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Rosario Ibarra (1927-2022)

Faleceu este sábado a ativista mexicana que lutou durante décadas contra a impunidade da repressão e organizou familiares de desaparecidos, tornando-se a primeira mulher candidata às presidenciais do país.
Rosario Ibarra homenageada em Culiacán em 2011. Foto Ayuntamiento Culiacán/Flickr

"Má notícia: morreu Rosario Ibarra de Piedra, que sempre nos lembrará do amor mais profundo pelas crianças e da solidariedade com aqueles que sofrem com o desaparecimento de seus entes queridos”, afirmou nas redes sociais o presidente mexicano López Obrador. Por duas vezes Rosario Ibarra concorreu à presidência pelo Partido Revolucionário dos Trabalhadores: primeiro em 1982, obtendo 1,77% dos votos,  e seis anos depois, quando obteve 0,39% numa contagem contestada por toda a oposição.

Rosario Ibarra dedicou toda a sua vida à luta pela democracia no México, com a Comissão Nacional de Direitos Humanos a considerá-la uma ”pioneira na defesa dos direitos humanos, da paz e da democracia no México". Foi em 1975, após a detenção e  desaparecimento do seu filho Jesus, acusado de pertencer à organização armada Liga Comunista 23 de Setembro, que Rosario deu início ao percurso ativista em defesa dos presos e desaparecidos durante a “guerra suja” do regime nos anos 1960 e 70. Fundou o Comité Eureka!, que ajudou a encontrar com vida cerca de 150 pessoas desaparecidas, mas até à data da sua morte nunca soube o que aconteceu ao seu filho.

A luta pela verdade e contra a repressão política passou por manifestações e greves de fome e em 1978 resultou numa lei da amnistia que permitiu libertar 1.500 presos políticos e o regresso de milhares de exilados. Pelo seu trabalho em prol das famílias dos desaparecidos, Ibarra foi por quatro vezes candidata ao Prémio Nobel da Paz.

No final dos anos 1980, Rosario Ibarra aproximou-se do PRD de Cuauhtémoc Cárdenas, o principal candidato da oposição nas eleições fraudulentas de 1986, tornando-se senadora por esse partido, trocando-o depois pelo Partido do Trabalho. E o seu ativismo estendeu-se ao apoio a outras lutas, como a dos zapatistas e das comunidades indígenas de Chiapas, a denúncia das mulheres assassinadas em Ciudad Juaréz, causas ambientalistas e dos direitos das mulheres e LGBTQI+.

Em 2019, Rosario Ibarra foi galardoada com a condecoração mais importante do seu país pelo seu percurso em defesa dos presos, exilados e desaparecidos. Mas recusou aceitar a medalha Belisario Domínguez das mãos do presidente López Obrador até que este lhe trouxesse novidades sobre o paradeiro do seu filho desaparecido.

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