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Schäuble quer aumentar a idade da reforma para os 70 anos

O patronato alemão quer aumentar a idade da reforma, a Comissão Europeia apoia essa posição e o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, declara que a idade de reforma deve passar para os 70 anos na Alemanha.
Schäuble procura uma viragem à direita da CDU

A idade da reforma e as pensões de reforma estão atualmente no centro do debate político na Alemanha. Com as alterações feitas no tempo da governação de Gerhard Schröder do SPD em 2005, a idade de reforma aumentou, aumentando de 65 a 67 anos, para o período entre 2005 e 2030.

Segundo uma sondagem da televisão pública ARD, divulgada recentemente, 57% das pessoas inquiridas considera que as pensões de reforma não estão seguras. Esta inquietação é maior entre as pessoas mais novas, com 62% dos jovens entre 18 e 25 anos a terem essa opinião. Segundo Romaric Godin, o envelhecimento da população é o “fundamento desta inquietação”. O Instituto alemão de estatística Destatis, aponta que em 2030 um terço dos alemães terá mais de 65 anos, um aumento significativo em relação à situação atual, em que a percentagem de pessoas com mais de 65 anos é de um quinto, cerca de 20%.

População alemã teme cair na pobreza, quando se reformar

Segundo as previsões da segurança social alemã, mais de 25 milhões de reformados correm o risco de ter uma pensão inferior ao limiar da pobreza em 2030. Para ter uma pensão mais elevada que o limiar da pobreza será preciso trabalhar 40 anos de forma ininterrupta e ter um salário superior a 2.097 euros por mês. Ora, o aumento da precariedade e do trabalho a tempo parcial, situação agravada com as mudanças de Schröder impostas em 2005, faz com que 15 milhões de pessoas, 38,3% do total dos assalariados não consigam atingir as condições mínimas para em 2030 terem uma pensão superior ao limiar de pobreza.

Patronato alemão ao ataque

“Para o patronato alemão, a solução está encontrada: é preciso trabalhar ainda mais tempo, suprimir a exceção dos 63 anos e aumentar a idade legal de reforma em 2030 para os 70 anos ou, pelo menos, “flexibilizá-la” de acordo com a evolução demográfica”, refere o jornalista do La Tribune.

A Comissão Europeia apoia o patronato alemão, assim como a OCDE.

No início da semana passada, Hors Seehofer, presidente da CSU e primeiro-ministro da Baviera, exigiu que a idade da reforma aumente para os 70 anos. Na passada quarta-feira, 20 de abril, o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, veio pronunciar-se no mesmo sentido.

Na passada sexta-feira, 22 de abril, Ingo Kramer, presidente da confederação do patronato alemão BDA, veio declarar que, se nada for feito, as quotizações para a segurança social de patrões e trabalhadores deverão aumentar em 60 mil milhões de euros. Alexander Erdland, presidente da confederação das seguradoras, veio declarar que “a idade da reforma já não corresponde a uma esperança de vida mais dinâmica”.

Romaric Godin assinala que o problema é mais complexo e que a esperança de vida é um conceito “cómodo” apenas para os que querem o aumento da idade da reforma, apontando, nomeadamente, que a esperança de vida é maior noutros países da Europa do que na Alemanha. O jornalista destaca sobretudo que os problemas da segurança social agravam-se com a diminuição da população ativa e com o aumento da precariedade.

Pressão da extrema-direita sobre o governo CDU/SPD

A tomada de posição de Schäuble e do presidente da CSU pelo aumento da idade de reforma é uma clara pressão de direita sobre o governo da coligação CDU/SPD. Angela Merkel tem procurado adiar o tema, tentando evitar a rotura na coligação governamental (CDU e SPD).

Schäuble procura uma viragem à direita da CDU, para manter a aliança com a CSU e disputar ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) o eleitorado que este partido vem ganhando à CDU, em diversas eleições realizadas recentemente

A razão desta preocupação de Merkel é que o SPD que está em queda vertiginosa nas sondagens, pelo que nem sequer quer ouvir falar no aumento da idade de reforma, temendo o seu desaparecimento do cenário político alemão. Em 2013, o SPD teve 29% e atualmente tem menos de 20% nas sondagens. Perante as declarações de Schäuble, Sigmar Gabriel, vice-chanceler, ministro da Economia e líder do SPD, afirmou que a proposta de aumento da idade de reforma era “cínica” e a defesa de uma “baixa encapotada das pensões de reforma”.

O jornalista questiona porque Schäuble parte ao ataque, assinalando que se trata de “razões políticas”. Angela Merkel parece definitivamente enfraquecida pela questão dos refugiados, todas as sondagens apontam para a queda não só do SPD, mas também da CDU (tem 33% nas sondagens e teve 37% em 2013). Schäuble procura uma viragem à direita da CDU, para manter a aliança com a CSU e disputar ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) o eleitorado que este partido vem ganhando à CDU, em diversas eleições realizadas recentemente.

“Ele [Schäuble] destila habilmente pequenas frases que provocam a cólera do SPD e embaraçam a chanceler. Agiu assim na questão grega e na dos refugiados, faz o mesmo atualmente na questão da idade de reforma”, realça Romaric Godin.

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