Henrique Cymerman afirma ainda que o embaixador da Palestina “deveria saber que colaboro regularmente com o governo da Autoridade Nacional Palestina e com o movimento político Fateh em diferentes causas relacionadas com a paz.” E destaca o seu trabalho na Oração pela paz no Vaticano que lhe valeu uma condecoração como “Anjo da Paz” pelo papa Francisco, após ter sido contratado pelo governo israelita para fazer várias reportagens sobre a visita do papa a Israel, com o objetivo de promover o país no mundo católico.

"Essa atividade, por mais digna e meritória, que seja, não o torna imune às críticas como jornalista", conclui o CDSJ na deliberação em que começa por destacar as "condicionantes" e "circunstâncias específicas" em que trabalha o jornalista correspondente da SIC em Israel.

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