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Segundo maior lago da Bolívia evaporou-se

O lago Poopó, na Bolívia, foi oficialmente declarado como evaporado estando agora reduzido a 2% da sua área anterior. Esta situação representa um grande desastre ambiental para muitas das espécies que ali viviam.
Encher o deserto será o "maior desafio", disse um membro do governo da Bolívia.

A evaporação do lago, o segundo maior do país e que nos anos 90 chegou a ter uma área superior a mil quilómetros quadrados e uma profundidade situada entre os 1,5 e os quatro metros, levou a que mais de duas centenas espécies animais que habitavam aquele ecossistema tenham desaparecido.

Todo o ecossistema está destruído. As pessoas migraram, os animais fugiram ou morreram e a fauna desapareceu.

O ornitólogo Carlos Caprilles disse ao jornal La Razón que cerca de 200 espécies de aves, peixes, mamíferos e répteis desapareceram o que aumenta o risco de extinção de algumas, nomeadamente três espécies de flamingos.

“Há 40 dias havia água e os flamingos estavam lá”, disse, por seu turno, à Reuters, no passado mês de dezembro, Valerio Calle Rojas, um dos 150 pescadores da comunidade Untavi.

A região do lago, que fica nas montanhas do Altiplano dos Andes bolivianos, no sudoeste do país, a 3821 metros de altitude, foi declarada pelo Governo "zona de desastre" em dezembro.

Neste momento, o antigo lago alberga maioritariamente carcaças de animais e barcos encalhados. Sobram três pequenas áreas húmidas, com menos de um quilómetro quadrado e apenas 30 centímetros de profundidade.

Apesar de não ter secado em apenas 40 dias, e estarmos perante um processo que demorou anos, esta tragédia teve impacto não só no ambiente mas também nas comunidades locais, que viviam maioritariamente à custa da exploração do lago. Cerca de 350 famílias, na maioria pescadores que viviam já em condições precárias, foram atingidas pelo desaparecimento do lago. Mas pelo menos 3250 receberam ajuda humanitária, de acordo o governador da região, segundo relata o jornal britânico Guardian.

Combinação irresponsável de fatores

De acordo com especialistas, este desastre foi fruto da combinação de vários motivos envolvendo a participação humana directa e indirecta, além de factores climáticos como o aquecimento global e o fenómeno cíclico El Niño.

A ação do homem foi determinante através da exploração mineira excessiva, desde os anos 80, e a contaminação da água pela agricultura.

A ação do homem foi determinante através da exploração mineira excessiva, desde os anos 80, e a contaminação da água pela agricultura.

O aquecimento global fez subir a temperatura no local em cerca de 1ºC nos últimos 30 anos, intensificando, desta forma, o derretimento dos glaciares dos Andes. Desta, forma, e à medida que vai desaparecendo esse gelo, também se evaporam as fontes de reabastecimento do lago. Por outro lado, o aumento da temperatura também fez com que o lago se evaporasse a um ritmo três vezes mais rápido.

Além destes fatores há ainda que ter em conta as secas que se acentuaram nas últimas décadas. As chuvas deixaram de vir com a regularidade necessária para assegurar a manutenção do equilíbrio do lago. Segundo um estudo publicado em 2013 pelo consórcio alemão Gitec Cobodes, ficou provado que para se manter tal equilíbrio, o lago precisaria de receber mais 161 mil milhões de litros de água além do que tinha vindo a receber.

Outra razão que contribuiu para o fim deste lago foi a crescente regularidade de catástrofes climatéricas como o El Niño.

Outra razão que contribuiu para o fim deste lago foi a crescente regularidade de catástrofes climatéricas como o El Niño.

“O fenómeno El Niño costumava aparecer de dez em dez anos”, disse Milton Perez, professor da Universidade Técnica de Oruro. Agora, “o fenómeno ocorre de três em três anos. Não há tempo suficiente para o lago recuperar e é cada vez pior”,sublinhou.

Recorde-se que a última grande crise, no final de 2014, levou à morte de milhares de peixes e forçou a deslocação de imensas espécies da fauna local.

Recuperação muito difícil

O governo boliviano já tornou público um plano de recuperação do lago orçado em três milhões de dólares, com o objetivo de reverter o desvio do rio Desaguadero. Este rio, que foi uma fonte abastecedora do lago durante décadas, foi impedido, nos anos 90, de atingir a bacia do Poopó, através da execução de um plano director em que foi privilegiado o lago Titicaca, o maior lago fechado da América do Sul, partilhado com o vizinho Peru, que possui uma área superior a 8000 quilómetros quadrados.

Desde 2002 que o lago Poopó era considerado um ecossistema de importância internacional, mas a falta de atenção das autoridades em relação à sua preserverção aliada à industria mineira, feita de forma irresponsável, deram um contributo decisivo para este desastre.

Acresce que a disponibilização de um fundo de 15 milhões de dólares criado na sequência de um acordo entre a Bolívia e a União Europeia em 2010, foi mal aplicado pelo presidente da Câmara da cidade de Oruro que foi mal aconselhdo e gastou o dinheiro em projetos sem sentido, segundo afirmações prestadas ao jornal La Razon pelo seu antecessor, Luis Aguilar.

Neste momento, já existe um conjunto de planos para recuperar toda a bacia hidrográfica do Poopó, no valor de 140 milhões de dólares, que incluem estações de tratamento de águas residuais e desassoreamento de vários rios.

A esperança em recuperar o lago é mínima, mas ainda assim o governo de Evo Morales e as autoridades de Oruro anunciaram esta semana medidas que incluem uma ajuda humanitária de 3,25 milhões de dólares e trabalho técnico sobre a água que pode chegar ao Poopó. Carlos Ortuñez, vice ministro dos Recursos Hídricos e Irrigação já admitiu que encher o deserto será o “maior desafio”.

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