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“Saímos às ruas esta sexta-feira em defesa de vidas trans”

Hoje celebra-se o Dia da Visibilidade Trans, com marchas agendadas para Lisboa e Porto. Gil Ubaldo explica as motivações de quem volta a ocupar o espaço público e a contrariar a invisibilidade: “a luta que fazemos é por urgência - urgência de ver as nossas vidas asseguradas e dignificadas”.
Foto: PortugalGay.

“Em todos os aspetos das vidas trans, como o acesso ao trabalho, habitação, saúde e documentação, enfrentamos barreiras permanentes e estruturais que impedem tantes de nós de conseguir a satisfação das suas necessidades básicas”, explicou Gil ao Esquerda.net.

E é por isso que esta é uma luta “por urgência”: “urgência de ver as nossas vidas asseguradas e dignificadas”, apontou.

Gil referiu que hoje, mais uma vez, faz todo o sentido voltar a sair às ruas, “porque precisamos estar segures no espaço público e legal, em casa e na escola, no trabalho e em todo o lado”.

“É por isso que marchamos, por podermos viver uma vida sem medos, nas quais podemos almejar a mais que sobreviver”, continuou.

Em Lisboa, a Marcha pela Visibilidade Trans tem início às 17h30 na Alameda, rumando depois em direção ao Rossio. A iniciativa no Porto começa às 18h na Praça dos Poveiros, e segue depois para a Praça D. João I.

No Manifesto do Dia da Visibilidade Trans repudia-se um “sistema socioeconómico que coloca obstáculos entre nós, pessoas trans e não-bináries, e tudo aquilo que precisamos e queremos para viver e viver bem”. E assinala-se que saímos à rua para que sejam visíveis as violências e vulnerabilidades estruturais às quais somos sujeites, que denunciamos e combatemos”.

No documento é enfatizado que “combater a transfobia passa pela compreensão de que não somos iguais, não temos os mesmos corpos, sonhos e necessidades”. Bem como que “combater a transfobia é lutar contra uma sociedade profundamente racista e xenófoba, herdeira de séculos de colonialismo, cujas estruturas e vícios ainda hoje reinam, fazendo acrescer os obstáculos e violências sofridas por pessoas trans racializadas e imigrantes”.

“Lutamos pelo acesso à palavra e contra o silenciamento, lutamos pelo reconhecimento das nossas demandas básicas como reais e urgentes - desde o acesso à habitação, documentação, ao trabalho, à saúde, à segurança e ao afeto”, lê-se ainda no Manifesto.

Os inúmeros constrangimentos que as pessoas trans enfrentam no Serviço Nacional de Saúde são aqui destacados, nomeadamente no que respeita ao acesso aos serviços de prevenção do VIH, a consultas que não chegam, “para acesso a hormonas que adiam, para acesso a psicoterapia que nos negam, para cirurgias que também nunca chegam, que privatizam e nos endividam”.

Exige-se autodeterminação, e um serviço de saúde que não trate as pessoas trans como portadoras de uma patologia ou anormalidade. E denuncia-se a “discriminação social e a violência serofóbica que se prepetuam, nos acesso a cuidados de saúde, à educação, ao emprego”.

O “reconhecimento social, legal e jurídico de todas as pessoas não- binárias e o fim do policiamento do género, com retirada do marcador de género dos documentos de identificação”, a garantia da “segurança e autodeterminação das crianças trans” e a descriminalização do trabalho sexual são algumas das reivindicações plasmadas no documento.

“A luta por vidas trans é uma luta anticapitalista, por direitos laborais, pela dignificação no acesso ao trabalho, por melhores salários, por ter um contrato, pela valorização e remuneração do trabalho artístico, pela proteção legal e concreta de pessoas trans contra a discriminação laboral”, assinala-se.

A crise da habitação também merece destaque no documento, sabendo que a desproteção que as pessoas trans vivem relativamente à habitação é acentuada.

No final do Manifesto, que clama por novas escolhas políticas, é deixado um apelo à participação nas marchas do Dia da Visibilidade Trans.

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