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Repórteres sem Fronteiras denuncia ameaças à liberdade de imprensa na Europa

Jornalista grego assassinado na semana passada foi a quarta vítima mortal nos últimos cinco anos na Europa. A ONG defende que “é vital que a Europa cumpra as suas responsabilidades e melhore a proteção de todos os jornalistas”.
Foto de Eric Constantineau, Flickr.

As preocupações crescentes sobre o declínio da liberdade de imprensa em vários Estados membros da União Europeia reforçaram-se com o assassinato de Giorgos Karaivaz. O jornalista foi atingido por pelo menos seis tiros de uma pistola 9 mm disparada pelo passageiro de uma moto do lado de fora de sua casa, em Atenas. Ainda que a polícia grega não tenha confirmado até ao momento que Karaivaz foi morto por causa do seu trabalho, já avançou que se trata de uma execução. E o facto de o jornalista estar a investigar o crime organizado levanta suspeitas de que a sua atividade esteja relacionada com o crime.

O assassinato de Karaivaz aconteceu cinco anos após a jornalista de investigação Daphne Caruana Galizia ter sido assassinada por um carro-bomba em Malta. Sete homens admitiram ou foram acusados do assassinato de Galizia, que investigava corrupção política, lavagem de dinheiro e crime organizado, mas ainda não está claro quem está por trás da sua morte.

Em 2018, Ján Kuciak e a sua noiva, Martina Kušnírová, foram encontrados mortos a tiro à porta da sua casa, na Eslováquia. Um ex-soldado foi condenado pela morte de Kuciak, cujo trabalho versava sobre fraudes fiscais de empresários ligados a importantes políticos eslovacos, e da sua noiva. No entanto, o suposto autor moral, Marián Kočner, foi absolvido. O veredito está em recurso.

Já em 2019, a jornalista Lyra McKee foi morta a tiros enquanto cobria tumultos em Derry, no Norte da Irlanda. Paul McIntyre foi acusado do seu assassinato, bem como de incêndio criminoso e sequestro. McIntyre nega as acusações.

“É um quadro preocupante”, disse Pavol Szalai, chefe da seção UE / Balcãs da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). “A Europa continua a ser o lugar mais seguro do mundo para ser jornalista, mas as pressões sobre a liberdade de imprensa - e os riscos - estão a aumentar”, continuou Szalai, citado pelo Guardian.

A RSF denuncia um declínio no Estado de Direito, um aumento nos ataques violentos e um aumento nas ameaças online como algumas das principais preocupações para a liberdade dos meios de comunicação na Europa. E assinala, particularmente, o “ataque sofisticado e metodológico à liberdade de imprensa” na Hungria, que está a inspirar táticas semelhantes na Polónia e na Eslovénia.

Hungria é “um contra-modelo” para a liberdade de imprensa na Europa

A Hungria é, de acordo com Szalai, “um contra-modelo” para a liberdade de imprensa na Europa. O presidente Viktor Orbán serve-se da pandemia para assumir plenos poderes. Qualquer pessoa condenada por publicar “notícias falsas” pode agora ser condenada a uma pena de prisão de até cinco anos. A medida dá às autoridades mais um meio para pressionar os media independentes, escreveu a RSF no seu relatório de 2020.

A organização descreveu ainda uma verdadeira “cruzada das autoridades contra os meios de comunicação” em países do sul da Europa como a Bulgária, Montenegro e a Albânia, com jornalistas críticos das autoridades suspensos, detidos e perseguidos.

Na Europa Ocidental, a RSF está mais alarmada com o aumento dos casos de violência contra jornalistas durante as manifestações e em países como Alemanha, França, Espanha e Grécia. Na França, vários jornalistas foram espancados e atingidos por granadas de gás lacrimogéneo disparadas pela polícia, e outros foram atacados por manifestantes furiosos. Em países como Espanha e Grécia, apoiantes de grupos de extrema direita agrediram violentamente jornalistas.

“Essa também é uma tendência de preocupação crescente - violência contra jornalistas e prisões arbitrárias”, disse Szalai. A organização lista ainda ameaças online, como assédio e vigilância do estado, como prejudiciais ao trabalho dos jornalistas em todo o continente, mesmo em países onde a liberdade é tida em alta conta.

“Assassinar um jornalista é um ato desprezível e covarde”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na sua conta de Twitter, na semana passada. “A Europa representa a liberdade. E a liberdade de imprensa pode ser a mais sagrada de todas. Os jornalistas devem ser capazes de trabalhar com segurança”.

“A UE pediu que as liberdades dos media sejam fortalecidas”, referiu Szalai. “Mas Orbán em particular não foi impedido de restringir a liberdade de imprensa”, continuou.

O representante da RSF defendeu que “é vital que a Europa cumpra as suas responsabilidades e melhore a proteção de todos os jornalistas”.

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