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Rivais de centro-direita preparam acordo de governo na Irlanda

Os partidos que têm dominado a política irlandesa assinam esta terça-feira um acordo que prevê mais gastos em habitação social e infraestruturas. O Sinn Féin, que venceu as eleições, avisa que Fianna Fail e Fine Gael tentam “ludibriar” os eleitores, fazendo crer que vão implementar políticas de esquerda.
Conferência de imprensa do primeiro-ministro da Irlanda em funções, Leo Varadkar. Foto de LEON FARRELL/Pool/Lusa.
Conferência de imprensa do primeiro-ministro da Irlanda em funções, Leo Varadkar. Foto de LEON FARRELL/Pool/Lusa.

As eleições do passado oito fevereiro abalaram o sistema político irlandês que estava ancorado na alternância de poder entre . A vitória do Sinn Féin baralhou definitivamente as contas do costume aos dois partidos de centro-direita.

Apesar de tudo, a esquerda irlandesa ficou, por muito pouco, aquém de conseguir uma maioria de governo. De lá para cá, as negociações para a formação de um novo governo têm-se arrastado. O Sinn Féin queria um “governo de mudança” que nenhum dos dois partidos de poder queria ou podia assegurar. Fianna Fail e Fine Gael estavam renitentes em entrar num acordo que abrisse espaço para que o maior partido da esquerda irlandesa se passasse a assumir como a principal oposição no país.

Esta terça-feira, este impasse deve chegar ao fim. Está marcada uma reunião para a assinatura de um acordo de governo entre Fianna Fail e Fine Gael que terá ainda de atrair mais oito deputados, entre partidos e independentes. O problema era que uma plataforma política vinda destes dois partidos à partida dificilmente conseguiria seduzir quer os Verdes, o Labour ou os Sociais Democratas.

O país atravessa a crise provocada pelo novo coronavírus com um governo provisório de poderes limitados, liderado por Leo Varadkar, do Fine Gael. Micheal Martin do Fianna Fail juntar-se-á a este na assinatura de um documento no qual se promete uma receita diferente do que tem sido o chamado modelo liberal irlandês: aumento de investimento em infraestruturas e mais gastos na construção de habitações sociais que implicarão endividamento e aumento de impostos, excluindo os impostos sobre rendimentos. Uma receita que, dizem os seus autores, deve ser “bastante convidativa” para os renitentes partidos de esquerda.

Esta declaração e os pormenores do acordo foram cuidadosamente revelados ao Irish Times. Para além das medidas para lidar com a Covid-19, a prioridade será dada a um novo “contrato social”. Nele se inclui a perspetiva de um salário nacional baseado nas condições de vida, uma ideia que vai além da de um salário mínimo pelo seu valor ser calculado através das necessidades sociais. A diminuição das emissões de carbono do Estado é outra das medidas propostas. Ambas sem valores concretos.

Sinn Féin, da memória da revolta da Páscoa ao “governo de mudança”

A dirigente do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, fez uma intervenção pública para lembrar a revolta da Páscoa contra o poder britânico em 1916 e que resultou em 485 mortos, muitos dos quais executados, e cerca de 3500 presos. McDonald afirmou que o seu partido está “orgulhoso de se manter na tradição revolucionária” de então.

A dirigente republicana fez ainda uma ponte entre o heroísmo dessa geração e aquele que os trabalhadores e as comunidades revelam hoje em dia no combate à Covid-19. Sublinhou que “sociedade desiguais são sociedades vulneráveis, economicamente e socialmente” e que a “solidariedade é a resposta”, sendo “os serviços públicos a pedra de toque de uma sociedade decente”. E assegurou que “quem realmente mantém a nossa economia e sociedade a funcionar não são os bancos ou os fundos de investimento ou a indústria dos seguros ou os capitalistas-abutres” mas os trabalhadores e cuidadores, muitos dos quais, sendo “trabalhadores essenciais recebem o um salário desgraçadamente muito baixo.”

Sobre a situação política e a formação de um novo governo, McDonald recordou os “enormes ganhos” eleitorais do Sinn Féin que defendeu “uma visão de mudança política, económica e social.” Foi essa mudança, apoiada por vários outros partidos, que recebeu a confiança dos eleitores. Uma mudança que permita ter casa, “se capaz de pagar a renda”, de “ir ao médico quando se está doente”, de ter cuidados infantis, de garantir uma pensão aos 65 anos, de responder à justiça climática, de ter uma Irlanda unida.

Para McDonald, os dois partidos da direita irlandesa estão a bloquear esta mudança. O seu acordo é “sobre poder” e para “deitar abaixo a mudança que recebeu um mandato do povo” de forma a continuar a “governar no interesse dos de cima”. Os projetos avançados servem “para tentar ludibriar o povo para que este acredite que vão implementar as nossas políticas”. Deixando o aviso que “não se pode pode confiar neles” para o fazer.

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