Rede de notícias falsas chega a Portugal

21 de October 2018 - 11:46

Segundo o DN, num texto assinado por Paulo Pena, há vários sites sediados no Canadá que alojam fake news sobre a política portuguesa. Uma vez criadas, são divulgadas por vários grupos no Facebook com milhares de seguidores. A partir daí, viralizam. No centro das notícias falsas, está o site Direita Política, de João Pedro Rosas Fernandes.

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Na Itália e na Alemanha, as notícias falsas já são crime. Neste momento, decorrem investigações sobre interferências concretas nas eleições brasileiras, já que há empresas que patrocinam redes de fake news pró-Bolsonaro no WhatsApp.
Na Itália e na Alemanha, as notícias falsas já são crime. Neste momento, decorrem investigações sobre interferências concretas nas eleições brasileiras, já que há empresas que patrocinam redes de fake news pró-Bolsonaro no WhatsApp.

Uma das imagens que circularam rapidamente nas redes sociais tem Catarina Martins com um círculo desenhado à volta do pulso. A imagem diz que Catarina tem no pulso esquerdo um relógio de luxo suíço com o valor de 20,9 milhões de euros e a frase: “A maior fraude da política portuguesa depois de António Costa.” O relógio não se vê e, apesar de o Bloco dizer que a notícia é “absolutamente falsa”, a primeira publicação da imagem no Facebook resultou em 875 partilhas.

A réplica nas redes sociais tem sido o meio de propagação de notícias falsas. São rápidas, universais e gratuitas. O DN descobriu vários sites portugueses que publicam este tipo de conteúdos, todos sediados no Canadá. Partilham o mesmo IP, e o jornal encontrou uma empresa especializada em “criação e manutenção de sites, reestruturação de site já existente, desenvolvimento de páginas num ambiente profissional e atraente, otimização para motores de busca: Search Engine Marketing (SEM) e Search Engine Optimization (SEO), criação de imagens e banners, criação e manutenção de páginas em redes sociais”. Chama-se Forsaken e o seu dono também apoia Trump e Bolsonaro. Foi, por exemplo, ali que foi criada a imagem de Catarina com a mentira ao lado, servida como verdade perante milhares.

O mesmo mal já atingiu o Brasil, já que circulou também uma imagem com Fernando Haddad. A marca do relógio era a mesma, o preço igual, mas convertido para reais.

Em Portugal, a imagem foi publicada no site Direita Política. Perante a mentira, Catarina Martins fez queixa da página. “A informação de que Catarina Martins usaria um relógio de 22 milhões de euros, além de absurda, era objetivamente falsa. Por ser falso o conteúdo e difamatória a sua reprodução, a conta foi imediatamente denunciada”, afirma o Bloco.

O DN nota ainda que muitos utilizadores das redes sociais não têm preocupação com o que separa as notícias das alegações falsas, abrindo caminho às campanhas baseadas em mentiras.

Através do IP de Direita Política, o DN chegou ao seu registo no Canadá, em H3E Montreal, Quebec, na empresa iWeb Technologies. O mesmo IP é partilhado por sites como A Voz da Razão, Não Queremos Um Governo de Esquerda em Portugal, Vídeo Divertido e Aceleras. Em Santo Tirso, a empresa de informática Forsaken também partilha o mesmo IP.

Criada em 2014, a empresa tem apenas um nome: João Pedro Rosas Fernandes. O DN descobriu que todos os sites e grupos de notícias falsas estão ligados ao Portugal na Web, referido num site chamado Vídeo Divertido, cujo dono é João Fernandes.

De acordo com o mesmo jornal, João Fernandes justifica a proliferação de mentiras com as suas convições: “Descontente com a falta de contraditório que existia na comunicação social”, resolveu criar esta página política, “mas também de divulgação de atos de corrupção”. Na sua opinião, apesar de divulgar mentiras, nada disto merece o nome de “notícias falsas”: “É comum sempre que divulgamos alguma notícia sobre alguma figura pública que está envolvida em corrupção aparecerem algumas pessoas nas redes sociais a tentar desmentir os factos, dizendo que são fake news. Fazem o mesmo em todos os jornais online. Relativamente a isso não dou qualquer importância. É possível que aconteça termos uma notícia que não seja 100% precisa”.

Ao DN, afirmou ainda ser um apoiante de Trump e de Bolsonaro, “não só pelos seus ideais mas sobretudo por lutarem contra o politicamente correto e contra os interesses instalados”.

Na Itália e na Alemanha, as notícias falsas já são crime. Neste momento, decorrem investigações sobre interferências concretas nas eleições brasileiras, já que há empresas que patrocinam redes de fake news pró-Bolsonaro no WhatsApp.