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Seca deixa quatro milhões sem água na Cidade do Cabo

Seca extrema ameaça os quatro milhões de habitantes da Cidade do Cabo, na África do Sul. Estima-se que a partir de maio os hospitais sejam dos poucos edifícios com abastecimento. Esta poderá ser a primeira grande cidade a ficar sem água.
Seca deixa quatro milhões sem água na Cidade do Cabo
Foto de Tracey Adams/ANA

Dia Zero. É este o nome dado pelas autoridades municipais da Cidade do Cabo ao último dia da contagem decrescente para o esgotamento das reservas de água canalizada. As mais recentes estimativas apontam para que seja a 11 de maio que a capacidade média das barragens que fornecem água para a cidade venha a atingir os 13,5%. 

Nessa altura, os responsáveis municipais irão ter de cortar o abastecimento de água a cerca de 75% das habitações, forçando os cidadãos a entrar nas filas dos 200 postos de distribuição. O racionamento é de 25 litros por pessoa por dia. Para os postos de abastecimento serão destacados agentes da polícia e militares. Os únicos edifícios que continuarão a ter abastecimento de água serão aqueles considerados essenciais: hospitais, escolas e quartéis de bombeiros. A própria governadora da província onde se encontra a Cidade do Cabo, Helen Zille, afirma que a gestão deste processo será um “pesadelo logístico”. 

De forma a adiar ao máximo uma data que poucos consideram ser possível de evitar, as autoridades locais já proibiram os cidadãos de lavar os automóveis, encher piscinas e regar relvados. Os apelos oficiais pedem para que os consumos dos habitantes não ultrapassem os 50 litros diários. 

Mas os críticos apontam para o facto de estas medidas pouco significarem numa sociedade profundamente desigual. Nas townships, nos arredores da cidade, há cerca de um milhão de pessoas que vivem em enorme pobreza e para quem há muito o racionamento de água é uma realidade. 

Esta situação, porém, não é propriamente nova no país e não se cinge somente às townships. A África do Sul vive há três anos em clima de seca, onde os invernos não têm chuva e os verões atingem temperaturas bastante elevadas. De acordo com o Financial Times, as taxas de pluviosidade na Cidade do Cabo passaram de 500 para 153 milímetros em apenas três anos. Em declarações ao New York Times, Piotr Wolski, da Universidade da Cidade do Cabo, afirma que os “anos secos vão ser mais secos do que foram e os húmidos vão deixar de ser tão húmidos”. Este período de seca é a origem dos problemas com o abastecimento de água na cidade. Este é feito através de seis barragens, tornando a cidade extremamente vulnerável a períodos de pouca chuva. 

Num país com um cenário político altamente polarizado, a seca já faz parte dos debates a nível nacional. O Congresso Nacional Africano (ANC) acusa o município de má gestão. Por sua vez, a Aliança Democrática, que controla o município e a oposição a nível nacional, critica o Governo por não investir em infra-estruturas que permitam lidar com o problema da água na região. Recorde-se que o ANC está no centro de vários casos de corrupção que envolvem o Presidente Jacob Zuma, e que a AD viu-se envolvida num caso de corrupção que envolve Patricia de Lille, presidente da câmara da Cidade do Cabo.

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