“Sementeira é exemplo do que é política cultural e transformação”

08 de July 2022 - 21:13

Catarina Martins esteve esta sexta-feira em Viseu, na inauguração da 10.ª edição da Sementeira, que tem como mote “Arte, insubmissão e comunidade”. A coordenadora bloquista criticou a desvalorização a que a Cultura está sujeita em Portugal.

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Fotos de Mário Amaral.

A abertura oficial da 10.ª edição da Sementeira decorreu esta sexta-feira, pelas 18h, com a inauguração da exposição coletiva e um momento de poesia de Sílvia Duarte. Para o dia de hoje foi ainda organizado um Mercadinho de Artesanato e Arte a decorrer até às 22h, hora para a qual foi agendado o concerto de “Masena”.

Catarina Martins elogiou a iniciativa que, nestes dez anos de existência, “fez o que parecia impossível” e se tornou “exemplo do que é política cultural e transformação”.

“Aqui na Sementeira reúne-se toda a gente que quer dizer alguma coisa e que quer preencher as paredes de uma sede partidária com aquilo que pensa. E não é perguntado porquê, é simplesmente acolhido quem vem”, explicou a coordenadora do Bloco de Esquerda.

“Há tantas vezes a ideia de que a cultura há-de ter um filtro qualquer, ou alguém a escolher, ou um cérebro qualquer que há-de saber melhor o que os outros querem ver ou onde os artistas estarão bem. E aqui não há, e aqui se têm produzido resultados do ponto de vista artístico absolutamente fascinantes”, continuou Catarina.

“A arte é feita de massa crítica e de liberdade”, vincou a dirigente bloquista, avançando ainda que “uma sede partidária tem de ser uma galeria de arte também”.

E a Sementeira é um espaço onde as e os artistas “são respeitados, onde mostram o seu trabalho e são acolhidos”. “E isso é tão importante num país em que, infelizmente, há o provincianismo de se achar que o que vem com um carimbo qualquer de fora da nossa vila, da nossa cidade, de fora do nosso país, de fora de sabe-se lá o quê é que é algo de qualidade ou que respeita os artistas ou que lhes dá espaço, quando na verdade se prova que é o contrário”, apontou Catarina.

A coordenadora do Bloco referiu que “a Sementeira tem recebido cada vez mais coisas, e os artistas que expuseram pela primeira vez na Sementeira têm sido verdadeiramente semeados, como uma sementeira deve ser, e expõem por todo o lado”.

De acordo com Catarina, “a Cultura é algo de muito sério, é o que tem a capacidade de transformar de nos fazer olhar as coisas de uma outra forma”. É importante afirmar aqui que uma exposição “é um ato anti-capitalista e anti-patriarcal” e a Sementeira “fá-lo há dez anos como ninguém”, assinalou.

A dirigente bloquista lembrou ainda que há quem neste país defenda que “a política cultural é outra coisa, são os 0,25% do Orçamento do Estado”.

“Se nós acreditássemos nisso sabíamos que não havia política cultural, e há. A política cultural está no streaming que não paga aos artistas que passa, embora cobre dinheiro a quem vê para passar o que os artistas fazem. A política cultural está nas salas de cinema que foram fechadas por todo o país enquanto há o monopólio da NOS. A política cultural existe sim e mexe milhões. São os milhões que fazem de Portugal um dos países mais colonizados de toda a Europa. Um dos países onde se vê menos produção artística nacional e local. A política cultural existe sim e tira capacidade ao nosso país todos os dias e, por isso, a Sementeira é também uma afirmação da visibilidade do nosso país, da nossa capacidade de criar, de nos transformarmos”, afirmou Catarina.

Infelizmente, a desvalorização da Cultura “faz-se todos os dias. A desvalorização do interior e do país faz-se todos os dias nestes gestos que são decididos e que nos tiram capacidade de criação”, lamentou a dirigente bloquista.

Desde 2013, a sede do Bloco de Esquerda Viseu, situada em pleno coração do centro histórico, é solo fértil – de exposições, concertos; recitais, conversas e muito mais, aproveitando o grande fluxo de visitantes no Verão (nomeadamente durante os Jardins Efémeros) para dar a conhecer artistas e projectos criativos emergentes, sobretudo locais e regionais.

A Sementeira celebra agora uma década de vida com 37 artistas (entre estreantes e repetentes) em exposição, 10 concertos musicais, uma performance de poesia, conversas e uma feira de artistas.