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Rui Pinto assume ser o denunciante dos Luanda Leaks

Os advogados do denunciante do Football Leaks revelaram que foi Rui Pinto a entregar um disco rígido com os dados agora vindos a público. Para Catarina Martins, “é muito difícil compreender que se vá atrás do denunciante com tanta força” enquanto os crimes revelados ficam por investigar em Portugal.
Rui Pinto
Rui Pinto durante uma entrevista à Mediapart antes de ser extraditado para Portugal.

"Os advogados abaixo assinados declaram que o seu cliente, o Sr. Rui Pinto assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF), um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel dos Santos, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros”, refere uma nota de William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota, advogados do denunciante português preso desde março do ano passado em Lisboa.

William Bourdon é também o presidente da PPLAAF e já defendeu outros denunciantes, como Julian Assange ou Edward Snowden. No comunicado, os advogados dizem que Rui Pinto procurou “ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal”.

“Graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países”, acrescentam, sublinhando que Rui Pinto entregou os documentos à PPLAAF “no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania”, e “sem qualquer contrapartida”.

“Está feita a prova de que, sem as imensas revelações de Luanda Leaks, tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito”, afirmam ainda os advogados de Rui Pinto, acrescentando que “as decisões já tomadas pelo Banco de Portugal, PWC e outras que estão por vir demonstram a importância excecional das revelações de Luanda Leaks”.

Os advogado defendem também que as autoridades portuguesas devem fazer o mesmo que as angolanas e abrir investigações que permitam “recuperar elevadas somas de dinheiro”, embora reconheçam que “são as mesmas autoridades portuguesas que mantêm Rui Pinto na prisão há quase um ano, sob o pretexto de uma tentativa de extorsão, e que, até este momento, apenas pediram a sua colaboração com o exclusivo intuito de o autoincriminar”.

Catarina Martins: “É muito difícil compreender que se vá atrás do denunciante com tanta força”

Em entrevista ao Porto Canal este fim de semana, a coordenadora do Bloco falou dos Luanda Leaks, mas também dos Football Leaks, também denunciados por Rui Pinto, criticando que exista quase “uma exceção de Estado de direito no futebol português”.

“Em primeiro lugar, as responsabilidades que Rui Pinto tenha tido devem ter o seu julgamento próprio, como é óbvio. Nós já tivemos denunciantes no passado que fizeram grandes fugas de informação de uma forma altruísta pelo interesse público e há outros casos em que há crime por trás e, portanto, não há esse altruísmo. O Ministério Público português tem de fazer esse trabalho”, defendeu Catarina Martins.

Outra coisa “é saber o que é que se faz com a informação vinda deste processo”, prosseguiu Catarina, defendendo que  a justiça “tem de investigar e tem de perceber o que lá está”. Para a coordenadora do Bloco, “é muito difícil compreender que se vá atrás do denunciante com tanta força” enquanto os crimes revelados ficam por investigar. “A justiça tem de investigar as informações que tem, todas elas”, resumiu.

E há ainda um terceiro aspeto “que inquina normalmente este debate”, acrescentou Catarina: o das paixões futebolísticas, em que “as pessoas acham que têm de estar de acordo ou contra de acordo com o seu clube de futebol”, levando a que exista “quase uma exceção de Estado de direito no futebol português, em todos os clubes, que não pode mais existir. Não só sobre crimes que têm a ver com crime económico, [mas também] com questões de violência”, concluiu.

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